A rivalidade entre as nações pode ser muito mais antiga do que se imagina
Se você comemora sempre que os argentinos perdem no futebol, saiba que a rivalidade pode ter raízes bem mais antigas.
“Especialmente após o fim da Guerra do Paraguai, as tensões entre Brasil e Argentina se exacerbaram”, afirma o historiador Ricardo Salles. Segundo ele, um conflito armado entre os dois países era uma tendência forte na década de 1870, e não faltou muito para que a guerra estourasse na região.
Mesmo com a Guerra do Paraguai encerrada, demorou vários meses até que começassem a ser assinados os tratados de paz, já que a Argentina se recusava a aceitar o Paraguai como nação independente.
O Governo argentino desejava o controle do Grande Chaco, conforme determinado no Tratado da Tríplice Aliança. Por outro lado, a suspeita brasileira era de que Buenos Aires, então sob comando de Domingo Faustino Sarmiento, tentava encorajar forças paraguaias favoráveis do país, provocando um clamor nacional pela anexação da Argentina – o que desiquilibraria as forças políticas de toda a região.
Territorialmente, o Brasil já tinha garantido posse das antigas áreas em litígio, e a livre navegação no Rio Paraguai, em tratado assinado pelos dois países em 1872.
A assinatura, sem o aval argentino, foi interpretada em Buenos Aires como traição. Escrevendo ao representante argentino em Washington, Sarmiento afirmou que o acordo entre Brasil e Paraguai “levaria inevitavelmente à guerra”; no Rio de Janeiro, o Visconde de Rio Branco, então chefe do governo brasileiro, também considerava o confronto iminente.
A tensão entre brasileiros e argentinos era tanta que o Brasil manteve tropas em solo paraguaio durante seis anos após a guerra, buscando manter o país distante da “influência argentina”.
Destruída, a nação tratou de jogar com essa tensão, tentando obter vantagens de um lado e outro. Não fosse um levante federalista na província de Entre Ríos, que mantinha as tropas argentinas ocupadas desde 1870, a guerra poderia ter se concretizado.
Só em 1876 a Argentina reconheceria de fato a independência paraguaia, por meio da conferência de Buenos Aires. A assinatura do documento esfriou os ânimos, mas não acabou com as tensões; de acordo com Ricardo Salles, só no começo do século 20 a ameaça de uma nova guerra foi definitivamente afastada. A rixa ficou.
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