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Matérias / Primeira Guerra Mundial

Identidade de soldado morto na Primeira Guerra é desvendada após mais de 20 anos

Arqueólogo inglês conseguiu identificar restos mortais de soldado morto na Primeira Guerra Mundial encontrados há duas décadas

Éric Moreira
por Éric Moreira

Publicado em 15/08/2024, às 11h20

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Botões encontrados em uniforme de soldado americano, e Charles McAllister - Divulgação/Jay Silverstein / Cortesia da família McAllister via Jay Silverstein
Botões encontrados em uniforme de soldado americano, e Charles McAllister - Divulgação/Jay Silverstein / Cortesia da família McAllister via Jay Silverstein

No dia 18 de julho de 1918, ocorreu em Aisne-Marne, no norte da França, a contraofensiva franco-americana contra os alemães da Primeira Guerra Mundial. Na ocasião, a primeira divisão da Força Expedicionária Americana (AEF) conseguiu, com sucesso, fazer as tropas alemães recuarem, mas ainda assim sofreram perdas consideráveis, com mais de mil soldados americanos sendo considerados desaparecidos.

No entanto, 85 anos depois desse episódio, em 2003, arqueólogos da França encontraram, durante escavações onde seria o centro do campo de batalha, os restos mortais de dois soldados americanos. Um deles, Francis Lupo, foi facilmente identificado, pois ainda havia seu nome gravado em sua carteira; já a identidade do outro permaneceu um mistério até recentemente.

Após os restos mortais serem descobertos, eles foram encaminhados, em 2004, ao Laboratório Central de Identificação do exército dos Estados Unidos. Na época, foi impossível descobrir a identidade do segundo homem; mas o arqueólogo forense Jay Silverstein, que analisou os restos mortais, reabriu o caso anos depois e finalmente conseguiu descobrir quem era: o soldado Charles McAllister.

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Investigação

Em artigo publicado no The Conversation, Silverstein descreveu todo o processo pelo qual precisou passar para identificar aqueles restos mortais. "Para gerar a seleção de nomes, primeiro procurei o local e a hora de sua morte", escreve o arqueólogo forense.

Eu sabia quando o soldado Francis Lupo [o primeiro identificado] havia morrido e, como eles estavam enterrados na mesma sepultura sem identificação, era fácil presumir que também Charles teria falecido na mesma época – em torno de 21 de julho de 1918 – e mais ou menos no mesmo local", continua.

Então, a partir de mapas militares da campanha, Silverstein conseguiu relacionar os achados às forças dos EUA que avançavam por ali, o que lhe permitiu descobrir quais regimentos estavam nas proximidades — o que reduziu a lista de possibilidades para "apenas" algumas centenas de pessoas desaparecidas.

As pistas mais importantes que o arqueólogo encontrou foram dois botões do uniforme daquele homem, um com a inscrição “WA” e o outro com um “2” e um “D” divididos por dois rifles cruzados. Isso significava que aquele soldado era membro da guarda nacional do Estado de Washington, 2º regimento, companhia D, antes de esse grupo ser incluído à AEF.

Além disso, também havia uma medalha concedida por uma campanha contra o México em 1916, e Silverstein localizou nomes de membros do 2º Regimento que foram considerados desaparecidos na França. Com isso, a identidade daqueles restos mortais foi reduzida a apenas quatro possibilidades, que o arqueólogo buscou mais informações no Centro Nacional de Registros de Pessoal, do exército americano.

Medalha pela campanha no México recebida por Charles McAllister / Crédito: Cortesia da família McAllister via Jay Silverstein

Com os documentos em mãos, finalmente começaram as análises forenses mais objetivas, que buscaram corresponder os restos mortais aos registros dos soldados. E foi apenas um homem que corresponda com a estatura de 1,60 m do esqueleto: o soldado Charles McAllister. Isso sem mencionar que sua ficha também informava outros detalhes que correspondia, como a ausência do primeiro e do segundo molares nos lados esquerdo e direito da mandíbula, e presença dos sisos.

Sepultamento

Após chegar a um nome, Jay Silverstein realizou um trabalho genealógico e encontrou um membro da família de Charles McAllister em Montana: Beverly Dillon, sua sobrinha-neta. Dela, ele ainda coletou DNA mitocondrial — material genético separado do DNA nuclear, que é herdado somente do lado materno —, que se mostrou compatível com o do soldado McAllister.

Além disso, para ter ainda mais confirmação, também foi coletado DNA nuclear do cromossomo Y de um membro masculino da família, que confirmou, definitivamente, a identidade de Charles McAllister. Agora, mais de 100 anos após sua morte, ele finalmente poderá ser enterrado com honras militares em sua cidade natal, Seattle; o sepultamento será realizado no dia 21 de agosto.