"Ernesto era como um Cristo, com olhos fortes, barba e cabelos compridos. Era muito milagroso", afirmou uma enfermeira local que cuidou do cadáver do líder comunista
Na cidade de Vallegrande, com apenas 7 mil habitantes, foi enterrada uma das figuras mais controversas da História. Mais de 40 anos atrás, o corpo de Ernesto "Che" Guevara ficou em exposição, de olhos abertos, na lavanderia do hospital local. E sua presença ainda é uma força viva para a população, que vem cultuando o grande guerrilheiro como um santo que opera milagres.
A lenda começou imediatamente após sua execução. A enfermeira Susana Osinaga, que limpou o cadáver de Guevara, lembrou como os habitantes viam uma semelhança física entre Guevara e Jesus. Segundo ela, em entrevista ao jornal The Guardian em 2007, "Ernesto era como um Cristo, com olhos fortes, barba e cabelos compridos. Era muito milagroso".
Segundo Jon Lee Anderson, autor de Che Guevara: Uma Vida Revolucionária, a semelhança entre Guevara e Jesus foi reafirmada por muitas mulheres de Vallegrande, levando-as a arrancar sorrateiramente cachos de seus longos cabelos e mantê-los em casa para dar boa sorte.
"É como se o morto Guevara olhasse para seus assassinos e perdoasse a eles e ao mundo, proclamando que quem morre por uma ideia está além do sofrimento", afirmou Jorge G. Castañeda, autor de Compañero: A vida e a morte de Che Guevara, sobre o cadáver do guerrilheiro.
Manifestações locais
Nos anos noventa, quando repórteres retornaram à Bolívia para registrar o trigésimo aniversário da morte de Che, a canonização do guerrilheiro por camponeses locais começou a ser observada. Chamado de San Ernesto de La Higuera, o líder era visto como um amigo e cultuado como a Virgem Maria.
No 40º aniversário de sua morte, em 2007, fotografias de Che eram vistas ao lado de imagens de Jesus, da Virgem Maria e do papa João Paulo II. Histórias milagrosas se multiplicavam, e alguns camponeses acreditavam que, caso sussurrassem o nome de Che Guevara para o céu ou acendessem uma vela em sua homenagem, poderiam encontrar algum animal perdido.
“Temos fé, confiança em Che. Quando vou para a cama e acordo, oro primeiro a Deus e depois oro a Che - e então está tudo bem”, afirmou na época o morador Freddy Vallejos. “A presença de Che aqui é uma força positiva. Sinto isso na minha pele, tenho fé de que sempre, em todos os momentos, ele está de olho em nós”.
O hospital onde o cadáver do guerrilheiro foi exibido se tornou local de peregrinação, com mensagens de devoção esculpidas nas paredes e visitantes sempre admirados. E a cidade de Vallegrande permanece com devotos fiéis à imagem de Guevara.
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