Pesquisas recentes revelaram que os dois esqueletos, descobertos em 2009, enterrados de mãos dadas na Itália eram de pessoas do sexo masculino
Em 2009, uma descoberta arqueológica intrigou pesquisadores. Muitos esqueletos são encontrados por especialistas ao longo dos anos, mas o caso dos restos mortais que ficaram conhecidos como Amantes de Modena era especial: eles foram enterrados de mãos dadas.
Por anos, o achado continuou como um mistério, visto que não foram realizados exames para compreender as informações essenciais e os detalhes das duas pessoas que foram encontradas sob a terra na província de Mantova, localizada ao norte da Itália. Isso mudou apenas recentemente.
Por exemplo, na época da descoberta, não foi possível identificar o sexo dos dos corpos. De acordo com os arqueólogos envolvidos, eles não obtiveram respostas sobre as características da dupla devido às más condições de armazenamento e preservação dos esqueletos, que impossibilitavam a pesquisa.
No entanto, os pesquisadores não desistiram dos restos mortais curiosos descobertos em território italiano. Anos depois, em setembro de 2019, cientistas da Universidade de Bolonha realizaram uma investigação profunda nos corpos, por meio dos avanços tecnológicos observados nos últimos tempos.
Segundo a nova pesquisa, os ossos pertenciam a duas pessoas do sexo masculino que morreram há pelo menos 1,5 mil anos, entre os séculos 4 ao 6 d.C. Portanto, enterrados com as mãos dadas, estavam dois homens anos atrás.
O importante estudo foi realizado por meio de uma análise dentária da dupla, que possibilitou que os pesquisadores identificassem uma proteína que somente está presente no organismo de indivíduos do sexo masculino.
Antonino Vazzana, pesquisador da Universidade de Bolonha, explicou no período da descoberta que esse método de análise, usado na investigação dos Amantes de Modena, representa uma evolução científica no campo da arqueologia, mas também na ciência como geral.
"Essa técnica pode ser decisiva para a paleoantropologia, a bioarqueologia e até a antropologia forense em todos os casos em que o mau estado de conservação dos restos mortais ou a pouca idade dos indivíduos impossibilita determinar o sexo", explicou Vazzana, como repercutido pela Galileu em 2019.
A partir do entendimento que se tratavam de dois indivíduos do sexo masculino, surgiram novas dúvidas do motivo pelo qual eles foram enterrados dessa maneira. De acordo com o pesquisador da rede italiana RAI, Federico Lugli, a prática observada nesse caso não era comum entre os povos do período.
"Acreditamos que essa escolha simboliza uma relação particular existente entre os dois indivíduos, mas não sabemos qual tipo", disse ele. "Na antiguidade tardia, é improvável que um amor homossexual pudesse ser reconhecido tão claramente pelas pessoas que prepararam o enterro". Para o especialista as chances de a dupla ser um casal homossexual são pequenas.
“As duas pessoas são semelhantes em idade, podem ser parentes, por exemplo irmãos ou primos. Ou soldados que morreram juntos na batalha: a necrópole onde foram encontrados poderia ser um cemitério de guerra”, explicou.
O que os especialistas apontam é que os dois homens foram de fato intencionalmente enterrados de mãos dadas. Falta, no entanto, entender qual foi o motivo dessa posição específica, que muda a perspectiva de pesquisadores sobre práticas funerárias antigas na Itália.
"No passado, várias sepulturas foram encontradas com pares de indivíduos colocados de mãos dadas, mas em todos os casos era um homem e uma mulher. Qual era a ligação entre os dois indivíduos do enterro de Modenês, no entanto, permanece por enquanto um mistério", concluiu Lugli.