Órgão do ex-imperador do Brasil encontra-se, desde 1837, em monumento na Igreja da Lapa, na cidade do Porto
Fabio Previdelli | @fabioprevidelli_ Publicado em 11/06/2022, às 00h00 - Atualizado em 22/07/2022, às 19h00
No próximo dia 7 de setembro, o Brasil celebra os 200 anos da Independência — eternizada pela imagem de Dom Pedro I às margens do Rio Ipiranga em 1822. Conforme relatado pela equipe do site Aventuras na História, o governo brasileiro iniciou conversas com representantes portugueses para que uma parte do ex-imperador estivesse em solo tupiniquim durante as comemorações: seu coração.
Em junho, o governo de Portugal confirmou que o país tem autorização para receber o coração do imperador do Brasil, contudo, enfatizou que o translado vai depender do país garantir o transporte seguro, além da conservação do coração de Dom Pedro I.
Mas, afinal, por que o coração de Dom Pedro I foi separado de seu corpo? Como é conservado o órgão do imperador que proclamou nossa independência?
Dom Pedro I faleceu em 24 de setembro de 1834, mas a história sobre o que motivou a separação do seu coração de seus restos mortais se inicia bem antes disso. Após proclamar a Independência do Brasil, Pedro I tornou-se o primeiro imperador do país.
Durante seu governo, período chamado de primeiro reinado, o imperador enfrentou diversas críticas por conta de seu autoritarismo e de sua gestão centralizadora. A situação ficou ainda pior em 1826, quando seu pai, Dom João VI, veio a falecer.
Com isso, iniciou-se, em Portugal, uma crise de sucessão ao trono. Aclamado Rei de Portugal, Pedro I nomeou sua filha, D. Maria II, como herdeira do trono, mas teve que lutar contra seu irmão, Dom Miguel, a fim de restaurar o poder para ela.
Antes disso, porém, segundo aponta matéria da Biblioteca Nacional, o imperador abdicou do trono brasileiro em 7 de abril de 1831 — deixando seu filho, Pedro de Alcântara, o D. Pedro II, em seu lugar. Na época, o novo imperador tinha apenas 5 anos de idade.
Horas depois da decisão, Pedro I e sua esposa, Dona Amélia, embarcaram para Portugal — onde o ex-imperador do Brasil lutou na Guerra Civil Portuguesa em julho de 1832. Com o fim do conflito, a saúde de Pedro I já estava debilitada e tudo ficou ainda pior depois que ele contraiu tuberculose, morrendo em consequência da doença semanas depois.
Antes de partir, porém, o ex-imperador do Brasil declarou em seu testamento que queria que seu coração permanecesse na cidade do Porto, devido à gratidão pela resistência na luta das forças liberais contra as tropas absolutistas de D. Miguel. Desde 1837, o órgão encontra-se em um monumento na Igreja da Lapa.
Em 1972, durante as comemorações dos 150 da Independência, as demais partes dos restos mortais de D. Pedro I foram trazidas ao Brasil, e estão no bairro do Ipiranga, em São Paulo. Mais precisamente, na cripta do Monumento à Independência.
Por conta da idade do órgão, todo cuidado com o coração de Dom Pedro I é essencial. Em 2013, o portal português Público.pt publicou uma matéria dando mais detalhes sobre o processo de conservação do coração.
“Não podemos vê-lo [com frequência], porque o coração é órgão frágil e este tem muitos anos. Receamos que possa estar em estado precário. As operações são muito complexas, tudo isso agita muito e temos receio de um mau resultado. Tentamos que se abra o menos possível”, explicou Ribeiro da Silva, historiador e mesário da Ordem da Lapa.
E quando Ribeiro da Silva fala em ter o menor contato possível com o órgão, isso explica-se também pela maneira como ele é guardado: a cinco chaves.
A primeira delas permite a retirada da placa de metal cravada na porta do monumento; as duas seguintes abrem uma rede por trás desta placa; a quarta chave dá acesso à urna; e a última permite o contato com uma caixa de madeira, onde existe uma espécie de porta-joias de prata, onde o coração de Pedro I está armazenado em um recipiente de vidro.
É preciso mobilizar seis pessoas para o tirar em segurança. É uma operação que exige preparação”, aponta o historiador.
Mas os cuidados não param por aí. Por fim, segundo explica matéria do Jornal Opção, o pote de vidro que armazena o coração do imperador também possui uma solução mista de formol — usado para a conservação —, que é trocado de dez em dez anos, sendo o ano de 2015 a última vez que isso aconteceu.
No podcast 'Desventuras na História', o professor de História Vítor Soares relembra a saga de Pedro em Portugal.
Confira abaixo o episódio!