Banimento de longa em país do sudeste asiático tem relação com disputa geopolítica com a China; entenda!
Éric Moreira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 06/07/2023, às 17h24 - Atualizado em 09/08/2023, às 20h19
Neste mês de julho, chegará aos cinemas de várias partes do mundo o tão aguardado e alucinante filme da 'Barbie', dirigido por Greta Gerwig. Além dela, a produção conta com a presença de Margot Robbie e Ryan Gosling no elenco, como a personagem que dá nome ao longa e seu namorado, Ken, respectivamente.
Vale lembrar que a trama de 'Barbie' ainda é um mistério, com trailers pouco reveladores mas que mostram exatamente o que mais brilha aos olhos dos fãs: referências. A sinopse conta apenas que "depois de ser expulsa da Barbieland por ser uma boneca de aparência menos do que perfeita, Barbie parte para o mundo humano em busca da verdadeira felicidade".
No entanto, embora grande parte dos fãs de cinema e da boneca da Mattel esteja aguardando ansiosamente pelo dia 20 de julho — estreia de 'Barbie' na maioria dos países —, a população de um país asiático não vai ter essa sorte: os vietnamitas. E a razão para isso é o banimento do longa por parte do governo, devido a uma grande e histórica disputa geopolítica na região.
De acordo com o jornal estatal Tuoi Tre, do Vietnã, o motivo para a proibição do filme no país se deve por uma determinada cena que, descoberta após o lançamento do terceiro trailer, deu o que falar na região do sudeste asiático. Nela, é possível ver um mapa que atribui uma zona marítima disputada pelo país com a China, como pertencente aos chineses: a 'linha das nove raias'. Entenda!
I spent part of the morning reply guying policy peoples questions about Vietnam banning the Barbie movie with the nine dash line map with this image of the map pic.twitter.com/oqJ91HJVUh
— Lmao gan ma (@rzhongnotes) July 3, 2023
A região do Mar da China Meridional — que banha parte do sul do país, além de Hong Kong, Macau, Taiwan, Filipinas, Malásia, Brunei, Indonésia, Singapura, Tailândia, Camboja e Vietnã — é marcada por uma longa história de disputa e contestação territorial. A própria China e o Vietnã se envolveram em confrontos militares em 1974 e 1988, em disputas por terra.
Porém, com o decorrer dos anos, as disputas territoriais deixaram a terra firme e passou a se dar em pleno mar. Isso porque, no fim da década de 1940, os chineses promoveram no Mar da China Meridional a chamada 'linha das nove raias', uma linha no mapa que se estende da costa da ilha de Hainan, na China, correndo perto da costa do Vietnã, e se encerra nas ilhas Spratly.
China’s “nine-dash line” demarcation gives it control of most of the South China Sea. https://t.co/7N0S4IJnGWpic.twitter.com/iPNJuaxuLC
— Geopolitical Intelligence Services (@GIS_Reports) August 24, 2016
O problema é que a linha, desde sempre, foi razão para grande especulação sobre o que pretendia abranger no mapa, a China não deixou claro se seria uma reivindicação territorial, uma reivindicação por espaço marítimo ou outra coisa. Porém, os chineses sempre foram insistentes com sua reivindicação, tendo como adversários na disputa países como Malásia, Filipinas e o próprio Vietnã, que pretendem apresentar suas próprias reivindicações marítimas — que passariam por cima da China.
Conforme explicado por Donald Rothwell, professor de Direito Internacional, em artigo publicado no The Conversation, em 2009 ocorreu na Comissão das Nações Unidas sobre os Limites da Plataforma Continental, uma apresentação conjunta da Malásia com o Vietnã. Naquele momento, foram destacadas reivindicações de território no Mar da China Meridional que passavam por cima da linha das nove raias.
Na época, a China apenas enviou uma resposta diplomática formal às Nações Unidas afirmando ter "soberania indiscutível sobre as ilhas no Mar da China Meridional e as águas adjacentes", e que gozavam "de direitos soberanos indiscutíveis e jurisdição sobre as águas relevantes, bem como o fundo do mar e subsolo". Em anexo, enviaram uma cópia do mapa com a delimitação das nove raias.
A posição acima é consistentemente mantida pelo governo chinês e é amplamente conhecida pela comunidade internacional", encerrava o documento.
No entanto, essa afirmação não foi aceita pelos países que reivindicavam territórios marítimos, além de outras nações que os apoiavam, como Austrália, França e Reino Unido. Foi só então em 2016 que um Tribunal da Convenção do Mar das Nações Unidas decidiu que a reivindicação não se embasava no direito internacional; mas os problemas não se encerrariam por aí.
Recusando-se a aceitar e respeitar o resultado, a China continuou a enfatizar os direitos sobre a região marítima. Para isso, construiu algumas ilhas artificiais, agiu frente a aeronaves militares e navais estrangeiras que passavam por ali, intimidou pescadores de outras nações, reivindicou direitos para explorar e explorar reservas marítimas de petróleo e gás, além de seguir retratando a linha das nove raias em seus mapas.