O sistema de Louis Braille permite que pessoas com deficiência visual possam ler e escrever há mais de 160 anos
Larissa Lopes, com supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 12/02/2021, às 09h09 - Atualizado em 22/07/2022, às 11h00
O hábito de ler e escrever, tão necessário ao ser humano, nem sempre atendeu a todas as pessoas. Além disso, a escola não tinha recursos para ensinar da mesma forma alunos videntes - termo usado para pessoas que enxergam - e alunos cegos.
O primeiro passo na história para contemplar as pessoas com deficiência visual, no âmbito acadêmico, foi dado pelo francês Valentin Hauy. Ele fora responsável pela criação, em 1785, da primeira escola para cegos do mundo, o Instituto Real de Jovens Cegos de Paris.
Para ele, a instituição deveria alfabetizar, de fato, as pessoas cegas. Contudo, não foi Hauy que revolucionou a forma como os cegos escreveriam. Esse papel ficou para Louis Braille.
O gênio nasceu em 1809, em uma cidade próxima a Paris, e perdeu sua visão aos cinco anos de idade. Um acidente dois anos antes fez com que Braille ferisse o olho esquerdo com um objeto pontiagudo, ao brincar na oficina de arreios e selas do pai.
A infecção do olho esquerdo se espalhou para o direito e ele ficou totalmente cego. Mesmo com a deficiência visual, Louis frequentou uma escola comum, isto é, que não separa crianças com visão normal das que são cegas.
Nesta escola, o garoto se destacou nos estudos e, em 1819, aos 10 anos, conquistou uma bolsa para estudar na escola de Hauy - a pioneira. Naquela época, o fundador da instituição já tinha desenvolvido um sistema de leitura para cegos, mas a identificação das letras era muito complexa.
Com o objetivo de melhorar o método, o jovem Braille partiu para a elaboração de outro sistema. Aos 16 anos, ele apresentou sua criação: a “célula braille”. O instrumento continha seis pontos em relevo dispostos em duas colunas de três.
A ideia dele era possibilitar diferentes combinações, desde letras do alfabeto até números e sinais de pontuação.
Depois, já no cargo de professor auxiliar na mesma escola, Louis mostrou como o método funcionaria na prática. Cinco anos depois, o sistema de escrita tátil foi adotado para todos os alunos do instituto.
Contudo, Braille só teve o reconhecimento oficial de sua criação depois da morte. Ele faleceu aos 43 anos, em 6 de janeiro de 1852, vítima de tuberculose. A partir daí, os franceses inauguraram uma campanha para tornar a invenção oficial também na Europa.
Já no Brasil, o método - que levou o nome de seu criador - foi estabelecido no ano de 1854, a partir da criação do Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro. A instituição era o antigo Imperial Instituto dos Meninos Cegos.
Desde o ano de 2004, o braille é um direito de todos os cidadãos brasileiros, medida que entrou em vigor graças ao decreto nº 5.296, durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Hoje, a linguagem desenvolvida por Louis Braille é utilizada tanto por pessoas cegas, quanto por aquelas que têm baixa visão. A escrita em braille é obrigatória em elevadores, caixas de remédio e outros indicadores.
Curiosidade
Foi em 1951 que a Unesco elaborou um código oficial do braille e criou o Conselho Mundial do Braille - hoje um comitê da União Mundial de Cegos. Um século depois de sua morte, em 1952, Louis Braille foi reconhecido mundialmente, e seu corpo foi transferido para o Panthéon, em Paris.