Grande representante do neoclassicismo, Jacques-Louis David estava numa fase de paz e amor quando criou a pintura
Quando Jacques-Louis David decidiu retratar o mito fundador de Roma, foi na contramão. Vários pintores e escultores já haviam retratado o rapto das sabinas — quando os primeiros romanos haveriam sequestrado as mulheres de uma tribo vizinha, os sabinos, para iniciar o povoamento da cidade.
Ele preferiu retratar a intervenção das sabinas — quando essas mesmas mulheres impediram a vingança de seus pais e irmãos contra os romanos. Com a paz, os sabinos passariam a coabitar Roma com os latinos, os romanos originais. Eles seriam ancestrais de várias famílias nobres da cidade.
O pintor havia se envolvido intimamente com a Revolução Francesa. Mais que isso, amigo de Robespierre e outros jacobinos linha-dura, seria um dos responsáveis pelo período do Terror. David foi um dos que assinaram a condenação de Maria Antonieta.
Em 1795, quando Robespierre foi preso, por pouco escapou de ser guilhotinado junto com o líder radical. Foi da cadeia que ele teve a ideia do quadro que retrata o apaziguamento. Mas o inquieto artista não conseguiria ficar longe da encrenca por muito tempo: ele se tornaria amigo de Napoleão Bonaparte. Duas das imagens mais célebres do tirano — no cavalo e com a mão dentro da camisa — seriam pintadas por ele.
Titus Tatius era o rei dos cures, uma tribo de sabinos — povo que falava uma língua próxima ao latim e acabaria incorporado totalmente pelos romanos. Sua invasão teria sido provavelmente o fim do futuro império, não fosse pela intercessão das mulheres. No fim, ele acabou reinando junto com Rômulo por cinco anos, até ser assassinado por uma tribo rival.
Nenhum registro menciona estupros. As mulheres raptadas se casaram com os romanos voluntariamente, sob a promessa de um status superior, podendo ser donas de propriedade. Hersilia, filha do rei dos sabinos, casou-se com Rômulo. Ela e as outras mulheres sabinas acabaram com a guerra colocando a si próprias e seus filhos entre os combatentes, perguntando “Como poderemos viver sem nossos maridos e pais?”
Rômulo nasceu em Alba Longa, o primeiro assentamento dos latinos, filho da vestal Reia Sílvia e, segundo as lendas, do deus Marte. Após conturbada infância, acabou por matar seu irmão Remo, com quem fundou Roma, e reinou sozinho. Como a cidade cresceu com refugiados e imigrantes homens, ele teve a ideia de sequestrar as mulheres dos sabinos, que vivam ao norte dali.
A loba, um dos símbolos de Roma, teria amamentado Rômulo e Remo após serem abandonados na natureza — sua mãe era vestal, sacerdotisa que havia feito votos de castidade, e filha de um rei deposto. Essa história, e até a existência de ambos, possivelmente é mito. O nome Rômulo é derivado de Roma, e não o contrário, como os romanos acreditavam.