Até hoje a cifra é discutida, mas sabemos que dezenas de milhares queimaram sob a acusação. Entenda como funcionavam os insanos julgamentos
O livro European Witch Trials: Their Foudations in Popular and Learned Culture, de Richard Kieckhefer, traz uma longa e assustadora lista de julgamentos de bruxas a partir do século 14, como por exemplo, o julgamento de 600 pessoas acusadas de bruxaria na cidade de Toulouse entre 1320 e 1350, sendo 400 delas condenadas e executadas. Ou 400 julgadas e 200 condenadas e executadas na vizinha Carcassonne, na mesma época.
Além das torturas, havia ainda os métodos práticos para encontrar bruxas. O mais comum era o teste da água. Uma mulher era arrastada para um lago ou rio, despida e amarrada. Ao ser atirada, se flutuasse, era bruxa. Se afundasse, eles até tentavam puxar de volta.
A explicação é que bruxas repilam a água por terem rejeitado seu batismo ao aceitarem Satã. Mas não era a única: também disseram que era por serem anormalmente leves. E assim surgiu o teste do peso: se a ré pesasse menos do que se imaginava normal, era bruxa.
A Alemanha do fim do século 16 e começo do 17 viu alguns dos maiores autos de fé registrados na História. Junto a Johannes Junius, pelo menos mil pessoas foram executadas em Bamberg (1626-1631) e em Trier (1581-1593). Na mesma época, mais de 250 em Fulda (1603-1606) e 900 em Würzburg (1626-1631).
No século seguinte, a caça às bruxas se tornou a peça número um da denúncia dos iluministas aos abusos da religião e superstição. Aos poucos, a loucura iria arrefecendo. A última pessoa a ser morta por execução de bruxaria foi Anna Göldi, na Suíça.
Ela foi acusada de materializar magicamente vidro e agulhas no pão de leite da filha de Jakob Tschudi, para quem trabalhava como doméstica. Torturada, falou ter feito um pacto com o diabo, na forma de um cachorro preto que se materializou do nada.
A caça às bruxas então já era bem desmoralizada. Göldi foi acusada formalmente de envenenamento, não bruxaria — ainda que a lei não prescrevesse pena de morte para tentativa de envenenamento. Era 1784, oito anos após a morte de David Hume, seis anos da de Voltaire e Rousseau e um após a de D’Alambert e o mesmo da de Diderot, filósofos anticlericais que dariam origem ao jeito moderno e secular de pensar.
Antes do fim do século, em 1798, os Estados Papais seriam capturados pela França, restaurados em 1800 e novamente capturados sob Napoleão, em 1808.
O total de mortos por acusação de bruxaria desde a Idade Média é controverso. A cifra mais baixa, 35 mil, é defendida pelo historiador William Monter, da Nortwestern University (EUA). Em seu livro Witchcraze (sem tradução), de 1994, a historiadora Anne Llewellyn Barstow chegou a 100 mil.