Participação da CIA e planos contra Castro: os pontos que chamam atenção arquivos desclassificados sobre John F. Kennedy; confira
Nesta semana, a gestão de Donald Trump divulgou documentos sobre o assassinato do presidente John Fitzgerald Kennedy, ocorrido em 22 de novembro de 1963.
A divulgação desencadeou uma busca por pistas que pudessem dar mais respostas sobre o crime ocorrido há 62 anos, mas que até os dias de hoje é alvo de teorias da conspiração. Apesar de toda a atenção dada aos arquivos, grande parte deles só confirma informações que são conhecidas há tempos.
Ao New York Post, Gerald Posner, autor do livro best-seller de 1993 'Caso encerrado: Lee Harvey Oswald e o assassinato de JFK', disse que tinha "cerca de 22.000 páginas" nos arquivos recém-divulgados — mas ainda não tinha visto nenhuma evidência bombástica.
Ainda não vi nada que seja notícia real, mas isso não significa que não haja algo", disse Posner. "A maior questão que tenho enquanto leio é: 'Por que isso foi classificado por tantos anos?' É bem absurdo".
Os documentos contêm algumas informações interessantes sobre os trágicos eventos de 22 de novembro de 1963. Confira abaixo 5 revelações feitas pela divulgação dos documentos sobre o assassinato de JFK.
Um dos arquivos desclassificados é um memorando de junho de 1967, que detalha como um ex-oficial de inteligência do Exército dos EUA, Gary Underhill, fugiu de Washington "muito agitado" no dia seguinte ao assassinato de Kennedy. O documento também aponta que Gary afirmou a um amigo que uma "pequena camarilha dentro da CIA" estava por trás do assassinato.
"No dia seguinte ao assassinato, Gary Underhill deixou Washington às pressas. Tarde da noite, ele apareceu na casa de um amigo em Nova Jersey", diz o memorando, citando uma história na revista contemporânea de esquerda Ramparts.
"Ele estava muito agitado. Uma pequena camarilha dentro da CIA era responsável pelo assassinato, ele confidenciou, e ele estava com medo por sua vida e provavelmente teria que deixar o país", continua o documento.
Menos de seis meses depois, Underhill foi encontrado morto a tiros em seu apartamento em Washington. O legista determinou que foi suicídio".
Segundo o New York Post, Gary Underhill foi graduado em Harvard e ex-capitão do Exército dos EUA que trabalhou como jornalista e oficial de inteligência durante a Segunda Guerra Mundial. Gary teria sido conhecido "pelo primeiro nome de muitos dos altos escalões do Pentágono" e teria "relações íntimas com vários oficiais de alto escalão da CIA".
"Os amigos que Underhill visitou dizem que ele estava sóbrio, mas muito abalado. Eles dizem que ele atribuiu o assassinato de Kennedy a uma camarilha da CIA que estava realizando uma lucrativa extorsão de armas, narcóticos e outros contrabandos", aponta a passagem da Ramparts.
Underhill apontou que a camarilha da CIA supostamente matou Kennedy porque ele "soube" de seus negócios e foi "morto antes que pudesse 'denunciar'".
Outro ponto questionado nesta história é o suicídio de Underhill, visto que ele foi encontrado com um ferimento de bala atrás da orelha esquerda. No entanto, Asher Brynes, seu parceiro de escrita que encontrou seu corpo, disse: "Underhill era destro".
Por fim, o memorando descreveu a conexão de Gary Underhill com a investigação como "tênue" e não abordou as alegações relatadas pela Ramparts.
Em outro documento divulgado está um relatório de inteligência dos EUA por teletipo, datado de 20 de novembro de 1991, que aponta que um oficial da KGB — conhecido apenas como Nikonov ou "Slava" — investigou se Lee Harvey Oswald "havia sido um agente da KGB".
Nikonov agora está confiante de que Oswald não foi em nenhum momento um agente controlado pela KGB", diz o documento.
