Experimentos realizados nas Ilhas Marshall foram responsáveis por afetar muito além dos seres humanos
No dia 6 de agosto de 1945, a primeira bomba nuclear da história, a Little Boy, foi lançada na cidade japonesa de Hiroshima. O ataque matou cerca de 140 mil pessoas, sendo mais de 90% delas civis não combatentes. Conforme explica matéria publicada pela equipe do site do Aventuras na História, estima-se que metade das vítimas morreram no momento da explosão.
Três dias depois, a Fat Man foi jogada sobre Nagasaki, deixando a cidade completamente destruída. Juntas, estimam-se que os dois ataques podem ter vitimado até 246 mil pessoas — não contando apenas as que morreram no momento da explosão, mas também aquelas que sofreram com a radiação ao longo dos anos.
Outro evento histórico que também envolve centenas de pessoas morrendo em decorrência da radiação nuclear foi a catástrofe da Usina Nuclear de Chernobyl, que completou 35 anos nos últimos dias.
Como explica matéria publicada pela equipe do site do Aventuras na História, o total de mortes é muito controverso e difícil de ser quantificado. Segundo dados oficiais, 31 bombeiros e funcionários da usina, que trabalhavam na contenção do fogo, morreram de exposição aguda à radiação.
Além disso, acredita-se que mais 246 trabalhadores faleceram entre 1991 e 1998, em decorrência de doenças circulatórias e leucemia. Quanto ao resto da população afetada, há outra divergência: enquanto relatórios das Nações Unidas estimam que 4 mil pessoas morreram devido à exposição, ONGs como o Greenpeace falam em 200 mil pessoas.
Além das perdas humanas, a radiação nuclear também pode afetar nossa sociedade de muitas outras maneiras. Segundo estudo publicado no final de abril na Nature Communications, o mel produzido pelas abelhas nos Estados Unidos, por exemplo, se tornou radioativos por décadas — e ainda estão — devido aos efeitos causados por testes nucleares.
Durante o século 20, cinco países testaram mais de 500 armas nucleares no ar, que, juntas, liberaram muito mais radiação ionizante para a atmosfera do que qualquer outro evento ou combinação de eventos na história humana, segundo aponta estudo publicado na National Library of Medicine.
A maioria dessas armas foi detonada em apenas alguns locais no hemisfério norte; as Ilhas Marshall, no Oceano Pacífico (EUA), e o arquipélago de Nova Zembla, que ficava na antiga União Soviética, por exemplo, sediaram mais de 75% da produção de energia de todos os testes, de acordo com artigo do American Scientist.
Muitas das detonações de ar foram tão poderosas que dezenas de produtos de fissão radioativa foram injetados na estratosfera e distribuídos globalmente. Para mostrar esse impacto, pesquisadores da William & Mary University, da Virgínea e da University of Maryland Center for Environmental Science, de Maryland — ambas nos Estados Unidos — decidiram analisar a qualidade do mel produzida por lá.
Para isso, os pesquisadores coletaram amostras de mel de mais de 100 colmeias e amostras de solo de 110 locais em todo o leste dos EUA. Assim, os cientistas encontraram níveis elevados de césio tanto no solo quanto nas amostras de mel.
“Embora a maior parte da radiação produzida pela detonação de uma arma nuclear decaia nos primeiros dias, um dos produtos de fissão mais duradouros e abundantes é o [césio], que tem meia-vida radioativa de 30,2 anos”, explica um trecho do estudo.
Vale ressaltar que, pesquisas desse tipo não são inéditas, mas ainda assim servem para alertar sobre os danos que a radiação pode causar na natureza. Após o desastre de Chernobyl, por exemplo, um outro levantamento também mostrou níveis elevados de césio no mel e no pólen encontrados na Europa.
Apesar disso, segundo os pesquisadores, a maior parte desse mel é, provavelmente, segura para consumo, já que os níveis de concentração encontrados no mel estão abaixo do limite alimentar de preocupação permitido por muitos países.
“O leste da América do Norte recebeu uma precipitação desproporcionalmente alta dos testes de armas nucleares dos anos 1950 a 1960, apesar de estar relativamente longe dos locais de detonação”, diz trecho do estudo. A maior parte dos resíduos se dissipou rapidamente, mas o césio aderiu e se infiltrou no solo, onde sua estrutura química, que é semelhante ao potássio, o tornou atraente para as plantas — que absorveram tanto dele que acabaram ‘transmitindo’ o material para o pólen.
Apesar desse mel ser seguro para o consumo humano, o mesmo não pode ser dito para as abelhas que o geram. “Nos últimos cinco anos, tornou-se claro que os insetos sofrem consequências negativas significativas em taxas de dose de radiação que antes eram consideradas seguras, mas o limite em que os danos ocorrem é debatido”, diz a pesquisa.
“Alguns estudos indicam que os baixos níveis de poluição [de césio] podem ser letais para os insetos polinizadores e que qualquer aumento acima do fundo causa danos mensuráveis aos ecossistemas circundantes”, conclui.
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