Após o fim da Primeira Guerra Mundial, o mandatário norte-americano sofreu com a pior epidemia do século 20 no principal momento de sua gestão: as Negociações de Paris
Com o fim da Primeira Guerra mundial, o mundo vivia um momento crítico, um dos maiores de sua história. Além dos mais de 40 milhões de mortes no conflito, outras centenas de milhares de perdas aconteceram por conta da Gripe Espanhola, a mais mortal do mundo no século 20, como aponta matéria do Estadão.
Entre os escombros do confronto, mais de 50 milhões de pessoas pereceram por conta da doença. Mesmo assim, a Europa tentava se reerguer diante da crise, como foi o caso da Rússia — que entre tudo isso viveu uma guerra civil após a Revolução de Outubro de 1917.
Já Espanha e França, aliadas aos Estados Unidos, planejavam quais seriam os moldes das reparações impostas à Alemanha, a grande derrotada daquele período. Foi nesse cenário caótico e incerto que o vírus atingiu uma das autoridades mais importantes daquele período: Woodrow Wilson, o 28º presidente norte-americano.
Se uma pessoa doente com a Gripe Espanhola já é um alerta, um presidente então torna esse cenário muito mais preocupante. No caso de Woodrow Wilson, isso aconteceu de maneira inesperada.
Já era noite daquele 3 de abril de 1919 quando o mandatário americano começou a tossir de maneira violenta. Sua situação piorou tão rapidamente que seu médico pessoal, Gary Grayson, conforme relata matéria do History, acreditou que ele teria sido envenenado.
Mais tarde, segundo seus relatos, a longa noite que passou junto a Wilson foi “um dos piores momentos pelo qual passei. Consegui controlar os espasmos da tosse, mas seu estado parecia muito sério”.
A doença o acamou em um dos mais importantes momentos não só de sua gestão, como também de sua vida: as negociações da Conferência de Paris, que encerraria de vez a Primeira Guerra.
As bases de sua estratégia para alcanças a paz mundial incluía tratados de paz abertos e transparentes, liberdade e autodeterminação para todas as nações europeias, desarmamento e, acima de tudo, a criação de uma associação geral de nações — que mais tarde se chamaria Liga das Nações, que foi a predecessora da Organização das Nações Unidas (ONU), conforme explica o Estadão.
Além da luta contra a doença, Wilson também teve de bater de frente com o primeiro-ministro francês Georges Clemenceau, que exigiu bilhões em indenização pela perda monumental de vidas e propriedades francesas nas mãos dos alemães, mas Wilson queria poupar a Alemanha de tal humilhação e se concentrar em construir a Liga das Nações, mostra o History.
Em abril, as negociações chegaram a um impasse e foi justamente nesse período que Woodrow foi mais acometido por problemas de saúde. Segundo o Estadão, o mandatário norte-americano sofreu um derrame.
Como se isso não bastasse, o acidente vascular o deixou de cama por várias semanas, além de fazê-lo perder parcialmente a visão e deixá-lo parcialmente paralisado do lado esquerdo do corpo.
Enquanto lutava contra uma febre de 40 graus e uma tosse incessante, seu médico mentia para a imprensa, dizendo que tudo não passava de um forte resfriado. Afinal, qualquer sinal de fraqueza de seu líder poderia significar o fortalecimento dos adversários americanos.
Segundo John Barry, autor de “A Grande Influenza: A História da Pandemia Mais Mortal da História”, por mais que muitos atingidos com a Gripe mostrassem melhora no quadro de febre ardente, muitos deles passaram a apresentar o que o escritor chama de “manifestações pós-influenza”, ou seja, delírios psicóticos e visões que resultavam em danos ao sistema nervoso.
“O estudo mais abrangente da pandemia de 1918 observou como os distúrbios neurológicos eram comuns”, explica Barry. “Eles ficaram atrás apenas do pulmão. Isso incluía psicose, que geralmente era temporária”.
