Nascida da modificação de carros e viva até hoje, a “Kontrakultura” com k é um universo que inspirou e ainda inspira rebeldes, artistas e punks
Um dos pilares da cultura, os hot rods nasceram nos anos 20, a era da Lei Seca. Calhambeques como o Ford T ao lado foram primeiro modificados para contrabandearem bebidas ilegais, escapando da polícia. Na década seguinte, surgiram corridas com esses carros, modificados para terem mais motor e menos peso. Após a Segunda Guerra, veteranos que receberam treinamento como mecânicos começaram a fazer hot rods eles mesmos. Nascia a Kultura Kustom.
O Hirohata Merc é uma das pedras fundamentais da cultura. Criado a partir de um Mercury Eight 1951. Em 1953, na oficina dos irmãos George e Sam Barris, teve seu teto cortado (rebaixado), janelas modificadas, uma saia instalada ao lado, e, em geral, foi “frankensteinizado” com partes retiradas ou inspiradas em modelos da Buick, Ford, Lincoln, Cadillac e Chevrolet. Ganharia 150 prêmios nas exibições onde foi apresentado. O dono Bob Hirohata (daí o nome) o venderia e ele passaria por diversas mãos, até parar nas do adolescente de 16 anos Jim McNiel, dono ainda hoje, que o usou no dia a dia por muitos anos. Mercuries rebaixados continuam a ser criados até o dia de hoje.
Ed “Big Daddy” Roth (1932-2001) foi um dos maiores responsáveis, senão o principal, por transformar a Kultura Kustom em algo mais que carros modificados. Nos anos 60, ele ia a convenções de customizadores e vendia camisetas e pôsteres com suas criações – a mais famosa ao lado, Rat Fink, paródia grotesca de Mickey Mouse, que seria um ícone da contracultura. Com isso pagava por seus próprios veículos. O Orbitron, de 1964, desapareceria, seria achado no México, em 2007, e restaurado à sua glória em acrílico e fibra de vidro, com bancos de pele e uma TV colorida. As luzes deveriam projetar branco, unindo as três cores. Não funciona.
Kenny Howard (1929-1992) foi outro fundador, começou pintando carros nos anos 50, criando o icônico olho voador. Ao lado, um roadster de 1929 decorado em 1955. Von Dutch foi um pseudônimo de “ser teimoso como um holandês”. Suas irmãs venderam o nome após sua morte, dando origem à grife. Nome polêmico: em 2004, um velho parceiro revelou suas tendências racistas.
O Red Baron (Barão Vermelho), foi criado por Tom Daniel e construído por Chuck Miller em 1969. Ele revela um favorito problemático da Kultura Kustom: a cruz de ferro. É um símbolo usado pelos nazistas, mas que precede a eles (o modelo deixa claro que se inspira na Primeira Guerra, não na outra). Foi usada por puro efeito de choque nos anos 60 e segue firme até hoje. O Barão até mesmo virou um brinquedo, um Hot Wheels.
Os lowriders (algo como “de digirir baixo”) são uma forma de customização que surgiu com um público diferente do da kultura kustom: entre os latinos de Los Angeles. Pintados com cores e temas remetentes à cultura mexicana, tinham as molas da suspensão cortadas para um passeio bem próximo ao solo, bem devagar, para se exibir na rua. Em 1958, uma lei de Los Angeles foi criada tendo como alvo os mexicanos, tornando ilegal qualquer carro que tivesse componentes abaixo das calotas. No ano seguinte,
o customizador Ron Aguirre criou um mecanismo hidráulico capaz de regular a altura, de forma a escapar da multa. E criou o novo padrão, capaz até de dar saltos. Como o Gypsy Rose ao lado, um impala 64 que cruzou as ruas de Los Angeles nos anos 70.
O Charger 1969 ao lado participa das corridas de dragster na categoria “funny car” (carro divertido). O nome só quer dizer um dragster com o motor na frente e acabaram assumindo a forma icônica de um carro com uma roda traseira desproporcional. Mas não é brincadeira: um funny car custa até US$ 3 milhões.
Quando os hot rods surgiram, na Grande Depressão e depois no pós-guerra, as pessoas não tinham dinheiro para extravagâncias. Os rat hods são um estilo inspirado nesse tempo mais simples, fazendo os modelos parecerem a um tempo inacabados e usados. Mas são uma ideia moderna: recriações fiéis são chamadas de hot rods tradicionais.