Em pesquisa, biólogos e arqueólogos localizaram artefatos dos primatas, demonstrando o desenvolvimento cognitivo dos ancestrais humanos na América
No Piauí, foi descoberta uma série de vestígios de um grupo de macacos-prego que fez uso de ferramentas para quebrar sementes e pedras há pelo menos 3.000 anos, adaptando as ferramentas com o tempo e dependendo do tipo de alimento em que eram utilizadas. A descoberta é de suma importância nos estudos do desenvolvimento cerebral dos primatas no isolamento do continente americano.
A pesquisa partiu de materiais escavados no Boqueirão da Pedra Furada, cidade de São Raimundo Nonato, no sertão piauiense. A equipe envolveu diversas áreas do conhecimento, como biologia, psicologia, etologia e arqueologia. Os pesquisadores apontaram que os macacos passaram o conhecimento artefatual um para o outro, de modo cultural.
Trata-se de técnicas de lascamento que envolvem o uso de uma bigorna e um martelo, feitos de pedra. Era usado principalmente na produção de materiais líticos e para a quebra de sementes. Na estratigrafia do campo, é possível traçar a evolução do uso dessas ferramentas nos 3.000 anos de ocupação territorial. É visível a preferência por pedras menores durante o período. O cenário mudou há 2.500 anos, quando as pedras começaram a aumentar - só há 100 anos que existe um retorno do uso de pedras menores.
Para que a pesquisa fosse realizada, foi necessário isolar uma área de habitação na Serra da Capivara que não fosse ocupada anteriormente por seres humanos. No caso dos artefatos líticos, é mas fácil a percepção de que são materiais feitos por macacos, pois as pedras lascadas humanas eram maiores que as lascas usadas pelos macacos-prego.
A descoberta é importante para os estudos aprofundados sobre os utensílios artefatuais primatas. Além dos seres humanos, os macacos-prego são os únicos primatas do Continente Americano que produziram ferramentas. Em geral, isso ocorre entre animais de hábitos terrestres, que têm mais contato com pedras.