Buscando o desligamento completo da colonização britânica, o episódio sangrento foi comemorado por milhares nas ruas
Às 6h30 da manhã de 14 de julho de 1958, uma nova era iniciava para a nação iraquiana; a notícia quente era o fim da monarquia no Iraque, anunciada pelo próprio general Abdel Salam Aref na Rádio Bagdá.
Porém, o anúncio era acompanhado de uma operação sangrenta, que concretizava o início da república de maneira chocante.
O episódio iniciou na noite anterior, quando um grupo de rebeldes invadiu o Palácio Rihab com tiros, rendendo o então rei Faisal II junto ao tio Abdal Ilah, e conduziu outros membros da família real para o pátio do edifício. Apesar de convencidos que, com a rendição, teriam a possibilidade de fugir para exílio, a surpresa ocorreu ainda na invasão.
Uma sequência de disparos executou todos os membros restantes da monarquia, com exceção da princesa Hiyam, que havia conseguido reentrar no palácio durante o ataque a tiros. Era o fim de uma era que perdurava desde a independência do país pelo Reino Unido, em 1932, como explica a Deutsche Welle.
Se engana que imagina que a invasão foi apenas ao palácio. Rebeldes invadiram pouco antes a casa do então primeiro-ministro Nuri al-Said — que conseguiu fugir ao atravessar o Rio Tigre, mas foi reconhecido e linchado por protestantes em uma rua até a morte.
O objetivo era limpar qualquer influência diplomática estrangeira, de maneira mais abrupta que a revolução egípcia, feita quatro anos antes.
A associação do primeiro ministro com o antigo país colonizador ainda revoltava a população pela pobreza incompatível com a extração de petróleo no país.
A morte de Nuri também era comemorada pelo afastamento ao Pacto de Bagdá, por ele assinado junto aos ingleses e estadunidenses. O rei Faisal II também apoiava o pacto, irritando os interesses do povo.
Além disso, sua chegava ao trono foi alçada por uma linhagem proporcionada pelos britânicos ao libertar o país da colonização. Sem os dois expoentes, o domínio era passado para o novo presidente, Muhammad Najib ar-Ruba'i, e ao novo primeiro-ministro Abd al-Karim Qasim.
Apesar da instauração ser articulada como uma ação militar, os militares que assumiram o governo tiveram dificuldade para realizar a adaptação nos anos seguintes.
Em menor número comparado a revolução do Egito, a organização e ação sociais do novo governo não obtiveram o mesmo êxito, com Qasim sendo derrubado pouco depois e substituído por Abdel Salam Aref.
Além disso, a referência no golpe egípcio não foi suficiente para convencer o país a unir forças e, juntamente da Síria, se afastou diplomaticamente da nova república. A aliança com a Jordânia e o Pacto de Bagdá, formados antes da tomada militar, também foi abandonada.
A duração do período de república se restringiu a apenas dez anos, visto que uma nova revolução foi instaurada em 17 de julho de 1968, quando o partido Baathista, de Saddam Hussein, foi responsável por tomar o poder — e por lá ficar até a invasão dos EUA ao país em 2003.