Oban precedeu o sistema DOI-CODI, que em São Paulo foi coordenado pelo major do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra
Em 29 de junho de 1969, uma cerimônia que conta com a presença do governador de São Paulo, Abreu Sodré, e dos comandantes locais da Marinha e da Aeronáutica, o comandante do 2° Exército, general José Canavarro Pereira, inaugura, embora de forma não oficializada, a Operação Bandeirantes, também conhecida como Oban.
Com o intuito de centralizar forças de inteligência e operacional, a Oban buscava fechar o cerco contra organizações revolucionárias de esquerda, sejam elas armadas ou não, segundo aponta o Memorial da Democracia, sob direção do Centro de informações do Exército (CIE).
De acordo com o jornalista Elio Gaspari, autor de ‘A Ditadura Escancarada’, a Oban surgiu por uma demanda direta da Presidência da República.
“[A Oban] foi lapidada por meio de uma Diretriz para a Política de Segurança Interna, pela presidência da República em junho de 1969, que resultou no surgimento de estruturas semelhantes em outros estados. Estabelecia as normas que centralizavam o sistema de segurança, colocando-o sob as ordens de um oficial do Exército classificado na seção de informações do comando militar. Ele requisitaria efetivos à PM, delegados e escreventes à polícia”.
O projeto da Operação Bandeirantes, segundo o Memorial da Democracia, foi financiado não só com a ajuda de grandes empresários de São Paulo, como também de grandes empresas multinacionais.
O local escolhido para sediar o centro de torturas e assassinatos foi a 36ª delegacia de polícia, localizada entre as ruas Tutóia e Tomás Carvalhal, no bairro do Paraíso.
O Memorial da Democracia também aponta que comando-geral da Oban ficou sob encargo do major Waldyr Coelho e o delegado do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) foi Sérgio Paranhos Fleury.
A Oban teve núcleos em diversas regiões do país, sendo as sedes em São Paulo e no Rio de Janeiro as principais entre elas. Entre os métodos aplicados durante a Operação Bandeirantes destacam-se não só a perseguição e caça de pessoas ligadas, ou não, à grupos considerados revolucionários, como também ao assassinato e tortura daqueles que foram presos.
Em São Paulo, conforme mostra matéria do Brasil Escola, também podia-se notar a participação de membros das polícias paulistas, principalmente a Civil, que eram conhecidas por seus esquemas de corrupção e por suas ligações ao crime, como grupos de extermínio — que caçavam quaisquer pessoas que consideravam praticar “atividade subversiva”.
Um desses casos, cometido por Paranhos Fleury, é relatado por Elio Gaspari, que mostra como ele “convenceu” os militares da “eficácia” da tortura.
"Nos anos seguintes o delegado tornou-se um paradigma da eficácia da criminalidade na repressão política. Um raciocínio que começara com a ideia de que a tortura pode ser o melhor remédio para obter confissão transbordava para o reconhecimento de que um fora da lei pode ser o melhor agente para a defesa do Estado. Recompensando-o, em 1971, por sugestão do CIE, o governo passou-lhe no pescoço a fita verde-amarela com a Medalha do Pacificado".
A Oban operou até meados de 1970, quando foi extinta e serviu de modelo para a criação do Destacamentos de Operações de Informação – Centros de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI).
Como mostra o Arquivo Nacional do Ministério da Justiça, o sistema DOI-CODI foi estruturado em diversas capitais do país nos anos seguintes, se tornando os principais centros onde ocorriam casos de execuções e desaparecimentos forçados de opositores ao regime. Em São Paulo, o DOI-CODI foi coordenado pelo major do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra.
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