Recy Taylor, uma jovem negra de 24 anos, foi vítima de abuso sexual coletivo durante a época da segregação racial nos EUA
Há mais de sete décadas, um crime brutal cometido contra uma jovem mulher negra foi ignorado pelas autoridades do estado norte-americano do Alabama.
Recy Taylor tinha 24 anos quando foi estuprada por um grupo de seis homens brancos, os quais ficaram impunes, mesmo com uma grande mobilização organizada por ativistas.
Era ano de 1944 e os Estados Unidos viviam um período de forte segregação racial prevista por lei. A discriminação, portanto, era regra, o que resultou em inúmeras injustiças contras pessoas negras, como foi o caso de Recy.
Taylor saía da igreja junto ao filho pequeno, no dia 3 de setembro de 1944, quando foi abordada por sete homens armados que estavam dentro de um carro.
Os criminosos a sequestraram e a levaram para um matagal, onde seis deles cometeram abuso.
Após o episódio de violência, a jovem foi capaz de identificar o veículo de seus agressores e decidiu realizar uma denúncia. Na época, o motorista e único do grupo que não participou do estupro coletivo, Hugo Wilson, chegou a ser chamado para depor. Ele delatou os outros seis homens e, no fim, ele somente teve de pagar 250 dólares de multa como "punição".
O caso de Recy ganhou grande repercussão entre pessoas pertencentes à comunidade negra, na época, tanto que a jovem foi amparada pela Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor.
Ela chegou a ser defendia pela grande ativista Rosa Parks, uma das mais notáveis personalidades que lutaram pelos direitos dos negros nos EUA, no século 20.
O caso ganhou destaque com a mobilização, de modo que os criminosos foram levados a julgamento. Contudo, o juri alegou que não havia provas suficientes para incriminar o grupo, composto apenas por homens brancos.
No ano seguinte, um dos agressores, Joe Culpepper, confessou o crime. Entretanto, como os outros acusados afirmaram terem tido relação sexual consensual com a mulher, chamando-a de prostituta, o juri novamente os inocentou.
Somente no ano de 2011 o governo do Alabama decidiu realizar um pedido de desculpas oficial a Recy Taylor. No texto, o Estado reconheceu ter falhado em relação ao caso.
Mais tarde, em 2017, foi lançado um documentário sobre a luta de Recy por justiça. Ela faleceu pouco tempo depois, no dia 28 de dezembro daquele ano, pouco antes de seu 98º aniversário. A produção, intitulada “The Rape of Recy Taylor” (“O Estupro de Recy Taylor”), foi premiada no Festival de Veneza.