Durante a Guerra Fria, o cientista soviético foi responsável por diversos avanços da medicina, a partir de experimentos em cães
Vladimir Demikhov foi um cientista soviético, considerado o pioneiro no transplante de órgãos, entre 1930 e 1950. Em busca de avanços médicos, o especialista foi o responsável por fazer experiências bizarras em animais, o que o levou a ser intensamente criticado e acusado de maus tratos.
Em 1937, o russo desenvolveu o primeiro coração artificial que foi implantado com sucesso em um cachorro. Embora o animal tenha vivido por apenas duas horas após a cirurgia, o experimento foi considerado uma grande conquista, pois até aquele momento, nada parecido havia sido executado.
Ao longo da Guerra Fria, no desejo insaciável de provar a supremacia científica, a União Soviética financiou experiências aterrorizantes. Com o discurso que estes estudos serviriam para aperfeiçoar técnicas médicas no transplante de órgãos em humanos, Demikhov obteve ajuda e incentivo do governo para realizar suas brutais experiências em animais domésticos.
Em 1946, realizou o primeiro transplante cardíaco e de pulmão. Um ano depois, Demikhov passou a trabalhar no Instituto de Cirurgia de Moscou, onde começou a estudar o transplante de fígado e rim.
Na década seguinte, o cientista aprimorou suas pesquisas e técnicas experimentais, realizando, com sucesso, um transplante de coração ortotópico isolado em um cão, em 1951. Um dos animais que recebeu o órgão sobreviveu por mais de sete anos após a operação.
Em 1953, uma anastomose mamária foi alcançada com sucesso e, a partir disso, desenvolveu os princípios de revascularização do miocárdio. O principal objetivo de Demikhov era que suas técnicas clínicas fossem utilizadas, mais tarde, para salvar vidas humanas.
Em 11 de abril de 1959, Demikhov chocou a imprensa internacional ao revelar que havia realizado um transplante inusitado: implantou a cabeça de um cachorro filhote no corpo de um pastor alemão.
Com um estado de saúde aparentemente estável, o animal chamado de Pirat (pirata, em russo), sobreviveu por volta de três semanas com duas cabeças híbridas. O cachorro foi exposto a diversos estímulos e reagiu a todos de forma diferente, dadas as circunstâncias.
Embora o caso tenha ficado conhecido internacionalmente em 1959, acredita-se que os experimentos tenham começado cinco anos antes, sob a supervisão do governo soviético, até que anos mais tarde o primeiro transplante de cabeça deu certo.
Embora Vladimir Demikhov tenha sido duramente criticado pelos defensores dos Direitos dos Animais, o cientista entrou para a história da medicina, pois a partir de suas bizarras experiências, as práticas científicas começaram a ganhar força e a serem disseminadas.
Sua contribuição para a medicina é inestimável e permitiu expandir conhecimentos sobre técnicas de transplantes em humanos. Em 1998, Vladimir Demikhov foi contemplado com a Ordem por serviços prestados ao País, de Terceira Classe. No entanto, no mesmo ano, veio a falecer aos 82 anos.