Jaycee Dugard passou 18 anos vivendo em cativeiro
Em 1991, a norte-americana Jaycee Dugard, então uma menina de apenas 11 anos de idade, andava para o ponto de ônibus próximo de sua casa a fim de pegar o transporte escolar.
A situação parecia suficientemente segura: além da curta distância do trajeto, Carl Probyn, o padrasto da criança, a observava da janela da residência.
Ele se percebeu impotente, contudo, quando um veículo parou do lado de Jaycee e, rapidamente, um de seus passageiros eletrocutou a garota e a puxou para dentro. Probyn até montou em sua bicicleta e tentou perseguir o carro dessa forma, mas não teve sucesso, segundo informações repercutidas pela CBS news.
Era o início de um pesadelo para a pequena, que fora abduzida pelo predador sexual Philip Garrido, e sua esposa Nancy, e passaria os próximos 18 anos vivendo no quintal deles, onde foi abusada repetidamente.
Jaycee não apenas teve sua infância roubada, como acabou se tornando mãe durante seu sequestro de quase duas décadas. Após sofrer uma série de estupros nas mãos de Philip, ela deu à luz duas meninas, uma quando tinha 14, e outra aos 17.
Quando Dugard finalmente foi libertada pela polícia, aos 29 anos, sua filha mais nova tinha a mesma idade com a qual ela fora raptada, segundo relatado por uma notícia de 2009 do g1. As crianças, por sua vez, nunca tinham ido à escola ou ao médico em sua existência, vivendo em completo isolamento da sociedade.
Em entrevista à ABC no ano de 2011, a jovem norte-americana relatou que, no início, ela foi mantida presa através de algemas e da ameaça oferecida pela mesma arma de choque que havia sido usada durante seu rapto.
Mais tarde, quando esses instrumentos pararam de ser utilizados, Garrido lhe disse que haviam cachorros treinados para atacá-la do lado de fora do galpão onde era mantida, deixando Dugard com medo de tentar escapar.
A chegada de suas filhas, por sua vez, tornou a ideia de uma fuga ainda mais difícil, uma vez que a jovem temia pela segurança das pequenas.
Jaycee apenas foi libertada após Philip levá-la, juntamente de suas filhas, a um evento religioso que ocorria em uma universidade local, fingindo que a vítima era sua esposa.
O comportamento "robótico" das crianças, todavia, acabou chamando atenção das guardas que policiavam a instituição educacional. Os policiais descobriram que Garrid era um criminoso sexual em liberdade condicional, e alertaram o oficial que cuidava do caso dele.
De forma inesperada, ele decidiu levar a jovem que havia raptado e as meninas que tivera com ela no encontro com o oficial, uma situação que despertou sua desconfiança e levou à resolução do sequestro de 18 anos.
Em entrevista de 2009 à emissora local KCRA, Garrido, que estava então detido pela justiça norte-americana, descreveu a história da abdução como "terna".
Vocês vão cair de costas, pois vão descobrir que a história é impactante e terna. Esperem só", prometeu ele. "É uma história sobre uma pessoa tendo sua vida transformada e tendo essas duas crianças, essas duas garotas, que dormiam nos meus braços toda noite", relatou ele, referindo-se às filhas que tivera com a menina que abusou, ainda conforme repercutido pela CBS.
Dugard, todavia, via o episódio criminoso de maneira muito diferente, algo que expressou com clareza em seu testemunho, que foi lido por sua mãe, Terry Probyn, no tribunal que condenou Philip.
“Escolhi não estar aqui hoje porque me recuso a desperdiçar mais um segundo da minha vida em sua presença. Ao pensar em todos esses anos, estou com raiva porque você roubou minha vida e a de minha família", dizia a mensagem, escrita pela jovem quase dois anos após sua libertação.
Tudo o que você já fez comigo foi errado e espero que algum dia você possa ver isso. Eu odiei cada segundo de todos os dias de 18 anos por causa de você e da perversão sexual que você me forçou”, acrescentou Jaycee no texto, o que foi repercutido pelo The Journal.ie em 2011.
Ao fim do procedimento judicial, Garrido foi condenado a 431 anos de prisão, enquanto sua esposa, Nancy, recebeu a pena de 36 anos.