Segundo relata o History, algumas fontes disseram que Wilson passou a sofrer de sintomas semelhantes a esses durante sua luta contra a Gripe Espanhola, no mesmo período que participava da Conferência de Paz de Paris.
“Ele ficou paranoico. Wilson achava que os franceses tinham espiões ao seu redor. Ele era bizarramente obcecado por seus móveis e automóveis, e quase todo mundo ao seu redor notava isso”, narra o historiador.
Já Irwin Hoover, que trabalhou como porteiro principal na Casa Branca por 29 anos, sendo 42 anos ao todo de serviços na residência presidencial, escreveu mais tarde em seu livro “Forty-two Years in the White House” (ou, “42 anos na Casa Branca”, em tradução livre), que "algo estranho estava acontecendo na mente [do presidente]" e que "[uma] coisa é certa: ele nunca mais foi o mesmo depois desse pequeno período de doença".
Em certa ocasião, como relata o History, o primeiro-ministro britânico, Lloyd George foi visitar Wilson durante sua recuperação no Hôtel du Prince Murat e rotulou a condição de Woodrow como um "colapso nervoso e espiritual" no meio das acaloradas negociações de Paris.
Depois de ter se recuperado consideravelmente da Gripe Espanhola, Wilson voltou as tratativas na Conferência de Paris, porém, sem voltar a ser aquele homem conhecido por lutar por seus destinos.
Naquele ponto, segundo aponta o History, a enfermidade havia enfraquecido tanto seu corpo quanto sua mente. Ele já não tinha mais força ou vontade para se manter firme. “O impacto foi bastante dramático na minha opinião”, diz Barry.
“Wilson foi inflexível, insistindo nos '14 pontos ', autodeterminação e' paz sem vitória'. Clemenceau chegou a acusá-lo de ser 'pró-alemão'. De repente, Wilson cedeu em todos os 14 pontos, exceto a Liga das Nações, e apenas porque Clemenceau jogou-lhe um osso”.
Na visão de sua equipe e de seus apoiadores, os termos que culminaram no Tratado de Versalhes foi uma traição a tudo aquilo que Woodrow sempre defendeu. Inclusive, William Bullitt, seu assistente do Departamento de Estado, que sempre foi leal ao mandatário americano, pediu imediatamente sua renúncia após as negociações de Paris.
Mesmo debilitado, Woodrow Wilson cumpriu seu mandato até o fim, em 1921. Três anos depois, em 1924, aos 67 anos de idade, ele sofreu um segundo grande derrame, o que lhe acarretou complicações cardíacas, motivo pelo qual faleceu naquele mesmo ano.
++ Saiba mais sobre a Grande Gripe por meio de grandes obras disponíveis na Amazon:
A Grande Gripe. A História Da Gripe Espanhola, A Pandemia Mais Mortal De Todos Os Tempos, de John M. Barry (2020) - https://amzn.to/3czLxoz
A Gripe Espanhola: Os Dias Malditos, de João Paulo Martino (2017) - https://amzn.to/35WsZMS
Gripe Espanhola: A maior pandemia da história, de Editora O Curioso - https://amzn.to/2yXnEIT
A Pandemia de Gripe Espanhola de 1918 na "Metrópole do Café", de Leandro Carvalho Damacena Neto (2020) - https://amzn.to/2WQ64P6
Pandemias: a humanidade em risco, de Stefan Cunha Ujvari (2011) - https://amzn.to/2YYky26
Vale lembrar que os preços e a quantidade disponível dos produtos condizem com os da data da publicação deste post. Além disso, a Aventuras na História pode ganhar uma parcela das vendas ou outro tipo de compensação pelos links nesta página.
Aproveite Frete GRÁTIS, rápido e ilimitado com Amazon Prime: https://amzn.to/2w5nJJp
Amazon Music Unlimited – Experimente 30 dias grátis: https://amzn.to/2yiDA7W