Documentos históricos armazenados na antiga sede do IML (Instituto Médico Legal) do Rio de Janeiro foram encontrados em estado precário de conservação
A antiga sede do IML (Instituto Médico Legal) do Rio de Janeiro, desativada desde 2009, abriga documentos históricos relacionados às ditaduras do Estado Novo (1937-1945) e do regime militar (1964-1985). No entanto, o acervo enfrenta problemas de conservação, incluindo exposição a fezes de pombos, conforme relataram especialistas que visitaram o local na última quinta-feira.
O material foi descoberto durante visitas de pesquisadores e movimentos ligados à memória das vítimas da ditadura, incluindo membros da seção fluminense do MPF (Ministério Público Federal). Estão previstas mais quatro visitas ao longo deste mês, com o objetivo de avaliar a documentação preservada no prédio da Lapa.
De acordo com o historiador Lucas Pedretti, que participou da última visita, o acervo contém itens em boas condições, mas também apresenta materiais armazenados de forma inadequada. Fichários históricos estavam cobertos por restos de fezes de pombos, e gavetas encontravam-se espalhadas pelo chão. Imagens obtidas pelo UOL mostram pilhas de livros que chegam ao teto em uma das salas, enquanto alguns documentos foram encontrados dentro de sacos de lixo.
Embora a maior parte dos papéis ainda não tenha sido identificada, já foram localizadas fichas funcionais de agentes do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), datadas da década de 1930. O Dops atuou como uma polícia política estadual tanto no Estado Novo quanto no regime militar. Além disso, há registros fotográficos de presos e perícias realizadas pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli, que incluem imagens de pessoas detidas em diversas delegacias do Rio de Janeiro.
Questionada sobre as condições do acervo, a Polícia Civil do Rio, responsável pelo local, não se pronunciou sobre o estado de conservação. A corporação afirmou apenas que o acesso ao material depende de um acordo de cooperação técnica, ainda sem previsão para ser assinado.
Os ativistas do coletivo Memória, Verdade, Justiça e Reparação defendem que a documentação seja tornada pública e entregue ao Arquivo Público do Estado do Rio, garantindo consulta livre e preservação adequada. Há expectativa de que o MPF colabore para viabilizar o acordo que permitirá o acesso completo aos documentos.