A intervenção artística de Yhuri Cruz representa a libertação da escrava Anastácia e simboliza a arte em frente à marginalização
Em 2020, o artista Yhuri Cruz desenvolveu uma intervenção em uma peça de arte datada de 1817, um retrato da figura santa e heroína para diversas culturas, a escrava Anastácia. Na pintura original, do francês Jacques Etienne Arago, a mulher aparece com grilhão no pescoço e mordaça, retirada nesta nova versão, intitulada "Anastácia Livre".
Um símbolo de liberdade do povo negro e quebra das restrições do racismo, a intervenção de Cruz foi protagonista na camiseta de Linn da Quebrada, agitadora cultural, cantora, apresentadora e atriz, nesta quinta-feira, 20. A artista entrou na ‘casa mais vigiada do Brasil’ com esta peça em uma maneira de reparação histórica.
Linn da Quebrada, nome artístico de Lina Pereira dos Santos, é uma mulher negra e trans, e sempre foi extremamente verbal em relação à sua marginalização e os preconceitos que assolam a nossa sociedade, inclusive o racismo.
A escolha de utilizar uma peça de arte completamente dedicada ao antirracismo abre uma discussão desta marginalização na sociedade brasileira e já mostra um dos grandes valores de Linn.
“Anastácia Livre é uma viagem no tempo. É voltar ao passado e libertar essa mulher negra escravizada que veio do Congo no século XVIII e foi condenada à mordaça pelo resto da vida por lutar contra um homem branco que a violentou sexualmente. Se tornou a 'escrava santa' por sua firmeza, mas refém à uma iconografia colonial. Em 'Monumento à voz de Anastácia', trabalho que exponho hoje, ergo um monumento à voz dela. Uma voz negra, feminina, de luta pela existência”, diz a legenda presente na rede social da artista, que fora escrita por Yhuri Cruz.
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No quadro original, Anastácia, que foi condenada à mordaça por toda sua vida por ter lutado contra um homem branco que a violentou, ainda apresenta estes instrumentos de tortura em sua figura, no entanto, a representação de Yhuri Cruzreverte isto e a dá liberdade, além de dignidade que a santa heroína merece.