Longa sobre guerrilheiro baiano estreará no mês que vêm após adiamentos por conta da pandemia e de acusações de censura
Apesar de ter tido sua estreia em 2019, no Festival de Berlim, o filme sobre os últimos anos de vida do guerrilheiro baiano Carlos Marighella só chegará aos cinemas brasileiros em 4 de novembro.
A produção esteve prestes e estrear em outras oportunidades, mas a pandemia do novo coronavírus fez com que a data fosse adiada. Outro fator para a demora, esse mais polêmico, se dá diante dos obstáculos do governo.
Acontece que, após o presidente Jair Bolsonaro ter dito, em setembro de 2019, segundo o El País, que desejava aumentar o controle sobre a Ancine para impor algum “filtro” sobre as produções audiovisuais brasileiras, a O2 Filmes publicou uma nota afirmando que a cinebiografia sobre Marighella "não conseguiu cumprir a tempo todos os trâmites exigidos pela Ancine (Agência Nacional do Cinema)" para conseguir uma verba pública que permitisse a distribuição da produção.
"A Ancine [Agência Nacional do Cinema] censurou o filme. É uma censura diferente, que usa instrumentos burocráticos para dificultar produções das quais o governo discorda. Não tenho a menor dúvida de que 'Marighella' não estreou ainda por uma questão política”, declarou Wagner Moura, diretor da produção, em uma entrevista em janeiro do ano passado.
Porém, ‘Marighella’ não foi o primeiro filme a causar polêmicas por aqui. Pensando nisso, a equipe do site do Aventuras na História separou outras cinco produções que passaram por episódios semelhantes.
Confira nossa lista!
Produzido pelo Channel 4, uma emissora pública britânica, o documentário ‘Muito Além do Cidadão Kane’ faz uma relação entre a mídia brasileira e o poder no país — com o enfoque na figura de Roberto Marinho, proprietário do Grupo Globo até 2003.
Acontece que a produção mostrava como a TV Globo teve envolvimento com a ditadura militar no Brasil — algo que o próprio grupo reconheceu anos depois, em agosto de 2013, quando William Bonner, apresentador do Jornal Nacional, leu um texto editorial onde a emissora e seus outros veículos reconhecessem que o apoio ao Golpe de 64 foi um "equívoco", como recorda matéria do Terra.
Antes disso, no entanto, o longa chegou a causar tanta dor de cabeça em Marinho que, segundo o Yahoo, ele chegou a conseguir uma liminar que impedisse a exibição do filme por aqui. Até hoje, a obra nunca foi exibida em rede nacional no país.
Roteirizado e dirigido por Nelson Pereira dos Santos, ‘Rio, 40 Graus’ conta a história de cinco garotas cariocas que vivem no subúrbio do Rio e que tentam ganhar a vida vendendo amendoim.
Em 2015, o título entrou na lista da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) como um dos 100 filmes brasileiros de todos os tempos.
Apesar do sucesso e reconhecimento, a narrativa não agradou muito os militares na década de 50 e foi censurada por mostrar aspectos negativos do país. Além do mais, as autoridades da época chegaram a afirmar que seu título era uma mentira, já que o Rio não costumava a atingir 40 graus sempre.
Dirigido por um dos maiores documentaristas do Brasil, Eduardo Coutinho, ‘Cabra Marcado para Morrer’, que também faz parte da lista da Abraccine, conta a história de João Pedro Teixeira, líder camponês da Paraíba assassinado em 1962.
A produção começou a ser filmada em 1964, mas, com o Golpe naquele ano, acabou sendo censurada pelo Governo Militar, que chegou a prender membros da equipe de filmagem os acusando de serem comunistas, explica o Yahoo.
Cerca de duas décadas depois, a produção foi retomada, conversando com os mesmos personagens que haviam sido entrevistados no passado.
Mais um filme na lista da Abraccine, desta vez uma produção de Glauber Rocha, outro importante nome do cinema nacional.
Em ‘Terra em Transe’, Rocha apresenta a história de diversos personagens, como militantes, intelectuais e políticos que estão envolvidos na disputa pelo poder da fictícia República de Eldorado.
Acusado de ser subversivo e ofensivo à Igreja Católica, o longa foi barrado por alguns meses durante a ditadura, sendo liberado quando um dos personagens acabou mudando de nome.
Popularmente conhecido como Zé do Caixão, José Mojica Marins foi um dos principais produtores culturais do Brasil.
Em 1964, o diretor produziu a obra ‘À Meia-Noite Levarei Sua Alma’, que narra a busca de Zé do Caixão por uma mulher que possa gerar seu filho perfeito e, assim, dar continuidade a sua linhagem.
Apesar do longa também estar na lista da Abraccine, ele não foi muito bem visto no período ditatorial brasileiro, já que o Governo chegou a alegar, como explica o UOL, que a obra era muito violenta. Além do mais, uma fala do filme também pouco agradou os militares: “Crer em quê? Num símbolo? Numa força inexistente criada pela ignorância?”.