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Matérias / Manto tupinambá

Confira a história do manto tupinambá do século 16 devolvido ao Brasil

Manto de penas vermelhas datado do século 16 — e que foi devolvido recentemente ao Brasil —desempenhava um papel importante na cultura tupinambá

por Giovanna Gomes
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Publicado em 25/07/2024, às 19h10

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Manto Tupinambá que foi devolvido ao Brasil - Divulgação/Museu Nacional (UFRJ)
Manto Tupinambá que foi devolvido ao Brasil - Divulgação/Museu Nacional (UFRJ)

A devolução de um Manto Tupinambá do século 16 para o Rio de Janeiro, ocorrida neste mês de julho, representa um marco histórico significativo para a reconstituição da cultura brasileira.

O item de penas vermelhas, utilizado no passado por lideranças indígenas e que desempenhava um papel central na cultura tupinambá, é um exemplar entre onze peças semelhantes catalogadas, embora as demais se encontrem atualmente em museus da Europa. Além destes, sabe-se ainda da existência de outros dois mantos, cuja localização é desconhecida.

Importância cultural

A antropóloga Glicéria Tupinambá, o qual foi a primeira pessoa em 400 anos a reproduzir o Manto Tupinambá original, participou do processo de repatriação do manto da Dinamarca para o Brasil.

Segundo o portal g1, ela, que é líder da comunidade indígena Serra do Padeiro, em Buerarema, Bahia, aponta que a presença do item no país é uma oportunidade de revitalizar a cultura tupinambá e estudar a importância desse patrimônio.

Na imagem, o manto tupinambá com suas penas vermelhas / Crédito: Divulgação/Museu Nacional (UFRJ)

Item sagrado

Costurado em malha por meio de uma técnica ancestral, o manto sagrado possui cerca de 1,20 metro de altura e 80 centímetros de largura. Rafael Freitas, autor do livro "O Rio Antes do Rio", explicou ao portal que o manto era um objeto sagrado utilizado em rituais.

O ato de vestir o manto representa uma conexão dos encantados com seus antepassados e a sabedoria ancestral", explicou.

A pesquisadora Glicéria Tupinambá destacou que o manto era usado por pajés, majés e caciques, no entanto, era necessário conquistar o respeito da tribo para portar o ilustre manto.

"Só as pessoas que eram portadores desses mantos tinham esse lugar de escuta, de sentar a beira do fogo na Casa de Reza, a casa central", disse ela. "O pajé precisa acolher esse ancestral. Não é um objeto de arte, admiração, é um objeto de espiritualidade muito forte, que precisa ser cuidado".

Rituais 

O antropólogo e curador de exposições etnológicas no Museu Nacional, João Pacheco de Oliveira, explicou à Agência Brasil que o manto já foi descrito como parte de um ritual antropofágico. 

“O manto aparece descrito em fontes do século 16 como parte de um ritual político antropofágico, quando prisioneiros eram sacrificados. Essas fontes mostram homens guerreiros usando o manto. Mas os pesquisadores indígenas dizem que os mantos não eram só dos guerreiros. Também eram usados pelas mulheres em outras ocasiões específicas ritualísticas”, explicou ele. “Certamente é uma peça extremamente solene. Não faz parte do cotidiano. O artesão que a produziu pode ter gasto meses ou mais de um ano para fazer algo dessa natureza”, completou.

Glicéria Tupinambá observa o manto / Crédito: Divulgação/Museu Nacional (UFRJ)

Mantos na Europa

Glicéria Tupinambá conta que, ao viajar para a Europa em 2022 como mestranda do Museu Nacional do Rio de Janeiro, descobriu que o manto encontrado no Nationalmuseet, da Dinamarca, era o mais bonito e bem conservado dentre todas as 11 peças espalhadas pela Europa.

Os mantos tupinambás levados para a Europa eram tratados como objetos de alto valor, despertando o interesse de reis e nobres da época. Algumas peças chegaram à Europa por meio de roubo, enquanto outras foram entregues como presentes para monarcas.

Em junho de 2023, o Museu Nacional da Dinamarca anunciou a devolução do manto ao Brasil. A peça foi doada para repor o acervo perdido no incêndio que destruiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro em 2018.