Em entrevista exclusiva ao site Aventuras na Histórias, Denise Paiero e Rosana Schwartz, autoras da obra "Atos que viram fatos", revelaram detalhes das manifestações que pararam o país, a partir do olhar jornalístico e histórico
As manifestações ocorridas entre junho de 2013 e dezembro de 2016, levaram milhares de pessoas às ruas brasileiras. Na época, os manifestantes protestavam contra o aumento da passagem do transporte público, escândalos de corrupção e exigiam melhorias na saúde, educação, segurança pública e muito mais.
Este período é analisado na obra “Atos que viram fatos: Olhar do jornalismo e da história sobre os protestos de 2013 a 2016”, escrita pela jornalista, Doutora e Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, Denise Paiero e, pela Doutora em História pela PUC-SP, Rosana Schwartz.
Lançada em 2019, pela Editora Mackenzie, a obra apresenta uma análise completa sobre as manifestações ocorridas no Brasil entre 2013 e 2016. O livro resgata, ainda, referências históricas e jornalísticas, que buscam explicar a influência das redes sociais neste período.
Em entrevista exclusiva ao site Aventuras na História, as autoras revelaram os bastidores das coberturas jornalísticas e a importância de resgatar o contexto histórico, a fim de compreender o atual cenário político do país.
Em 2013, o aumento nas passagens de ônibus e metrô, na cidade de São Paulo, serviu como catalisador para as manifestações contra o governo. De acordo com as escritoras, neste período, as pessoas começaram a perceber que poderiam ocupar as ruas e reivindicar seus direitos.
Em seguida, os manifestantes passaram a pautar diversos outros fatores, somados a uma série de desapontamentos com o governo, nas mais diversas esferas de poder do Estado. Segundo as escritoras, as redes sociais foram essenciais para atrair um número maior de pessoas a causa, que se organizaram de maneira descentralizada.
“Em um primeiro momento tínhamos a causa dos 20 centavos, que acabou trazendo à tona outros vários motivos. A partir do momento que abaixa o preço das passagens e que o governo faz um acordo, tiram essa causa que unia todas as pessoas e o movimento começa a sofrer rupturas”, disse Denise Paiero.
Conforme ressaltou a jornalista, a partir do momento que os movimentos começaram a se dissipar e divergir em opinião, a causa principal perdeu o foco e houve uma polarização no Brasil, que pode ser percebida até os dias de hoje.
Em seguida, grupos foram às ruas protestar contra o então governo de Dilma Rousseff. Além da ocupação do espaço público, os manifestantes utilizaram as redes sociais para defender o impeachment da então presidenta.
“Essa onda de manifestações se alastrou pelas grandes cidades de todo o país fortalecendo setores conservadores, que estavam à margem da cena política desde a metade da década de 1990. Esses personagens foram os protagonistas do movimento que levou ao impeachment”, explicou Rosana Schwartz.
Contudo, conforme apontou Denise Paiero, dado os rumos das manifestações e dispersão dos grupos sociais, o Movimento Passe Livre — defensor da tarifa zero para o transporte público — se desvinculou dos atos.
De acordo com a jornalista, a grande imprensa teve um papel dúbio durante esse período. Para ela, em um primeiro momento, os veículos jornalísticos se mostraram contra as manifestações, condenando atos que julgavam violentos, como ataques a propriedades privadas e públicas.
“No decorrer do mês de junho de 2013 essa imprensa passou a condenar explicitamente as manifestações que se mostravam violentas e difusas. No entanto, indicaram apoio a atos que fossem explicitamente contra os governos federais, e municipais nas cidades governadas pelo PT, ou por partidos aliados”, revelou Rosana Schwartz.
Segundo as especialistas, após os veículos jornalísticos serem duramente repreendidos, muitos passaram a apoiar as manifestações e até mesmo fazer uma cobertura intensa dos atos em todo o país.
“Quando as pessoas começaram achar que estavam perdendo o direito de se manifestar, porque a polícia estava coibindo as manifestações, foi quando houve a explosão dos protestos. A partir disso, a imprensa começou a ficar favorável aos atos. Então em um primeiro momento ela foi contra, mas depois houve uma ruptura desse cenário, quando os jornalistas foram atacados”, explicou Denise Paiero.
Assim como aconteceu na Primavera Árabe e no Occupy Wall Street, as redes sociais tiveram um papel crucial nesses protestos. Inicialmente, elas serviram como um espaço de organização dos atos e para convidar as pessoas para esses eventos. No entanto, mais tarde, a internet foi fundamental para repercutir os desdobramentos das manifestações.
“Essa nova função de agrupar e dar visibilidade às pessoas mudou o papel que as redes sociais tinham na política contemporânea. Os manifestantes descobriram que elas eram dinâmicas oferecendo diferentes veículos para a difusão de suas propostas, eliminando barreiras geográficas e temporais, facilitando as comunicações e o fluxo das informações”, disse Rosana Schwartz.
Do ponto de vista de Denise Paiero, após o desfalque da pauta inicial dos 20 centavos e, com as manifestações mais pulverizadas e polarizadas, houve um aumento da circulação e propagação de fake news.
Naquela época, muitas redes sociais que conhecemos hoje ainda estavam começando a se popularizar. Além disso, não existiam as famosas plataformas de checagem de fatos.
“Não existia o hábito de analisar criticamente uma informação, na maioria das vezes as pessoas se limitavam a ver se a fake news, havia sido veiculada em um dos grandes jornais ou noticiosos televisivos. Coube aos jornalistas desmentir montanhas de notícias falsas, que chegavam a plagiar o logotipo, e até o designer de sites jornalísticos conceituados. De maneira geral, as fake news atrapalharam muito o trabalho de toda a imprensa”, disse Rosana Schwartz.
Para Schwartz, estas manifestações estão diretamente ligadas ao atual quadro político brasileiro. Segundo a autora, partidos políticos e personagens que até então não tinham tanta força, traçaram seus primeiros passos políticos naquele período.
Denise Paiero, por sua vez, acredita que o embrião das consequências que o país enfrentou nos anos seguintes, foram disseminados naquela época. “Talvez se não fosse 2013, os caminhos fossem outros”, disse ela.
Para as autoras, o impeachment de Dilma Rousseff e a ascensão de setores conservadores no país podem estar ligados diretamente às manifestações ocorridas entre 2013 e 2016. Contudo, as escritoras ressaltam, ainda, que elas foram importantes para outros debates políticos.
“Lideranças do campo da esquerda aprenderam importantes lições entre 2013 e 2016, e apresentaram novas práticas políticas, como pudemos acompanhar nas ações de ocupações de escolas, em 2015”, concluiu Rosana Schwartz.
+Saiba mais sobre esta obra por meio da Amazon:
Atos que viraram fatos, de Denise Paiero e Rosana Shwartz (2019) - https://amzn.to/3qpmsmd
Vale lembrar que os preços e a quantidade disponível dos produtos condizem com os da data da publicação deste post. Além disso, a Aventuras na História pode ganhar uma parcela das vendas ou outro tipo de compensação pelos links nesta página.
Aproveite Frete GRÁTIS, rápido e ilimitado com Amazon Prime: https://amzn.to/2w5nJJp
Amazon Music Unlimited – Experimente 30 dias grátis: https://amzn.to/2yiDA7W