Encontrada há quase três décadas, a múmia milenar possui 61 marcas em todo o seu corpo, responsáveis por um mistério solucionado apenas nos últimos anos
Em 19 de setembro de 1991, há mais ou menos 29 anos, dois turistas descobriram uma múmia com um excelente estado de conservação nos Alpes de Ötztal, localizados na fronteira entre a Áustria e a Itália. Mais tarde, o corpo viria a ficar conhecido como Ötzi, o Homem de Gelo.
Embora a descoberta tenha sido feita há quase três décadas, seus mistérios ainda persistem e muitas pesquisas são feitas ano a ano para desvendá-los. Em uma delas, realizada em 2015 por um time de pesquisadores Instituto de Pesquisas sobre Múmias de Bolzano, na Itália, foi possível descobrir o fator responsável pelas tatuagens do cadáver.
O homem de gelo
Estudos realizados na múmia indicaram que o indivíduo, denominado posteriormente como Ötzi, morreu há pelo menos 5,3 mil anos, durante o período Neolítico, com cerca de 30 a 45 anos de idade.
Mesmo que tivesse falecido há muito tempo, o estado de conservação do corpo era tanto que, quando ele foi descoberto, pensou-se se tratar de um alpinista que teria morrido na região pouco tempo antes. Foi o gelo o principal responsável por essa preservação, fazendo com que ele ficasse apenas parcialmente deteriorado.
Quanto às características básicas do homem, ele media cerca de 1,65 metros de altura e pesava 50 kg. Ele ainda estava vestindo um casaco feito de pele de carneiro, um cinto feito de couro, uma capa de grama trançada e sapatos desenvolvidos para andar na neve.
No entanto, o que mais impressionou e intrigou os especialistas responsáveis pelas análises na múmia foram suas tatuagens. Os pesquisadores chegaram a contar mais de 61 marcas feitas ao longo de todo o seu corpo, especialmente em suas pernas, que contavam com um conjunto de 12 linhas.
Além dos membros inferiores, o homem de gelo apresentava pelo menos 19 grupos de linhas pretas no total, tanto horizontais quanto verticais, que iam desde a sua coluna até a região na parte de trás de seus joelhos. Foi a partir dessa curiosidade que cientistas iniciaram um estudo aprofundado para entender a origem dessas tatuagens.
As linhas no corpo
Segundo a equipe do Instituto de Pesquisas sobre Múmias de Bolzano responsável pela pesquisa sobre as tatuagens de Ötzi, elas foram o resultado de um tratamento de acupuntura realizado no homem enquanto ele era vivo.
Anteriormente, foram descobertos vestígios de cinzas de lareira ou fuligem no corpo do indivíduo. Essas teriam sido as substâncias utilizadas para desenvolver os desenhos na pele, conhecidos como tatuagens, que marcavam seu torso para sempre, ou pelo menos quase isso. Agora, foi possível entender de onde vinha o uso desses materiais e para que eles eram aplicados.
De acordo com os resultados obtidos no estudo, uma espécie de pó de carvão era aplicada em feridas, geralmente pequenas, que são muito parecidas com as geradas pelo procedimento de acupuntura, onde agulhas são pressionadas no corpo.
No entanto, o que não foi possível descobrir foi se as marcas causadas pela fuligem, que chamamos de tatuagem, apenas demarcavam a região em que as agulhas seriam aplicadas, ou se elas eram a própria acupuntura. Ainda serão realizadas novas investigações para desvendar mais esse mistério, que está próximo de ser finalmente solucionado no total.
O time de cientistas evidenciou que essa descoberta demonstra como a medicina era desenvolvida já durante aquele período. Estudos anteriores indicavam que o homem de gelo possuía juntas gastas, cálculos biliares, artérias endurecidas, e até mesmo um tumor no dedinho do pé, além de doenças parasitárias e outros problemas de saúde degradantes.
Portanto, ao se sujeitar a um procedimento que poderia ajudá-lo a melhorar sua saúde, é possível perceber que o cuidado com o bem-estar já era uma questão naquele período. Além da acupuntura, ainda foram descobertos restos de fungos com propriedades anti-inflamatórias e antibióticas, o que colabora para a tese.
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