História do Mundo em Seis Copos, de Tom Standage apresenta uma proposta diferente em dividir a História conforme a bebida preferida de cada período
Idade da Pedra, Idade do Bronze e Idade do Ferro são divisões de períodos históricos criadas por arqueólogos, que se basearam no impacto na vida dos seres humanos que utilizaram esses materiais ao longo dos séculos. No entanto, há outra classificação histórica pouco conhecida: a era das bebidas.
Na obra História do Mundo em Seis Copos, do editor da revista britânica The Economist, Tom Standage, o jornalista inglês propõe uma classificação dos períodos históricos a partir de determinadas bebidas. Em seu livro, o autor revela como a cerveja foi decisiva para o desenvolvimento da agricultura e da escrita.
Segundo o escritor, há aproximadamente 5.500 anos, quando o Oriente Médio ainda estava entrando na Idade do Bronze, as civilizações daquela região estavam em plena Era da Cerveja.
O surgimento do vinho
Alguns milênios mais tarde, o vinho esteve intimamente ligado ao desenvolvimento da filosofia grega, como aponta Tom Standage.
“As bebidas tiveram uma conexão com o fluxo da história bem maior do que geralmente se reconhece”, afirma o autor. “Elas sobrevivem em nossas casas como lembranças vivas de eras passadas, testamentos líquidos das forças que moldaram o mundo moderno.”
O vinho teria surgido entre 9000 e 4000 a.C. na região de Zagros (atuais Armênia e Irã). Os povos antigos faziam suco de uva amassando os grãos e em seguida guardavam o líquido em recipientes de cerâmica. Pouco tempo depois, o suco fermentava e se transformava na bebida que até hoje é muito apreciada.
Acredita-se que a filosofia, a política, a ciência e a poesia da Grécia Antiga, que até hoje servem de base para o pensamento ocidental, provavelmente, não teriam ido tão longe sem a existência do vinho. Segundo a obra de Standage, era esta bebida que ditava o ritmo nos simpósios — festas em que os participantes partilhavam uma grande taça de vinho diluído.
Sabe-se que durante os debates regados de muita bebida, os pensadores antigos tentavam superar um ao outro por meio da inteligência. O filósofo gregoPlatão dizia que o vinho era uma ótima maneira de testar o caráter de um homem, submetendo-o às paixões despertadas pela bebida — como a raiva, o amor e a ambição.
Quando a expansão da cultura grega chegou à Sicília e à ponta da bota da Itália, essas regiões foram chamadas, na época, de Oenotri, a terra dos vinhos. Mais tarde, esta bebida tornou-se um dos principais produtos de exportação da Grécia Antiga.
A raspadinha de vinho
Quando o verão chegava, para refrescar, o vinho era misturado à neve que havia sido guardada durante o inverno. Para que ela não derretesse, era empacotada com palha e mantida em buracos no solo.
De acordo Standage, com os gregos e os romanos tomavam vinho misturado com água. Beber vinho puro era considerado primitivo. O hábito foi trazido ao Brasil por imigrantes italianos nas primeiras décadas do século 20, mas o suco de vinho não fez tanto sucesso.
Outra curiosidade: um jogo grego chamado kottabos consistia em arremessar os últimos goles de vinho de uma taça em direção a um alvo — que podia ser ou uma taça boiando numa tigela de água ou uma pessoa.
Mitologia
Na Ilíada, Homero descreve com lirismo a colheita de uvas durante o outono. O escritor fala também sobre o vinho do sacerdote Maro: um vinho tinto com a doçura do mel e tão forte que era diluído em água na proporção de 1:20.
No livro, quando foi aprisionado na costa da Sicília pelo ciclope Polifemus, o herói Odisseu ofereceu-lhe o vinho de Maro como digestivo. Como o ciclope estava acostumado com o fraco vinho da Sicília, depois de provar o poderoso Maro caiu em sono profundo, o que deu a Odisseu a chance de arrancar o olho do monstro.
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