Em 1996, uma expedição causou polêmica ao remover um pedaço do Titanic do fundo do oceano
Uma das maiores questões que permeiam o naufrágio mais famoso de todos os tempos é: Por que não os destroços do Titanic não foram removidos do fundo do Oceano?
O RMS Titanic afundou em 15 de abril de 1912, no meio do Oceano Atlântico. Por mais que a repercussão na época tenha sido massiva, as buscas pelos destroços não foram suficientes a ponto de localizar a embarcação.
Somente no ano 1985 os destroços foram descobertos pelo oceanógrafo Robert Ballard que, em parceria com a agência nacional de oceanografia da França, a IFREMER, utilizou modernas sondas de varredura com câmeras acopladas que conseguiram identificar os destroços do navio.
Em erosão no fundo do mar, era de se esperar que o Titanic não estivesse em ótimo estado de conservação e muito menos intacto. As duas principais partes dos destroços estão cerca de 600 metros de distância uma da outra. A proa (sua parte da frente) é reconhecível, enquanto a popa (a parte de trás) em péssimo estado.
O Titanic foi encontrado 3,8 mil metros abaixo da superfície. Repousando no oceano com a falta de luz e alta pressão, é inabitável para grande parte das formas de vida. Depois de 14 anos sem visitas, foi confirmado que o navio está desaparecendo. Mas ninguém tentou recuperar os destroços do Titanic? Ou uma parte deles?
Alguns planos mirabolantes foram cogitados para retirar o Titanic do fundo do Atlântico, como enchê-lo de bolas de ping pong, ou injetar 180.000 toneladas de vaselina, como repercutido pelo site Mental Floss. Além dessas hipóteses, foi arquitetado usar meio bilhão de tonelada em nitrogênio líquido para criar uma espécie de iceberg embaixo do barco, fazendo o Titanic flutuar até a superfície. Nada foi feito.
O episódio que marcou uma grande tentativa de remover um pedaço dos destroços ocorreu em 31 de agosto de 1996. O Los Angeles Times noticiou que uma expedição comercial tentou remover do fundo do oceano uma parte da estrutura do Titanic. Se tratava da seção de aço de 15 toneladas do casco da embarcação. Vale destacar que essa seção se separou do navio após naufrágio.
A missão contou com bolsas de flutuação repletas de óleo diesel - mais leve que a água, consegue suportar a alta pressão. O New York Times relatou que em determinado momento da missão, a peça fora elevada a cerca de 60 metros abaixo da superfície do oceano.
Inicialmente, a ideia da expedição era levantar o pedaço do casco em um navio para a costa e, se tudo desse certo, para o porto de Nova York, nos Estados Unidos, assim simbolizando o final da viagem que terminou em desgraça quando o Titanic atingiu o iceberg. Já o valor da expedição, segundo a AP News, foi estipulado em US$ 5 milhões.
No entanto, o mar ficou agitado e a expedição optou por rebocar o pedaço do casco por aproximadamente 128 mil km até os Grandes Bancos, de Terra Nova. Afinal, era esperado que o mar estivesse mais tranquilo. No entanto, foi uma tentativa frustrada: o pedaço do casco se soltou do navio que o rebocava e retornou ao fundo do oceano.
Uma segunda tentativa de remover a parte do casco foi realizada em 1998. Diferente da anterior, foi bem-sucedida. Na época, a BBC internacional informou que foram necessários 40 minutos para levantar o pedaço do casco da embarcação. Embora muitos tenham celebrado o episódio, parentes de vítimas do Titanic não gostaram nada da decisão.
Isso porque, para eles, o naufrágio precisa ser visto como uma 'sepultura marítima', que deveria ser deixada em paz. Margaret Meehan, sobrinha de Violet Jessop, que sobreviveu a tragédia do Titanic, disse que a tia não teria ficado feliz com a retirada da parte do casco. "Sentimos que era a coisa errada - que era inapropriado. O naufrágio deveria ser deixado em paz", explicou ela, segundo repercutido pela BBC Internacional. "Deve ser lembrado que 1.523 pessoas morreram".
Ao mesmo tempo, a RMS Titanic Inc., empresa responsável pela retirada, foi criticada por historiadores. Para os estudiosos, a companhia 'danificou' o sítio arqueológico do Titanic e viu uma maneira de lucrar diante do sucesso que o filme de James Cameron atraiu. Dan Conlin, então curador do Museu Marítimo da Nova Escócia, representou um grupo de museus contrários a retirada do Titanic do mar.
"Eles estão removendo coisas que nenhum cientista ou arqueólogo jamais tiraria do fundo. Aquele pedaço de casco que eles arrancaram, eles o estão levando para o showbiz", explicou ele.
Após os comentários negativos, um representante da companhia defendeu a retirada do pedaço do casco do fundo do oceano. "O Titanic não revelou restos humanos em mais de 130 mergulhos por quatro organizações diferentes", disse ele. Na época, também foi informado que parte do casco e artefatos relacionados a tragédia seriam exibidos em um museu dos EUA.
Também vale lembrar que o que restou do Titanic passou a ser protegido pela Unesco em 2012. "Um século depois do naufrágio, os destroços agora estão protegidos pela Convenção da Unesco para a proteção do patrimônio cultural subaquático", informou Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura na época.
A Unesco também explicou o que mudaria com a proteção. "Até agora, o Titanic não podia ser beneficiado pela Convenção da Unesco, adotada em 2001, já que ela só pode ser aplicada aos vestígios submersos há pelo menos um século", detalhou a nota. "A partir de agora, os estados que assinam a Convenção poderão proibir a destruição, a pilhagem, a venda e a dispersão de objetos encontrados no Titanic".
Com a proteção Unesco, quaisquer objetos que fossem removidos do naufrágio poderiam ser confiscados.
"O naufrágio do Titanic está ancorado na memória da humanidade. Fico feliz que o local onde estão os destroços possa ser beneficiado pela Convenção", enfatizou a então diretora-geral da Unesco, Irina Bokova.