A escola apresentou um enredo enaltecendo mulheres que perderam seus filhos, baseado em um livro afrofuturista, que esgotou de plataforma online
A Portela levou para a Avenida neste ano o enredo baseado no romance 'Um defeito de cor', de Ana Maria Gonçalves, que conquistou o Estandarte de Ouro e tem cativado os leitores com uma história de amor verdadeiro pelo carnaval. Publicado em 2006, o livro alcançou o topo da lista de mais vendidos da Amazon, dezoito anos após seu lançamento.
Vencedor do Prêmio Casa de las Américas e uma referência em temas como ancestralidade africana e os impactos da escravidão no Brasil, "Um defeito de cor" está indo para sua trigésima edição. Desde o lançamento, foram vendidas 100 mil cópias, mas esse número está prestes a aumentar significativamente durante o carnaval.
Durante o desfile da Portela, a edição mais antiga do romance esgotou duas vezes entre a noite de segunda-feira, 12, e a manhã de terça-feira, 13. O desfile da Portela ampliou o alcance desse épico de quase mil páginas, apresentando-o a um público mais amplo.
Baseado em uma extensa pesquisa documental, o romance narra a jornada de Kehinde, uma mulher negra que, aos oito anos, é sequestrada no Reino do Daomé (atual Benin) e trazida para ser escravizada na Ilha de Itaparica, na Bahia. Inspirada em Luísa Mahin, que se acredita ter sido mãe do poeta Luís Gama e participado da Revolta dos Malês, Kehinde compartilha suas experiências como escrava até alcançar sua alforria.
Desde o lançamento, "Um defeito de cor" tem acompanhado o crescente interesse do Brasil por questões raciais e pela busca por uma história não oficial do país colonizado, como informado pelo portal O Globo.
Lívia Vianna, editora-executiva do Grupo Editorial Record, que publica o livro no Brasil, destaca a proximidade de Ana Maria Gonçalves com a Portela, incluindo eventos de autógrafos na quadra da escola, onde o livro esgotou. Bianca Monteiro, rainha de bateria da Portela, lançou um curso sobre Kehinde, contando com a participação da escritora, demonstrando o forte vínculo entre a comunidade da Portela e o livro.
Em 2022, uma edição especial de 'Um defeito de cor', com novo projeto gráfico e obras da artista plástica Rosana Paulino, foi lançada, apresentando também o conto afrofuturista inédito 'Ancestars', a primeira obra de Ana Maria Gonçalves desde o lançamento do romance.
O desfile da Portela também homenageou mulheres que perderam seus filhos para a violência no Rio, como Marinete da Silva, mãe da vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018, e Jackeline Oliveira, mãe de Kathlen Romeu, grávida morta no Lins em 2021.