Em 1985, a fabricante de refrigerantes mudou a fórmula pela primeira vez, em 99 anos, de seu principal produto. No entanto, o consumidor não gostou muito disso
Para muitos o almoço de domingo entre familiares nunca estará completo sem aquela boa e velha Coca-Cola bem geladinha para compartilhar os momentos de união. Já virou uma tradição na mesa não só dos brasileiros como na de pessoas ao redor do mundo.
O poder que a Coca-Cola tem no mercado de bebidas é tão importante que a empresa até mesmo ajudou a popularizar a imagem do Papai Noel, como mostra matéria publicada pela equipe do site do Aventuras na História.
A companhia é tão importante dentro da indústria, que cada um de seus novos lançamentos mexe com o mercado de maneira inimaginável. No entanto, nem sempre foi assim. Não só de sucesso e acertos foi feita uma das maiores fabricantes de bebidas do mundo.
Muito pelo contrário, a empresa já teve erros tão crassos que ela mesmo explica que especialistas consideraram “o maior erro de marketing do século”. E não é exagero nenhum autodenominar assim o que aconteceu naquele 23 de abril de 1985. Conheça a curiosa história do New Coke.
Nos anos 1980 a Coca-Cola já era uma empresa bem situada no mercado, tanto é que, segundo o site da companhia, o ano de 1985 marcava os 15 anos em que as ações da The Coca-Cola Company eram maiores do que sua principal concorrente.
Mesmo o carro chefe da empresa sendo preferência, ela não era absoluta. A data da mudança coincide com o “Desafio Pepsi”, conforme aponta matéria do Mundo Marketing.
No ano anterior, em 1984, a concorrente da Coca-Cola havia lançado a campanha “The Choice of a New Generation” (ou, “A Escolha da Nova Geração”, em tradução livre), que perguntava aos jovens americanos se eles gostariam mesmo de passar suas vidas bebendo o mesmo refrigerante que seus pais.
Obviamente a maioria das respostas foram negativas e o “Desafio Pepsi” surgiu com o intuito das pessoas serem desafiadas a provarem um novo sabor de refrigerantes.
A The Coca-Cola Company lançou um novo sabor de refrigerante, chamado de New Coke. Com um gosto um pouco mais doce, o produto representava a primeira mudança na receita em 99 anos.
No início, até a New Coke que teve uma boa aceitação, não era para menos, afinal, segundo o site da Coca-Cola Brasil, a nova fórmula foi aprovada em testes com cerca de 200 mil consumidores.
Tinha tudo para ser um sucesso de vendas, com exceção de que o público pensava que aquele seria apenas um novo produto e não que a receita original estava sendo substituída.
Quando público descobriu essa alteração, aí sim as coisas ficaram se complicaram. Para se ter ideia, conforme aponta o site da Coca-Cola Brasil, antes da alteração o SAC da empresa chegava a receber 400 ligações por dia.
Depois dela, esse número mais que triplicou, chegando a cerca de 1.500 chamadas por dia. A irritação pela mudança era tão grande que o consumidor passou a descontar sua raiva em qualquer pessoa que estivesse ligada à companhia.
E quando digo qualquer pessoa é qualquer pessoa mesmo, desde seguranças da sede até outros funcionários que não tinham a menor responsabilidade pela alteração. Tudo se tornou uma loucura.
Obviamente, a alta cúpula da Coca-Cola não saiu ilesa. O diretor e presidente Roberto Goizueta, certa vez, chegou a receber uma carta endereçada “ao Presidente dos Paspalhos, The Coca Cola Company”, aponta o site da empresa.
Em outra ocasião, um consumidor chegou a lhe pedir um autógrafo, afinal, num futuro, aquela assinatura poderia valer milhões, já que ela pertenceria a “um dos executivos mais burros na história empresarial dos Estados Unidos".
Como se não bastasse, o surto ficou maior quando os consumidores passaram a estocar em suas casas, nos porões, litros e mais litros do refrigerante. Um dos casos mais emblemáticos, apontado pelo site da empresa, foi de um morador de San Antonio, no Texas, que foi de carro até a fábrica mais próxima da Coca-Cola e comprou mil dólares da bebida.
Até mesmo um grupo de protestos, chamado de Sociedade Americana pela Preservação da Autenticidade e Bebedores da Boa e Velha Coca-Cola, foi criado. Eles reuniram mais de 100 mil seguidores, como relata a Coca-Cola Brasil, em uma carreata pela volta do sabor tradicional.
“A intenção era transformar a dinâmica do mercado de refrigerantes sabor cola nos Estados Unidos, e foi isso o que fizemos, ainda que o plano não tenha saído como esperávamos”, explicou Roberto Goizueta, então diretor e presidente da companhia, durante um evento em 1995. “Mas o maior efeito da New Coke, sem dúvida, foi enviar uma mensagem extremamente poderosa. A mensagem de que realmente estávamos dispostos a fazer o que fosse necessário para nossos consumidores, verdadeiros donos da marca”.
Cerca de três meses depois, em julho de 1985, a empresa obviamente entendeu seu erro e anunciou que a boa e velha Coca-Cola voltaria às prateleiras como “Coca-Cola Classic”. A notícia estampou a primeira página dos principais jornais dos Estados Unidos, como mostra artigo da Time.
Nos dois dias seguintes, o SAC da empresa voltou a receber uma enxurrada de ligações. Desta vez, os mais de 31,6 mil telefonemas — segundo dados da própria empresa — foram para mostrar toda a satisfação com a decisão.
Apesar das reclamações, a New Coke ainda continuou sendo vendida, embora hoje não mais, por um bom tempo. Com o slogan “Entre nessa onda”, a campanha de marketing da empresa convidava o público a dar uma outra chance ao novo sabor.
Já a Coca-Cola Classic apelava para o lado afetivo com a frase “Vermelho, branco e você”, firmando a lealdade que os fãs do refrigerante têm com o sabor original.