A interiorização da capital do Brasil ocorreu durante o governo de JK, mas o projeto percorre a história brasileira; entenda!
Em 2 de maio de 1960, o deputado Ranieri Mazzilli (PSD-SP) começou os trabalhos da Casa como então presidente da Câmara em sua mais nova sede, com a conclusão das obras de Brasília, cidade que havia sido inaugurada naquele ano.
Depois de apenas quatro anos de obras, estava ali, erguida, a nova capital do Brasil, sob a promessa ambiciosa de Juscelino Kubitschek e seu famoso lema de fazer o país crescer "50 anos em 5" durante seu governo.
Embora o Plano de Metas de Kubitschek contasse com uma série de objetivos para cumprir seu pacto eleitoral, a construção de Brasília sempre foi a prioridade do presidente, que contou com o projeto dos renomados arquitetos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.
Juscelino foi quem executou o plano de levantar uma capital do completo zero — mas a verdade é que a ideia já percorria a história do Brasil desde os tempos de D. Pedro I e demorou anos para sair do papel.
Salvador foi a primeira capital do país, posto passado para o Rio de Janeiro em 1763. A Cidade Maravilhosa ostentou essa colocação até 1960, quando Brasília foi inaugurada.
"A ideia de interiorizar o Brasil vinha de um projeto pensado desde a colonização", explica o historiador Osvaldo Munteal Filho, autor de 'A Imprensa na História do Brasil: Fotojornalismo no Século XX' (2005).
Mas Brasília não seria possível fora do contexto nacional-desenvolvimentista, que começa com Vargas, em 1930, e só se encerra em 1964. É o símbolo de uma proposta que incluía o estabelecimento de comunicação com estados antes isolados", ressalta.
Como destaca a Agência Câmara em reportagem, a construção de Brasília só aconteceu graças à ousadia de JK e da resolução do Congresso Nacional, que queriam transformar o Brasil, já que estávamos quase que restritos à nossa faixa litorânea para desenvolvimento.
Mas a ideia era antiga e havia surgido pela primeira vez em 1808, com a mudança de D. João VI e a corte portuguesa para o Brasil, enquanto fugiam de Napoleão Bonaparte. A alegação da época era que o Rio não poderia ser a capital do Reino de Portugal por ser apenas uma simples cidade colonial.
Além disso, argumentava-se que por ser uma cidade costeira, o Rio estaria mais vulnerável a ataques estrangeiros pelo mar, segundo ressaltou a Agência Senado. Foram destacados uma série de incidentes envolvendo navios inimigos na região.
Foi em 17 de abril de 1823, com a Primeira Sessão Preparatória da Assembleia Geral, Constituinte e Legislativa do Império, que o estadista José Bonifácio de Andrada e Silva propôs a mudança da capital, com a especificidade da interiorização.
Conhecido como "Patriarca da Independência" após 1822, ele apresentou um documento aos deputados paulistas que propunha uma nova capital no Planalto Central que seria batizada de Petrópole em homenagem a D. Pedro I.
"Como essa cidade deve ficar equidistante dos limites do Império tanto em latitude como em longitude, vai-se abrir, por meio das estradas que devem sair desse centro como raios para as diversas províncias, uma comunicação e decerto criar comércio interno da maior magnitude. Vai-se chamar para as províncias do sertão o excesso da povoação sem emprego das cidades marítimas e mercantis", escreveu na proposta.
A tese da mudança da capital, porém, não foi mencionada pela Constituição de 1824, outorgada por D. Pedro I, que dissolveu a primeira Assembleia Constituinte. O assunto acabou morrendo com o tempo, mas nunca desaparecendo por completo.
Com a República, a Constituição promulgada em 1891 passou a incluir o seguinte artigo: "Fica pertencendo à União, no planalto central da República, uma zona de 14.400 quilômetros quadrados, que será oportunamente demarcada para nela estabelecer-se a futura capital federal".
Muitos anos depois, após inúmeros obstáculos políticos, econômicos e de prioridades que acabaram por atrasar um projeto que era pensado há pelo menos 150 anos, Brasília foi anunciada durante a campanha à presidência de Juscelino Kubitschek e erguida, com uma promessa cumprida depois de tanta espera.