Entre 1946 e 1948, pesquisadores dos Estados Unidos realizaram cruéis experimentos sem qualquer autorização das cobaias
Em meados de 1928, o microbiólogo britânico Alexander Fleming fez uma descoberta que mudaria o rumo da medicina mundial. Junto de Ernst Boris Chain e Howard Walter Florey, o cientista descobriu a benzilpenicilina, ou penicilina G.
Pela inovação, Fleming recebeu um Prêmio Nobel de Medicina e ainda ficou marcado na história como descobridor do primeiro antibiótico amplamente utilizado. Anos mais tarde, o fármaco passou a ser disponibilizado para uso, a partir de 1941.
Considerada inovadora, a Penicilina, no entanto, passou a ser usada como desculpa para diversos testes desumanos. Foi o caso de uma série de pesquisas realizadas pelo Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos, entre 1946 e 1948, segundo o The Guardian.
Quando a ética fica para trás
Tudo começou quando os cientistas norte-americanos questionaram a eficácia do antibiótico em casos de doenças sexualmente transmissíveis. Em parceria com a Repartição Sanitária Pan-Americana e várias agências do governo da Guatemala, então, eles iniciaram dezenas de testes que, hoje, são considerados altamente antiéticos.
Em resumo, os pesquisadores queriam descobrir se a Penicilina tinha a capacidade de prevenir infecções em pessoas expostas à sífilis, gonorreia ou cancroide. Cerca de 1.300 soldados, prostitutas, prisioneiros e pacientes com doenças mentais foram testados.
O problema é que, segundo relatório da Comissão Presidencial para o Estudo de Questões Bioéticas publicado em 2011, as cobaias recebiam injeções das doenças deliberadamente, mas sem que elas dessem qualquer autorização prévia para tal.
Direitos humanos em segundo plano
Tendo revisitado todas as práticas referentes aos testes, a comissão norte-americana ficou indignada com a falta de ética dos médicos na época. Para o painel, os experimentos da Guatemala podem ser considerados um dos episódios mais sombrios da história da pesquisa médica nos Estados Unidos.
"Os pesquisadores colocaram seu próprio avanço médico em primeiro lugar e a decência humana em segundo", explicou Anita Allen, membro da Comissão, em meados de 2011. Dessa forma, os estudos foram considerados antiéticos até mesmo para a época.
Em matéria de comparação, os membros da comissão observaram um experimento de 1943, no qual presidiários foram infectados com gonorreia em Indiana. Durante a pesquisa, os pacientes eram voluntários, recebiam informações sobre os testes e ainda deram seu consentimento — direitos que não foram garantidos na Guatemala.
Desrespeito e negligência
A pior parte de todos os experimentos liderados por Dr. John Cutler na Guatemala foi que, aparentemente, os testes não trouxeram qualquer conclusão médica útil. Em contrapartida, mais de 700 pessoas infectadas sequer receberam tratamentos contra as doenças injetadas pelos pesquisadores.
No relatório divulgado em 2011, a Comissão Presidencial ainda afirmou que alguns dos testes eram mais desumanos do que se imaginava. Em um dos exames, por exemplo, sete mulheres com epilepsia foram injetadas com sífilis na parte de trás do crânio.
O procedimento altamente arriscado resultou em sete casos de meningite bacteriana — provavelmente causada pelas injeções não esterilizadas. Por mais que as mulheres tenham sido tratadas, a negligência por parte dos cientistas ficou clara neste caso.
Os testes em outra paciente com sífilis, que ainda tinha uma doença terminal não revelada, também chamaram atenção. Na época, médicos a infectaram com gonorreia nos olhos para saber qual seria a reação de seu corpo. Ela morreu seis meses depois.
Sem humanidade
Segundo o relatório de 2011, ainda que testes em cobaias humanas fossem comuns na década de 1940, as pesquisas na Guatemala são bastante revoltantes. Para a Dra. Amy Gutmann, chefe da comissão, o caso da mulher infectada com gonorreia é assustador.
Todos os experimentos permaneceram escondidos por décadas, sem que qualquer profissional soubesse de sua existência. As pesquisas só vieram à tona quando um historiador do Wellesley College descobriu registros do Dr. John Cutler, em 2010.
Naquele mesmo ano, logo após ser notificado sobre os testes, Barack Obama, então presidente dos Estados Unidos, pediu desculpas ao presidente da Guatemala, Alvaro Colom. O pedido, todavia, foi apenas uma pequena retratação após décadas de silêncio.
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