Em nome do suposto combate ao comunismo, manifestações populares levaram o país ao Golpe Militar de 1964
Uma série de manifestações públicas começaram a surgir no dia 19 de março de 1964, depois que o deputado federal de São Paulo, Antônio Silvio Cunha Bueno, idealizou a Marcha da Família com Deus pela Liberdade como uma forma de reação conservadora apoiando alguns idealizadores do golpe militar que estava por vir.
Setores conservadores da sociedade e militares não gostaram nada das medidas do então presidente brasileiro João Goulart, taxado de comunista pelos opositores. Jango assinou dois decretos de desapropriação de terras e transferiu o controle de cinco refinarias de petróleo para as mãos da União.
João Goulart também era um defensor da chamada justiça social, e aprovou uma série de reformas administrativas, agrárias, tributárias e financeiras que beneficiavam as classes mais baixas da sociedade.
Taxando as grandes fortunas, João Goulart foi logo recebido como um apoiador de regimes comunistas e, especialmente em um contexto de Guerra Fria, os oposicionistas viam em Jango uma suposta ameaça comunista que seria implementada no país.
Cunha Bueno, idealizador da Marcha, pediu apoio de empresários e do vice-governador paulista, Laudo Natel. O governador de São Paulo, Ademar de Barros, pediu para que a Força Pública (que hoje conhecemos como Polícia Militar) acompanhasse os manifestantes e garantisse o andamento do evento.
A Igreja Católica do Brasil apoiou em partes as marchas, principalmente depois de Goulart afirmou que “não é com Rosários que se combatem as reformas”, em uma crítica ao movimento religioso que se opunha aos supostos ideias comunistas do presidente — historicamente, os socialistas perseguiram a fé católica, e vice-versa.
Tanto que, originalmente, a passeata se chamaria Marcha de Desagravo ao Santo Rosário, mas isso faria com que somente cristãos se identificasse, e, nesse momento, eles precisavam do apoio do maior número de pessoas para depor o governo do presidente.
A falta de liderança feminina fez com que os organizadores da marcha tivessem que se virar para fazer com que as mulheres se sentissem representadas no movimento. Ademar de Barros usou sua mulher, Leonor Mendes de Barros, como representante do mesmo nas convocações para o evento.
Além disso, o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, ofereceu cursos para mulheres onde elas recebiam verdadeiras aulas de como ensinar as famílias a respeito da união e importância do núcleo parental na ação contra o comunismo. Esse ensinamento deveria ser passado para outras mães e mulheres de famílias amigas.
Nas manifestações eram diversas as faixas com palavras de ordem, muitas, inclusive, brincavam com a ameaça comunista tendo a cor vermelha e as cores presentes na bandeira da nação brasileira. “Vermelho bom, só o batom”, “Um, dois, três, Jango no Xadrez”, "Verde e amarelo, sem foice nem martelo" e "Abaixo os imperialistas vermelhos" eram frases comumente vistas pelas ruas.
A primeira das marchas, ocorrida em São Paulo, terminou na Praça da Sé, onde um palanque fora montado e Leonor de Barros hasteou a bandeira do Brasil. Figuras importantes da política nacional da época estavam presentes e discursaram durante o evento, tais como o próprio Cunha Bueno, o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Ciro Albuquerque e figuras como Carlos Lacerda, governador do estado da Guanabara, e Hebe Camargo.
A marcha ainda foi realizada em outras cidades, principalmente pelo interior de São Paulo. Em Santos, por exemplo, 80 mil pessoas saíram às ruas para pedir o fim do governo de João Goulart. Em outros estados, como no Paraná, a passeata também se fez presente, ocorrendo ao total 49 delas ao redor do país.
Em 2 de abril de 1964, dois dias após a tomada dos militares no golpe de estado de 31 de março, há exatos 59 anos, a chamada Marcha da Vitória foi organizada no Rio de Janeiro — local da capital brasileira até então. O evento serviu de comemoração a deposição de Goulart.