Decifrada agora, tabuleta babilônica seria a prova definitiva
A Torre de Babel é uma das passagens mais curiosas da Bíblia. Teria sido construída por descendentes de Noé após o grande Dilúvio, com a intenção era de eternizar seus nomes, num tempo em que humanos, saídos da mesma arca, falavam uma única língua. Para isso, tentaram construir uma torre que chegasse aos céus. Deus não gostou da arrogância humana e decidiu impedir a construção. Amaldiçoados, os homens passaram a falar várias línguas. Sem poder se comunicar, pararam a construção e se dispersaram pelo mundo.
Uma torre chegando aos céus é dessas histórias bíblicas que são tidas como pura invenção pelos céticos ou uma mera alegoria para os crentes mais moderados. Mas parece que nessa a Bíblia acertou: talvez não na parte da língua, nem na data, mas na da torre. O professor Andrew George, da Universidade de Londres, afirma que uma tabuleta cuneiforme, encontrada há um século, mas traduzida apenas agora por ele, prova que, sim, uma torre gigante existiu e inspirou a narrativa bíblica.
A maior prova é que a torre foi desenhada na tabuleta, conforme pode ser visto abaixo:
As linhas foram destacadas digitalmente / Smithsonian
A imagem mostra a figura de um zigurate, uma torre babilônica, com sete degraus e 91 metros da altura. Ao lado, rei com um chapéu em forma de cone. O texto traz detalhes sobre a construção, encomendada por Nabucodonosor II - aquele que, na Bíblia, aparece como um arqui-inimigo dos judeus que é punido por sua crueldade com a insanidade, forçado a andar de quatro. "Ali se lê: 'do Mar Superior, que é o Mediterrâneo, ao Mar Inferior, que é o Golfo Persa, das terras distantes e das pessoas em suas habitações, eu mobilizei para fazer este prédio'", afirma George. " A tabuleta comprova que a Torre de babel não é apenas uma passagem bíblica e sim uma torre que realmente existiu.''
Além de mostrar a construção da torre e os arredores, a figura aponta que o topo do edifício havia sido construído para observar as estrelas e realizar cerimônias religiosas. Segundo o arqueólogo, essa é a primeira vez que um artefato histórico traz alguma comprovação firme sobre a grande torre.
E ele arrisca uma teoria para a parte da linguagem: ''No local onde a torre foi construída existem muitas pessoas, que falam vários idiomas; deve ser a partir disso que a bíblia fala da suposta confusão de línguas''. Para deixar claro, Andrew George está longe de defender o literalismo bíblico. "Como um assiriologista, eu não lido com a Bíblia e não sou uma pessoa religiosa", afirma. "Mas, neste caso, posso dizer que existiu um prédio real que parece ter sido a inspiração para a narrativa bíblica."
Na narrativa Bíblica, a Torre de Babel seria datada de milênios antes da existência do Império Neo-Babilônico, responsável pelo cativeiro dos judeus e a construção da torre descrita na tabuleta. E aqui entra a diferença entre o historiador e o fiel: para a maioria dos acadêmicos, o Torah/Pentateuco, que inclui o Livro de Gênesis, onde é mencionada a Torre de Babel, foi escrito não por Moisés, mas por rabinos durante o cativeiro da Babilônia. O que quer dizer que os judeus encontraram o zigurate de Nabucodonosor antes de criar a narrativa sobre uma torre idêntica.