Vladimir Putin usou argumento, entre outros, para justificar a invasão no país vizinho
Entre as alegações de Vladimir Putin durante o discurso que estreou a ofensiva da Rússia contra a Ucrânia, uma se destacou: acabar com o nazismo no país.
Embora o governo ucraniano tenha um regime democrático e um líder, Volodmir Zelenski, descendente de judeu, é preciso reconhecer a presença de milícias neonazistas na região e entender a história que há por trás dela.
Quando foi deflagrada a Operação Barbrossa, a invasão da URSS pela Alemanha nazista em 22 de junho de 1941, vários ucranianos viram com bons olhos o avanço da força armada de Hitler.
Diante de séculos de dominação estrangeira, e sendo o Holodomor (a grande fome na Ucrânia causada pela política de Stalin) algo ainda recente, pensaram que os germânicos podiam ser seus libertadores do jugo soviético.
Um grupo em especial, a Organização dos Nacionalistas Ucranianos, fortemente antissemita, viu que poderia se beneficiar com aquilo e seu líder, Stepan Bandera, recebeu, em suas palavras, “de bom grado a nova ordem da Europa contra a dominação bolchevique”.
Os nacionalistas esperavam que os alemães os alçassem ao poder igual haviam feito com os partidos fascistas da Hungria e da Romênia, onde, por meio de líderes fantoches, Berlim exercia seu poder.
Ocorre que, além do antissemitismo do Terceiro Reich, os nazistas viam os eslavos como povos inferiores e, ao contrário do que esperavam os ucranianos, os novos ocupantes se mostraram piores do que os soviéticos.
O próprio Bandera foi enviado para um campo de concentração e a organização desmantelada. Entretanto, alguns de seus membros, vistos como “mais arianos” pelos alemães, chegaram a combater ao lado das SS. Com o fim da guerra, os soviéticos criminalizaram os nacionalistas.
O movimento, porém, foi absolvido em 2019. Além disso, desde 2013, com o ressurgimento do nacionalismo ucraniano, uma ala (principalmente o Grupo Azov) passou a se declarar abertamente neonazista.
Em 2014, o grupo foi reconhecido pelo Ministério do Interior da Ucrânia como uma unidade paramilitar e autorizada a atuar em zonas de combate no leste do país. Além do braço armado também formam um partido político e recrutam estrangeiros para suas fileiras.
Ricardo Lobato é Sociólogo e Mestre em economia pela UNB, Oficial da Reserva do Exército brasileiro e Consultor-chefe de Política e estratégia da Equibrium — Consultoria, Assessoria e Pesquisa.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Aventuras na História.