Autoridades britânicas estão sendo pressionadas a explicarem o motivo dos responsáveis de cometer crimes de guerra não terem sido julgados
As autoridades do Reino Unido estão sendo pressionadas para explicarem o motivo dos responsáveis por cometer crimes de guerra em solo britânico nunca terem sido levados a julgamento.
Um inquérito oficial sobre as atrocidades nazistas cometidas em Alderney, nas Ilhas do Canal, está sendo instaurado, mas ainda carece de ações práticas, conforme aponta professor Anthony Glees, especialista em segurança e inteligência que assessorou o inquérito de crimes de guerra de Margaret Thatcher.
"Esta é uma oportunidade vital para estabelecer todos os fatos e deve examinar por que aqueles que perpetraram tais crimes de guerra hediondos nunca foram levados a julgamento neste país. A revisão das atrocidades em Alderney deve ser muito bem-vinda, mas acredito que não deve se concentrar apenas no número de mortos, por mais importante que seja", disse ao The Observer.
Na semana passada, o jornal britânico informou que Lord Pickles, enviado especial para questões pós-Holocausto, publicaria um inquérito sobre o número de prisioneiros assassinados pelos nazistas na dependência da coroa britânica.
Entretanto, Glees sugere que a investigação precisaria se aprofundar mais nos eventos ocorridos na ilha britânica, com o intuito de descobrir detalhes de um dos momentos mais sombrios da História.
Segundo o professor, após a Segunda Guerra Mundial, o princípio orientador era que os criminosos de guerra fossem entregues ao país onde seus crimes teriam sido cometidos. "Aqueles que foram responsáveis pelos crimes em Alderney deveriam ter sido colocados no banco dos réus em Old Bailey", explicou.
Assim, afirmou que escreveria a Pickles para entender o escopo do inquérito, algo que foi apoiado pela deputada trabalhista Margaret Hodge, filha de refugiados judeus que fugiram dos nazistas.
O inquérito deve investigar por que os oficiais nazistas responsáveis por tais barbaridades nas Ilhas do Canal foram libertados pelas autoridades britânicas e nunca levados à justiça", disse Hodge.
Segundo o The Guardian, centenas de prisioneiros foram mortos quando os nazistas ocuparam Alderney, onde estabeleceram campos de trabalho escravo — incluindo um usado pela SS como campo de concentração. Quando a ilha foi libertada, os altos oficiais nazistas foram presos pelas autoridades britânicas, mas jamais julgados por suas ações.
Anthony Glees diz acreditar que o número de pessoas assassinadas em Alderney ou enviadas da ilha para campos de extermínio na Europa provavelmente está na casa dos milhares.
Há mais de 40 anos, o The Observer revelou que a história de que o Comandante de Alderney, Major Carl Hoffman, havia sido entregue às autoridades soviéticas era falsa. Hoffman ficou detido no Reino Unido até 1948, quando foi liberado para a Alemanha Ocidental, onde morreu pacificamente em 1974.
Mas o episódio com o comandante não é um caso isolado. O capitão Maximilian List estava no comando da SS Camp Sylt em Alderney. Ele foi identificado após a Guerra em um campo para prisioneiros. Maximilian deveria ter sido entregue às autoridades russas, mas acabou indo morar na Alemanha Ocidental até a década de 1970.
A Ilha do Canal abrigou diversos campos nazistas de trabalho de escravos, que ajudaram a construir as defesas alemãs conhecidas como Muralha do Atlântico. Quando a SS assumiu um deles, agiram sob o princípio Vernichtung durch Arbeit (extermínio pelo trabalho).
Por lá, presos foram torturados, baleados e até receberam injeções fatais. Os mais doentes eram enviados para os campos de extermínio em outras partes ocupadas da Europa — como em Drancy, um campo de trânsito em Paris; ou até mesmo para Auschwitz.