Maior clássico do futebol marcou as oitavas de final da Copa de 1990 com polêmica da 'água batizada' envolvendo Maradona e Carlos Bilardo; relembre!
Às 21 horas desta terça-feira, 25, o Estádio Monumental de Nuñez, em Buenos Aires, recebe o maior clássico do futebol mundial: Argentina e Brasil se enfrentarão pela 14ª rodada das Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026.
Atualmente, os hermanos são os líderes da competição classificatória com 28 pontos, sete a mais que o Brasil, terceiro colocado (com 21 pontos, contra 22 do vice-líder Equador). Hoje, a seleção canarinho tenta uma vitória fora de casa que não vem desde 2009 contra os albicelestes. Além disso, a última vitória brasileira no Monumental de Nuñez aconteceu há quase 30 anos.
Como se Brasil x Argentina já não fosse um jogo com os nervos a flor da pele naturalmente, o clássico desta noite ganhou uma pitada especial com as declarações do atacante Raphinha: "Porrada neles, sem dúvida", disse o atleta do Barcelona (ESP) ao ser questionado por Romário, em entrevista.
No campo e fora do campo, se tiver que ser", completou Raphinha.
A rivalidade entre os países sul-americanos é repleta de episódios lendários, como a partida pré-Copa de 1970, que marcou o último gol de Pelé contra os rivais; a inesperada vitória na Copa América de 2004, com gol de Adriano, que levou o jogo aos pênaltis; e, sem dúvida alguma, a maior polêmica de todas: a água batizada na Copa do Mundo de 1990. Relembre!
No dia 24 de julho de 1990, Brasil e Argentina se enfrentaram no Estádio Delle Alpi, em Turim, na Itália, pelas oitavas de final da Copa do Mundo de 1990. Os argentinos ganharam o jogo por 1x0 e avançaram de fase — ao fim da competição, se tornaram vice-campeões mundiais ao perderem a final para a Alemanha.
O gol da partida saiu aos 35 minutos do segundo tempo, depois que Don Diego Armando Maradona foi driblando a defesa brasileira desde o meio de campo e serviu um passe açucarado para Caniggia driblar o goleiro Taffarel e balançar as redes.
A grande jogada dos argentinos, porém, começou bem antes. Ainda no primeiro tempo. Aos 39 minutos de jogo, o brasileiro Ricardo Rocha derrubou Pedro Troglio no gramado, em falta marcada pelo árbitro francês Joel Quiniou.
Enquanto o hermano era atendido em campo, o forte calor de Turim fez o lateral Branco pedir um pouco de água aos argentinos. Ao ver o pedido, Maradona pede ao massagista Miguel di Lorenzo, o Galíndez, para trocar as garrafas que os argentinos bebiam e dar uma diferente para o brasileiro.
Branco, arma letal da seleção nas cobranças de falta, teria ingerido uma "água batizada" com um medicamento que o teria deixado sonolento pelo resto do jogo. Até hoje, porém, o episódio é um tanto quanto polêmico.
Importante ressaltar que o líquido que estava dentro do recipiente bebido por Branco jamais foi investigado, portanto, tudo o que se sabe sobre o episódio foi dito pelos personagens que o protagonizaram.
Mas existem alguns fatos que ajudam a compor o cenário da partida. O primeiro deles é o calor. "Estava uns 40 graus", relembrou Maradona, em 2004, em entrevista ao programa Mar Del Fondo, do canal TyC Sports, de Buenos Aires.
Outro ponto importante é que após a falta de Rocha em Troglio, os auxiliares técnicos argentinos entraram em campo com diversas garrafas de água, em recipientes com cores diferentes.
Conforme repercute o UOL Esporte, todos os atletas argentinos beberam água em uma garrafinha transparente; enquanto Branco foi o único a ingerir o líquido de uma garrafa verde com o símbolo de um isotônico.
"Vascooo, desse não, desse não, do outro!", gritou Maradona para JulioOlarticoechea não beber o líquido da garrafa verde. O chamado serviu como um alerta para os outros atletas, mostrando que nem todos sabiam da chamada "água batizada".
Eu dizia, beba, beba, Valdito... E depois veio Branco, que tomou toda a água. Justamente o Branco, que batia as faltas e caía", relembrou Maradona, gargalhando, ainda na entrevista de 2004.
"Depois do jogo, estavam os dois ônibus juntos, e Branco me olhava pela janela e me apontava o dedo, me culpando, e respondia com gestos de que não tinha nada a ver com aquilo. Branco jogava na Itália e tínhamos boa relação. Depois disso não conversamos mais", continuou.
Ainda na conversa, Don Diego deu mais detalhes sobre a substância que eles usaram para dopar o lateral brasileiro. "Alguém picou Rohypnol [um tranquilizante psiquiátrico] na água e complicou tudo".
O jornal Clarín relatou, posteriormente, que o cúmplice de Maradona era o massagista Miguel de Lorenzo, mais conhecido como Galíndez, que havia recebido tais ordens do treinador Carlos Bilardo.
Não se pode tomar água do time adversário, não se pode. Tome a sua, idiota, não a nossa… Que água você acha que vamos dar a um brasileiro?", declarou o ex-zagueiro Oscar Ruggeri em entrevista, em 2007.
Apesar das falas, tanto Bilardo quando Galíndez não corroboram com a versão. "Não tenho nada o que dizer, absolutamente nada. É uma desculpa [dada pelo Brasil para justificar a derrota]. Sempre uma coisa, a outra, e me metem no meio, mas aquela água o Carlitos Giusti tomou também. Eu dei água a todos, porque estava atendendo Pedrito Troglio", disse o massagista à Infobae em 2018.
Aos ser questionado sobre o episódio em entrevista a revista Ventitrés, Carlos Bilardo não confirmou a água batizada:
"- Maradona contou sobre o caso da garrafa com tranquilizante que deram a Branco. Ele revelou uma trapaça que envolve você.
- Mas ele não disse quem foi.
- E quem foi, Bilardo?
- Não sei, não sei... Não digo que não tenha acontecido, hein?
- Você não nega, e era o responsável pelo grupo...
- Sim, mas te digo que não sei".
Apesar das 'incertezas' sobre o acontecido, o lateral Branco não tem dúvida de que foi vítima da má-fé dos argentinos. "Nenhum ser humano que estava dentro do campo ia imaginar que ia ter uma trapaça dessa. Eu fiquei sabendo depois de três meses. O Ruggieri me falou. Depois do jogo eu falei, todo mundo ironizou", disse ao UOL em 2016.