Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Desventuras / Personagem

Marighellapalooza: um dia de comunismo, militância e música variada

Diferentes músicos que já cantaram o famoso comunista brasileiro caberiam perfeitamente num festival de música pop da atualidade

Hugo Oliveira Publicado em 09/12/2021, às 15h56

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Retrato fotográfico de Marighella - Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, via Wikimedia Commons
Retrato fotográfico de Marighella - Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, via Wikimedia Commons

Tal qual o falecido vocalista da banda de rock americana The Doors, Jim Morrison (1943-1971), que fez sucesso nos anos 60 e renasceu três décadas depois, a partir de uma cinebiografia, o ex-deputado federal comunista e opositor ferrenho à ditadura, Carlos Marighella (1911-1969), também efetuou um comeback de respeito por meio do longa que conta resumidamente sua história, “Marighella” (2019), do diretor Wagner Moura.

O lançamento da obra cinematográfica no Brasil, em 4 de novembro de 2021, levou multidões aos cinemas, sendo, até o momento, o filme nacional mais visto desde o início da pandemia. Além disso, também é surpreendente pensar que um personagem antes lembrado principalmente pela militância política e pela historiografia de um período específico do país, vem se tornando quase um símbolo pop, digno de estampar camisetas em festivais de música e até mesmo embalar refrões fáceis, extremamente fáceis – ok, nem tanto.

O Desventuras na História separou alguns nomes que cantaram a vida e a morte do “guerrilheiro que recusava a tutela do medo”, como bem escreveu o jornalista e escritor Mário Magalhães na biografia “Marighella – o guerrilheiro que incendiou o mundo”, da editora Companhia das Letras (2012). São grupos e cantores que, juntos, formariam um belo line-up num evento musical marcado pelo ecletismo e, claro, ativismo. Garanta o seu ingresso fictício e tenha um bom show.

Vanguarda Metal Revolucionária – “Marighella”

De acordo com informações divulgadas na página oficial do Youtube do projeto musical, a Vanguarda Metal Revolucionária reúne integrantes de várias bandas do cenário metal underground de São Paulo, com o objetivo de divulgar e também informar quanto à importância da conscientização política de esquerda para quem curte o gênero. A faixa em questão, “Marighella”, foi lançada em 2017, no EP “Comunismophobia” (VxMxR Produções Políticas Revolucionárias), do mesmo ano.

A banda cairia bem na abertura do festival, logo depois da derrubada do muro, ops, abertura dos portões. Com instrumental pesado e guitarras distorcidas, a música consegue passar o recado em menos de três minutos. “Nem maldito, nem mito / Nem sanguinário, nem santo / Carlos Marighella se faz visível / E foi intrépido até o fim”, diz um trecho da letra. Para cantar balançando a cabeça junto com o riff das seis cordas.

All The Postcards – “Marighella”

Nome ascendente do hardcore melódico brasileiro, o All The Postcards é um quarteto que vem da Japuíba, bairro periférico de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Em seu primeiro álbum cheio, “Fearless”, lançado em março de 2015, o conjunto incluiu não apenas uma música sobre o militante comunista baiano, mas representou o próprio na capa do disco.

Pela ordem dos shows, o grupo entraria em seguida, dando continuidade ao evento e mantendo a energia lá em cima. “Between fights, words and love / The fearless man just couldn't stop to show / That we need to keep on (we need to move on) / We need the freedom”, reflete uma parte da letra que, inclusive, ganhou o aval de Mário Magalhães, escritor da biografia que serviu de base ao filme.

El Efecto – “Carlos e Tereza”

Quinteto carioca que completa 20 anos de atividade independente em 2022, o El Efecto é daqueles nomes musicais difíceis de definir... E fáceis de se apaixonar. Numa mistura riquíssima de rock, samba, MPB e o que mais der na telha dos meninos e meninas do conjunto, homenagearam de uma vez só, na mesma canção do álbum “Memórias do Fogo” (2018), Marighella e Tereza de Benguela, esta última, líder quilombola considerada heroína negra.

O show seria o momento exato de expandir a musicalidade do festival e, ao mesmo tempo, prosseguir com a agitação, com uma série de músicas arrepiantes e inclassificáveis sendo defendidas ao vivo. “Mas tu tem que lembrar – eu me lembro! / Do dia 4 de novembro! / O sonho que o medo ofusca / Sangrando dentro de um fusca”, reforça a letra, aludindo à data da morte de Marighella.

Racionais MC’s – “Mil faces de um homem leal”

A partir de um convite para criar a canção-tema do documentário “Marighella”, da cineasta Isa Grinspum Ferraz, o grupo de rap paulista Racionais MC’s saiu de um hiato que já durava mais de 10 anos e, em 2012, lançou essa canção forte a respeito do militante, que veio acompanhada de um clipe onde os integrantes do grupo relembravam a invasão da Ação Libertadora Nacional (ALN) – incluindo o dirigente Marighella – à Rádio Nacional paulista, para transmitir um manifesto da entidade.

“Protetor das multidões / Três encarnações de célebres malandros / De cérebros brilhantes / Reuniram-se no céu / O destino de um fiel, se é o céu o que Deus quer / Consumado, é o que é, assim foi escrito / Mártir, o mito ou Maldito sonhador / Bandido da minha cor / Um novo Messias”, canta Mano Brown, num momento que certamente ia fazer com que a galera localizada no gargarejo do “Marighellapalooza” cantasse ainda mais forte.

Caetano Veloso – “Um comunista”

Para fechar o evento em clima de celebração, Caetano Veloso, um dos grandes nomes da música brasileira, teria uma missão árdua pela frente, mas que certamente seria completada com êxito a partir do momento em que a faixa “Um comunista”, do disco “Abraçaço” (2012), fosse executada pelo cantor baiano em homenagem a outro baiano, que dá nome ao fictício festival.

“Mas ninguém entendia / Vida sem utopia / Não entendo que exista / Assim fala um comunista / Porém, a raça humana / Segue trágica, sempre / Indecodificável / Tédio, horror, maravilha / Ó, mulato baiano / Samba o reverencia / Muito embora não creia / Em violência e guerrilha / Tédio, horror e maravilha”, reflete Caetano, num samba soturno, mas que dá a noção da importância de Marighella.

Daí, você imagina: Caetano agradece ao público pela presença e, ao ouvir insistentes gritos de “mais um, mais um, mais um”, chama o cantor, músico e ator Seu Jorge ao palco, simplesmente, o intérprete de Marighella no primeiro longa de Wagner Moura. A plateia vai à loucura. Daí, depois de uma rápida comunicação visual com a banda, o músico convidado canta as primeiras palavras com sofreguidão:

Vai no cabeleireiro, no esteticista...

Melhor não, né?


Pensando na saga de Carlos Marighella, o professor de História Vitor Soares, que também é a voz do podcast ‘História em Meia Hora’, narra a trajetória do guerrilheiro que se tornaria o inimigo número um da ditadura militar no Brasil nos novos episódios de nosso próprio podcast, o ‘Desventuras na História’!

Nesta série, criada em parceria com Vitor Soares, já contamos os caminhos de diversos personagens, de Maria Antonieta e Dom Pedro I a Alexandre, O Grande e Gengis Khan.

Abaixo, você pode ouvir os dois episódios sobre Marighella: “A intensa saga de Carlos Marighella” #Parte 1 e #Parte 2.