Há 510 milhões de anos, ocorreu a chamada primeira grande extinção em massa, que dizimou cerca de 45% de toda a vida oceânica da Terra; mas como?
Quando se fala sobre uma "grande extinção em massa", logo se pensa naquela que deu fim aos dinossauros que viveram na Terra durante o período Triássico — iniciado há 248 milhões de anos e que durou 40 milhões, no total.
Porém, foi muito antes disso, há mais de 500 milhões de anos, que ocorreu o primeiro evento deste tipo, que dizimou cerca de 45% de toda a vida oceânica existente após a explosão cambriana (o aparecimento de várias novas espécies).
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Durante anos, pesquisadores pensavam que a morte súbita de tantas espécies teria sido causada pela rápida disseminação de condições de pouco oxigênio pelo globo, que teria coberto o fundo do mar com grande quantidade de matéria orgânica em decomposição e sugado grandes parte de oxigênio para lá.
Entretanto, um estudo recente sugere que, na verdade, a onda de morte pode ter sido provocada pelo sufocamento dos animais por um gás tóxico: sulfeto de hidrogênio, composto por hidrogênio e enxofre.
Esse produto químico é letal para todos os animais marinhos", afirma Chao Chang, geoquímico da Northwest University em Xi'an, na China, e coautor do estudo, ao WordsSideKick.com. "Basicamente, nenhum animal poderia sobreviver num ambiente como esse por muito tempo."
Publicado na revista Geophysical Research Letters, o estudo observou a chamada Plataforma Yangtze, um enorme planalto localizado no sul da China que, no passado, era submerso. Lá, os pesquisadores encontraram molibdênio em abundância, um elemento químico cujas concentrações em sedimentos podem variar conforme a química da água circundante — logo, é um bom indicador das condições oceânicas do passado.
Conforme descrito pela Live Science, amostras referentes ao primeiro período de extinção em massa continham altos níveis de molibdênio. Assim, os pesquisadores concluíram que poderia ter havido altos níveis de sulfeto de hidrogênio na água, visto que a substância "pode se combinar com o enxofre para formar compostos insolúveis" que depois se depositam em sedimentos, explica Chang.
Segundo Chao Chang, "no estágio atual, ninguém pode dizer ao certo o que causou a expansão das águas sulfídicas". Porém, o que as pesquisas sugerem é que um déficit de oxigênio teria matado várias espécies e as afundado no mar e, uma vez em decomposição, seriam um banquete para micro-organismos decompositores. E à medida que estes se alimentavam, consumiam o sulfato que ocorria naturalmente na água, que seria transformado sulfeto de hidrogénio, que se espalharia pela água e desencadearia uma onda tóxica pelos oceanos.
Além disso, apesar de os pesquisadores analisarem amostras provenientes apenas da China moderna, eles acreditam que a contaminação teria ocorrido em escala global pois até que o molibdênio fosse removido do fundo do oceano, as águas do mar já teriam "se misturado completamente muitas e muitas vezes". Logo, os níveis de molibdênio encontrados em uma porção de sedimentos oceânicos refletiria a média do mar de todo o globo.
Agora, será mantida uma pesquisa de acompanhamento para que se possa, eventualmente, estabelecer em definitivo o que causou as condições de pouco oxigênio e a onda tóxica que logo se seguiu, conforme pontua Chang. Com isso, pode ser possível determinar, por exemplo, os limites de habitabilidade da Terra.
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