Após o Estado Islâmico devastar severamente o sítio arqueológico, especialista buscam restaurar as 'joias da Mesopotâmia'; entenda!
Uma década após a devastação provocada por combatentes jihadistas em Nimrud, Iraque, arqueólogos estão empenhados em restaurar as preciosas relíquias da antiga civilização assíria, que agora se encontram fragmentadas em milhares de pedaços.
O sítio arqueológico, que outrora representou o ápice do império assírio, foi severamente danificado em 2014, quando o Estado Islâmico (EI) conquistou vastas áreas do Iraque e da Síria. A destruição de obras de arte pré-islâmicas pelos jihadistas deixou um legado de ruínas e desafios para os especialistas em patrimônio cultural.
Apesar da enormidade da tarefa de reconstituição, os arqueólogos permanecem determinados e otimistas. "Cada vez que conseguimos reconectar uma peça ao seu lugar original, é como uma nova descoberta", afirmou Abdel Ghani Ghadi, especialista que atua no local, à AFP.
A equipe já recuperou mais de 35.000 fragmentos através de escavações meticulosas realizadas por arqueólogos locais, e mais de 500 peças foram identificadas como destruídas. A localização das escavações fica a cerca de 30 quilômetros de Mosul, onde o EI estabeleceu sua capital autoproclamada.
Os cientistas têm trabalhado arduamente para remontar baixos-relevos e esculturas que retratam criaturas míticas que decoravam o palácio do rei assírio Ashurnasirpal II, construído há quase 3.000 anos. Com paciência e precisão, eles estão lentamente unindo as peças desse quebra-cabeça histórico, agora cobertas por uma lona verde no local.
Entre os achados estão lamassus — figuras representando divindades assírias com cabeças humanas e corpos de touro ou leão —, além de tábuas escritas em cuneiforme. Ghadi enfatizou a importância dessas esculturas: "Estas são joias da Mesopotâmia. Nimrud pertence à humanidade; sua história remonta a milênios".
A história do sítio é rica: fundado no século 13 a.C., Nimrud floresceu no século 9 a.C., servindo como uma das capitais do império assírio. No entanto, a barbaridade do EI foi amplamente divulgada em vídeos de propaganda que mostraram a destruição sistemática dos monumentos com escavadeiras e explosivos. Entre os muitos alvos estava o templo dedicado a Nabu, deus da sabedoria e da escrita.
Além de Nimrud, outros locais históricos também sofreram danos significativos sob o regime do EI, incluindo o Museu de Mosul e a antiga cidade síria de Palmyra. Embora o grupo jihadista tenha sido derrotado em 2017 no Iraque, os esforços para restaurar Nimrud só começaram no ano seguinte, sendo temporariamente suspensos devido à pandemia de COVID-19. As atividades foram retomadas em 2023.
Segundo Mohamed Kasim, do Instituto de Pesquisa Acadêmica do Iraque, atualmente o trabalho consiste na coleta e identificação dos fragmentos. Ele informou que aproximadamente 70% do processo foi concluído e ainda há mais um ano até que as restaurações possam ser iniciadas efetivamente.
Kasim descreveu a tarefa como "uma operação complexa", ressaltando a colaboração estreita entre sua equipe e arqueólogos iraquianos para preservar esse importante patrimônio cultural.
A destruição maciça causada pelo EI dificultou a identificação das antiguidades roubadas. O ministro da Cultura do Iraque, Ahmed Fakak al Badrani, mencionou que estima-se que levará cerca de uma década para que as maravilhas do palácio do rei Ashurnasirpal II possam ser plenamente restauradas e exibidas novamente.
Nimrud ganhou reconhecimento internacional desde o século 19, quando começou a ser escavado, especialmente pelas imponentes figuras de lamassus que hoje podem ser vistas no Museu Britânico e no Louvre.
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