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Matérias / Mundo

Conheça Panusaya, a jovem que está desafiando a monarquia da Tailândia

Em um regime onde a lei permite a prisão de críticos, e alguns desaparecem misteriosamente, a estudante de 21 anos tem outro discurso pró-democracia marcado para 19 de setembro

Ingredi Brunato Publicado em 20/09/2020, às 09h00

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Panusaya Sithijirawattanakul em fotografia durante o comício de agosto, primeiro em que foi ao palco. - Divulgação
Panusaya Sithijirawattanakul em fotografia durante o comício de agosto, primeiro em que foi ao palco. - Divulgação

Em 10 de agosto de 2020, na Universidade Thammasat, na Tailândia, Panusaya Sithijirawattanakul ficou conhecida ao subir ao palco de um comício pró-democracia para ler um manifesto que pedia pela realização de 10 pontos de reforma da monarquia que detém o poder no país.

Quando terminou, os estudantes na plateia, um a um, levantaram os braços repetindo a saudação de resistência criada pela saga Jogos Vorazes, em um gesto de apoio. 

Embora a população tailandesa seja ensinada a amar a família real, evitando críticas, a jovem de 21 anos é parte de uma geração que já não aceita tão bem a situação política monárquico-militar (com o golpe mais recente em 2014) em que se encontra seu país.  

Situações de protesto no passado tiveram uma reação violenta por parte das autoridades: em 1973, 1976, 1992 e 2010 a única resposta do governo ao encarar os pedidos por democracia foi a repressão. Pelo menos nove opositores exilados da monarquia desapareceram desde sua fuga pelo último golpe militar, com dois deles inclusive reaparecendo em um rio tailandês em 2019, com seus estômagos repletos de concreto. O governo nega envolvimento. 

Leis insólitas

Essa repressão é institucionalizada na forma da “lei de lese majeste”, que determina que os críticos do rei, rainha ou regente, atualmente no poder, sejam condenados a 15 anos de prisão. Embora o decreto se refira à coroa tailandesa, não é incomum que os políticos e militares no poder também usem a lei em benefício próprio. 

Fotografia de protesto com saudações saídas de "Jogos Vorazes", e um cartaz com referência à Les Miserables. 

Cenário atual 

Em agosto, ao menos, esse cenário começou a mudar: após protestos pró-democracia fervilharem por toda a Tailândia durante vários meses, alguns manifestantes até foram presos, no entanto, ganharam novamente sua liberdade sob pagamento de fiança. O que não significa que não existam mais riscos para atitudes como a de Panusaya, algo que ela sabe muito bem. 

“Não sou burra. Minha cabeça me diz que é muito arriscado dizer coisas que são tão duras, mas meu coração está dizendo que eu sei que isso tinha que ser feito. Então eu ouço mais meu coração.”, disse a garota em entrevista ao NPR. Ela também contou que não tinha medo de não ter o apoio suficiente em sua luta: “Sei que muitas pessoas concordam comigo”, garantiu a estudante. 

Entre as autoridades, que estudantes como Panusaya desafiam, está o poderoso chefe do exército, que é bem claro a respeito da maneira como encara esse tipo de atitude, chamando os antimonarquistas de “odiadores da nação”, e dizendo que “aqueles odeiam seu próprio país não são recuperáveis [no contexto da pandemia de COVID-19]”. 

Últimas atualizações 

Após o comício universitário, foi emitido um mandado da prisão para Panusaya, com acusações que lhe renderiam anos na cadeia segundo a legislação tailandesa. A jovem, contudo, não pretende parar: “Agora é como uma nova era. É a nossa geração, e se não mudarmos isso, teremos que viver assim para sempre. E não queremos isso”. 

A estudante também precisou passar a lidar com policiais à paisana seguindo seus movimentos, após sua leitura do manifesto. “Posso dizer que são policiais, pois têm o mesmo estilo de cabelo cortado à escovinha e estão sempre tirando fotos minhas em locais públicos”, disse em entrevista à BBC. 

A vigilância não a intimidou. Outro comício está marcado para 19 de setembro, e Panusaya pretende participar deste também, onde serão exigidas reformas para a monarquia, a constituição, os militares e a educação. 

Ela relatou que sua mãe a ignorou por cinco dias depois do primeiro discurso, e também que às vezes chorava de preocupação com o futuro da filha. Não são sentimentos infundados - e Panusaya também sabe disso, de forma que está também se preparando mentalmente com a possibilidade de ser presa. 

“Acho que minha mãe deve entender que não estamos fazendo isso por diversão. Isso é sério e temos que fazer isso. Vemos isso como nosso dever, então ela deve entender. Quero que ela se orgulhe”, concluiu.