Considerado o 63º maior artista da história, assassinato da atriz Lana Clarkson levantou dilema na carreira de Phil Spector
Considerado um gênio musical de seu tempo, Phil Spector tinha apenas 17 anos quando alcançou o Top10 dos Estados Unidos tocando ‘To Know Him Is To Love Him’ com os The Teddy Bears.
Mas foi seu papel como produtor quer o colocou em um patamar único. Nessa função, atuou com algumas das maiores estrelas da música, revolucionando o cenário pop ao criar a "parede sonora" — com seu efeito denso e em camadas.
Aos 21, Spector já era milionário, produzindo sucessos para nomes como Tina Turner, The Ronettes, The Righteous Brothers, Cher, Bruce Springsteen, Ramones e The Beatles — sendo responsável, inclusive, pelo trabalho de destaque dos Garotos de Liverpool, o disco ‘Let it Be’. Ele também esteve ao lado de John Lennon em 'Imagine'.
Embora considerado genial, Phil Spector entra naquela lista de debate sobre: ‘É possível separar a arte do artista?
Afinal, o produtor induzido ao Hall da Fama do Rock e ao Hall da Fama dos Compositores, e que também foi considerado pela revista Rolling Stone como o 63º maior artista da história, assassinou a atriz Lana Clarkson com um único tiro na boca, em 2003.
Na noite de 2 de fevereiro de 2003, Phil Spector encontrou um amigo para jantar em Los Angeles. Segundo matéria da News Sky, diversas testemunhas relataram que o produtor havia consumido muito álcool.
Mas apesar de sua evidente embriaguez, a noite estava longe de terminar para ele. Após idas e vindas por redutos hollywoodianos, Spector acabou fazendo sua última parada no clube House of Blues na Sunset Strip de Los Angeles.
Por lá, o produtor conheceu a atriz Lana Clarkson, que trabalhava como recepcionista do estabelecimento. Após altas horas de conversa, Phil Spector a convidou para lhe acompanhar até sua mansão em Alhambra, na Califórnia — uma residência de 33 quartos com torres empoleiradas em uma colina, descreve o The Guardian. Duas horas depois, porém, Lana estava morta.
Já na madrugada de 3 de fevereiro, o motorista do produtor, o estudante brasileiro Adriano de Souza, relatou ter ouvido um barulho dentro da propriedade. Em segundos, Phil saiu por uma porta e disse:
Acho que matei alguém”, reporta a News Sky.
Minutos depois, os policiais chegam até a mansão e encontram o cadáver de Lana Clarkson caído ao lado de uma cadeira com um único tiro na boca, que quebrou seus dentes e os deixou espalhados pelo tapete.
À revista Equire, em 2003, Phil Spector disse que a morte da atriz foi um “suicídio acidental” depois que ela “beijou a arma”. Segundo a BBC em 2007, os exames forenses também não conseguiram encontrar impressões digitais no revólver.
Um ponto pouco favorável a Phil, porém, era o fato de que ele já havia apontado uma arma para quatro mulheres em diferentes ocasiões, afirmou a promotoria, segundo relatado pelo The Guardian, que conseguiu a liberação dessas testemunhas para deporem no julgamento.
Por pagar uma fiança de um milhão de dólares, Phil Spector permaneceu em liberdade enquanto aguardava seu julgamento, iniciado em 19 de março de 2007. O juiz Larry Paul Fidler permitiu que o processo do Tribunal Superior de Los Angeles fosse televisionado, o que atraiu ainda mais a atenção da mídia.
No início do julgamento, o especialista forense de defesa Henry Lee foi acusado de esconder evidências cruciais que o escritório do promotor público alegou que poderiam provar a culpa de Spector.
Paralelamente a isso, o réu parecia deleitar-se da exposição da mídia e transformou o julgamento em seu grande palco de espetáculos. Usando uma peruca diferente a cada sessão, trajes extravagantes e a companhia de sua ‘esposa troféu’, como descreveu o The Guardian, Phil não foi saiu de lá condenado.
Em 26 de setembro de 2007, o juiz Fidler declarou a anulação do julgamento devido ao júri não ter chegado a um veredicto unânime.
O novo julgamento de Spector por assassinato em segundo grau começou em 20 de outubro de 2008. Embora o juiz Fidler tenha presidido novamente o caso, desta vez o processo não foi televisionado, ocasionando um Phil bem mais comportado e regrado, abandonando a teatralidade e exoticidade.
O caso foi para o júri em 26 de março de 2009 e, dezenove dias depois, em 13 de abril, o júri deu o veredicto de culpado, noticiou a BBC. Além disso, Spector foi considerado culpado de usar uma arma de fogo na prática de um crime, o que adicionou quatro anos à sentença.
Rachelle Spector, sua então esposa, defendeu o companheiro. "Minha reação, meu Deus, meu esposo foi julgado no tribunal da opinião pública, não em um tribunal de justiça. Meu objetivo principal é provar a inocência de meu marido e recuperar sua honra", afirmou Rachelle.
Phil Spector foi imediatamente levado sob custódia e foi condenado, em 29 de maio de 2009, a 19 anos de prisão no sistema prisional do estado da Califórnia — pena que ele cumpriu até sua morte, aos 81 anos, em janeiro de 2021.