Gesso, barro e solosvulcânicos eram usadosnas construções
Cícero tinha uma casa de palha. Heitor, de madeira. Só Prático usou tijolo e cimento em sua construção. E ela foi a única que resistiu ao Lobo Mau. O cimento fez toda a diferença em Os Três Porquinhos – por causa dele, a vida dos bichos foi salva.
Esse pó que conhecemos hoje, formado por substâncias calcárias e argilosas e feito em forno a 1 500 graus Celsius, no entanto, é uma invenção bastante recente – só surgiu no século 19. Mas ligas usadas para grudar outros materiais são bem mais antigas. Quando o homem começou a construir, entre os períodos Paleolítico e Neolítico, há 15 mil anos, usava apenas pedras encaixadas, numa espécie de mosaico, madeira ou adobe (um tijolo de barro seco ao sol). Cerca de 5 mil anos depois, porém, o crescente sedentarismo exigia edificações melhores. Foi quando se descobriu um pó ligante conseguido com o aquecimento de pedras de calcário e gesso.
A Antiguidade trouxe mais alternativas, como o betume (um tipo de asfalto), que, segundo o historiador grego Heródoto (484-425 a.C.), foi aplicado nos jardins suspensos da Babilônia. Os romanos, mais tarde, descobriram a pozzolana, encontrada na região de Pozzuoli e usada, por exemplo, no Coliseu. “Típica dos arredores de vulcões, eram cinzas que, misturadas à cal, ficavam parecidas com cimento”, diz Sérgio Nappi, professor de Arquitetura da Universidade Federal de Santa Catarina. Sim, já havia cal naquela época, obtida com o aquecimento do calcário.
Os romanos não pararam por aí. No século 2 descobriram o opus caementicum, argamassa à base de mármore, tijolo e rochas vulcânicas, e construíram o Panteão. As pesquisas importantes ressurgiram apenas no século 18 – como as de John Smeaton, para reconstruir o farol de Eddystone, na Inglaterra. Ele descobriu uma massa resistente aquecendo a até 800 graus Celsius calcários moles e argilosos. Mas só em 1824 o inglês Joseph Aspdin aumentou ainda mais a temperatura do seu forno e, ao juntar calcário e argila em pó, obteve uma nova mistura que, depois de adicionada à água e deixada para secar, ficava dura como pedra. Era o cimento portland que conhecemos hoje – batizado assim pela semelhança com as pedras da ilha de Portland, na Inglaterra.