Roubada de negociante de arte judeu pelos nazistas, pintura do século 17 está em posse do Tate Britain e será devolvida aos bisnetos de Samuel Hartveld
Publicado em 29/03/2025, às 11h00
Uma pintura do século 17 criada pelo artista britânico Henry Gibbs já está na coleção do museu Tate Britain, em Londres, há 31 anos; mas agora será devolvida aos descendentes de um colecionador de arte judeu.
A obra, 'Eneias e sua família fugindo de Troia em chamas', pertencia ao negociante de arte judeu Samuel Hartveld, até que ela foi roubada pelos nazistas de uma galeria em Antuérpia, na Bélgica, depois que o proprietário foi forçado a fugir em maio de 1940, apenas oito meses após o início da Segunda Guerra Mundial.
A pintura, conforme repercute o The Guardian, retrata uma cena emblemática do antigo poema 'A Eneida', de Virgílio, que conta a história de Eneias, um troiano que fugiu durante a queda de Troia e viajou até a Itália, tornando-se um ancestral dos romanos. Na cena, vemos Eneias tentando resgatar sua família da cidade em chamas.
Hartveld, um bem-sucedido negociante de arte, precisou fugir de Antuérpia para Nova York com sua esposa, Clara Meiboom, forçados a deixar para trás várias posses preciosas, entre eles a pintura de Henry Gibbs. O filho do casal, Adelin Hartveld, continuou na Bélgica, e se juntou à resistência; porém, foi capturado e, eventualmente, executado pelos nazistas.
Hartveld e sua esposa conseguiram sobreviver à guerra, mas o colecionador de arte nunca mais se reuniu com suas pinturas; ele faleceu em setembro de 1949. A maioria das obras foi saqueada e vendida pelas autoridades alemãs, e algumas delas hoje podem estar espalhadas por galerias de toda a Europa. A pintura que será devolvida foi adquirida pelo Tate da Galeria Jan de Maere, em Bruxelas, por exemplo.
Em maio de 2024, dois dos três bisnetos de Hartveld entraram com um pedido de restituição da obra por meio de um fundo criado em nome de sua mãe, Sonia Klein. E recentemente, o Painel Consultivo sobre Espoliação, que considera alegações sobre obras de arte saqueadas pelos nazistas e agora estão em coleção pública do Reino Unido, confirmou a devolução.
"As reivindicações legais e morais de restituição desta pintura pelos bisnetos e herdeiros de Samuel Hartveld, que foi forçado a fugir de sua terra natal, deixando para trás sua propriedade, livros e coleção de arte, são óbvias. A propriedade, a biblioteca e as pinturas em sua galeria foram saqueadas como um ato de perseguição racial", pontua o relatório do painel.
O Tate, por sua vez, sequer contestou a alegação: "É um profundo privilégio ajudar a reunir esta obra com seus legítimos herdeiros... Embora a procedência da obra de arte tenha sido amplamente investigada quando foi adquirida em 1994, fatos cruciais sobre a propriedade anterior da pintura não eram conhecidos", disse a diretora do Tate, Maria Balshaw, em comunicado.