Segundo o registro, Nikonov "duvidava que alguém pudesse controlar Oswald, mas observou que a KBG o observava de perto e constantemente enquanto ele estava na URSS". O veterano da Marinha viveu no país de 1959 a 1962.
Um ponto curioso é que o arquivo apontou que "Oswald era um péssimo atirador quando tentou tiro ao alvo na URSS". Nikonov também observou que Oswald tinha "um relacionamento tempestuoso com sua esposa soviética [Marina]".
Outro arquivo no lote desclassificado, que também foi rotulado como "secreto", aponta que a CIA chegou a rastrear um artigo de um jornal italiano que alegava que a própria agência estava por trás do assassinato de Kennedy, repercute o New York Post.
Alguns documentos também dão mais detalhes sobre as maquinações da agência de inteligência na década de 1960, incluindo detalhes sobre bases secretas da CIA em todo o mundo.
Um deles aponta que a CIA rastreava um cidadão cubano chamado AMFUANA-1, que foi enviado a Cuba em 1961, antes de estabelecer uma rede de pelo menos 20 pessoas que ajudaram a elaborar mais de 50 relatórios.
O The Washington Post também repercute que alguns documentos confirmam algo que já foi amplamente assumido: a CIA colocou espiões em países estrangeiros sobre pretexto de trabalhar para o Departamento de Estado.
Timothy Naftali, professor adjunto da School of International and Public Affairs da Columbia University, observou que alguns documentos não editados também confirmaram mais ações secretas americanas, como o envolvimento em eleições e movimentos trabalhistas no Brasil, Finlândia, Chipre, Grécia e Espanha.
Um memorando de 1961, intitulado "CIA Reorganization", escrito para Kennedy, dá uma visão interna da filosofia de espionagem da agência e sua invasão em outras partes do governo dos Estados Unidos. O documento aponta que existem mais de 1.500 funcionários da CIA sob a cobertura de trabalhadores do Estado.
Um memorando de 1965, intitulado "Cuban Affairs in the Departament of Defense" fala sobre o líder cubano Fidel Castro; quem os Estados Unidos tentava desestabilizar. O relatório apontou que Castro não estava interessado em um conflito com os EUA — visto que isso colocaria em risco seu próprio regime.
Parece mais provável que Castro intensifique seu apoio às forças subversivas da América Latina", aponta o documento.
Alguns registros também jogam uma luz como os Estados Unidos obtiveram informações sobre Castro. O The Washington Post aponta que um documento revelou que Manuel Machado Llosas, tesoureiro do movimento revolucionário mexicano e considerado "bom amigo" de Fidel, era, na verdade, um ativo da CIA.
Entre os registros, estão relatos de que o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, rejeitou apoio dos países 'comunistas' em agosto de 1961. Trata-se de um telegrama da CIA que aponta que Brizola era líder das forças que lutavam para que João Goulart assumisse a presidência após a renúncia de Jânio Quadros.
Além disso, o documento também aponta que o governador sulista recebeu uma oferta de Fidel Castro e Mao Tse-Tung sobre apoio material — o que incluia o recebimento de "voluntários".
Leonel Brizola, porém, negou por medo de que o aceite culminasse em uma crise nas relações internacionais entre o Brasil e Estados Unidos.
Já um relatório emitido pela CIA em julho de 1964, ou seja, após o Golpe Militar no Brasil, sugere que Cuba tentava influenciar países da América Latina.
Um exemplo disso seria o discurso proferido por Fidel Castro em 1963, onde ele aponta que a ilha era a maior fonte de inspiração para revoluções na América Latina.
Porém, a Agência Central de Inteligência aponta que o país de Fidel falhou diversas vezes em seu plano, citando que a deposição de Jango foi uma "dura derrota" para Havana.
Apesar disso, o arquivo aponta que o governo cubano continuou apoiando (inclusive financeiramente) grupos dentro de países sul-americanos, como, além do Brasil, Chile e Argentina — que também sofreram com regimes ditatoriais nos anos 1970 e 1980.