Mestres em química, antigos egípcios sabiam quais ingredientes era ideais para impedir a decomposição da carne
Os processos de mumificação no Egito Antigo ajudaram na preservação das múmias por milhares de anos — muitas das quais mantém suas características faciais distinguíveis até os dias atuais.
Entretanto, só agora que pesquisadores descobriram detalhes do processo de embalsamento através do estudo de 31 vasos antigos encontrados em Saqqara, sítio arqueológico egípcio usado para enterros. Os itens, descobertos em 2016, datam de mais de 3,6 mil anos.
A pesquisa, divulgada na revista científica Nature, revela que antigos egípcios eram mestres em química e sabiam exatamente quais ingredientes eram necessários para impedir a decomposição da carne.
A receita recém-descoberta da mumificação incluía elementos como resina de árvore, zimbro e até cera de abelha. Alguns destes produtos, aliás, eram importados do sudoeste da Ásia e tinham importantes propriedades antibacterianas, repercute o Daily Mail.
Os vasos, que datam de 664 a.C., continham inscrições com instruções de uso, como: “colocar na cabeça” ou “usar para enfaixar”. Os recipientes também possuíam os nomes de tais substâncias e até mesmo restos de resíduos delas.
Isso permitiu que a equipe entendesse, pela primeira vez, quais produtos químicos eram usados durante a mumificação e como eram misturados, nomeados e aplicados.
Um exemplo disso foram as três misturas diferentes que incluíam substâncias como resina de elemi, resina de árvore de pistacia, cera de abelha e subprodutos de zimbro, que eram usados especificamente para embalsamar a cabeça.
Outras misturas também eram usadas para lavar o corpo ou deixar a pele mais macia antes da colocação das bandagens. Philipp Sockhammer, arqueólogo da Universidade de Munique, que participou do estudo, conta que esses “ingredientes foram importados de regiões do Mediterrâneo, da África tropical e do sudeste da Ásia”.
Maxime Rageot, da Universidade de Tubinga (Alemanha), que também colaborou com a pesquisa, afirmou ainda que "provavelmente, a mumificação egípcia teve um papel importante no nascimento das primeiras redes de comércio globais".
Rageot ainda explica que durante o processo de embalsamento, os egípcios antigos usavam “algumas substâncias que podem ser importantes tanto para propriedades antifúngicas quanto antimicrobianas”.
Elas eram úteis, por exemplo, para preservar o tecido humano e reduzir alguns odores desagradáveis”, aponta. “Materiais como betume e cera de abelha também podem ser usados para selar os poros da pele e reduzir a umidade”.
A primeira parte do processo de mumificação, que durava cerca 70 dias, envolvia a remoção dos órgãos internos do indivíduo, exceto o coração. O corpo, então, seria coberto com um tipo de sal chamado natrão para secá-lo, antes que os embalsamadores o ungissem por dentro e por fora para ajudar a preservar a pele.
Todo o processo tinha como objetivo ajudar a 'transformar' um indivíduo de um ser terreno para um ser divino e prepará-lo para a vida após a morte. "Graças a todas as inscrições nos vasos, no futuro, estaremos aptos a decifrar mais o vocabulário da antiga química egípcia que até hoje não entendíamos muito", encerrou Maxime Rageot.