Descoberta de organela capaz de fixar nitrogênio desafia concepção estabelecida na biologia, de acordo com pesquisadores
Uma equipe internacional de pesquisa registrou a primeira organela em uma célula eucarióticacapaz de fixar nitrogênio, em uma descoberta publicada na revista Science em 11 de abril.
Conhecida como "nitroplasto", essa descoberta desafia a concepção estabelecida na biologia, que sugere que somente bactérias têm a capacidade de capturar nitrogênio da atmosfera e convertê-lo para uso pelas plantas.
Desde 1998, os cientistas investigavam um organismo misterioso denominado UCYN-A. Na ocasião, Jonathan Zehr, professor de ciências marinhas na Universidade da Califórnia em Santa Cruz, nos EUA, descobriu no oceano Pacífico uma sequência de DNA que parecia pertencer a uma cianobactéria fixadora de nitrogênio desconhecida.
Enquanto isso, Kyoko Hagino, paleontóloga da Universidade de Kochi, no Japão, tentava cultivar uma alga marinha e descobriu que essa alga era o hospedeiro do UCYN-A.
Artigos recentes sobre o caso apontam que o UCYN-A teria evoluído com seu hospedeiro após a simbiose e que pode ser considerado uma organela. Isso representa o quarto exemplo de endossimbiose primária na história da vida na Terra, um processo em que uma célula procariótica é engolfada por uma célula eucariótica e evolui para uma organela.
Tyler Coale, pesquisador de pós-doutorado na UC Santa Cruz, destaca que esse evento de endossimbiose primária é crucial para o desenvolvimento da vida complexa. De acordo com o portal Galileu, ele compara esse evento às origens das mitocôndrias, que deram origem a toda a vida complexa na Terra, e aos cloroplastos, que surgiram há cerca de 1 bilhão de anos e deram origem às plantas.
A semelhança com uma organela é evidente pela sincronização das taxas de crescimento entre a célula hospedeira e o UCYN-A, além da importação de proteínas das células hospedeiras pelo UCYN-A, indicando uma evolução de endossimbionte para organela. Essa nova organela foi encontrada em várias localidades, desde os trópicos até o oceano Ártico, sugerindo que outros organismos com histórias evolutivas semelhantes podem ser descobertos.