O professor universitário enxerga mais prejuízos do que benefícios no hábito de tomar banho
Larissa Lopes, com supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 24/02/2021, às 09h38
Tomar banho é um hábito diário, que chega a ser quase involuntário — pelo menos no Brasil. Os índigenas brasileiros são os responsáveis por instalar esse costume, já que entravam no rio para se banhar inúmeras vezes por dia.
Os portugueses se assustaram com o hábito, e Pero Vaz de Caminha chegou a registrar: “São tão limpos e tão gordos e tão formosos que não podem ser mais”. Os membros da corte resistiram bastante a se banhar dessa forma, pois eram acostumados a passar meses sem nem trocar a camisa.
Hoje, ao ouvir que alguém não toma banho é possível avistar reações de nojo e repulsa. Mas é real: o professor universitário James Hamblin não entra no chuveiro há um bom tempo.
O médico e jornalista tem 38 anos e trabalha na Escola de Saúde Pública da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, uma das instituições mais renomadas do mundo.
Conforme divulgado pela BBC em matéria de dezembro de 2020, quando James completou 5 anos sem tomar banho, sua decisão veio do desejo de comprovar uma teoria.
Para ele, tomar muitos banhos — em dias consecutivos, por exemplo — pode desequilibrar a pele e também estimular “micróbios que produzem odor”. As afirmações de Hamblin vão na contramão do que diz o senso comum.
“[Depois de um tempo sem tomar banho] seu ecossistema chega a um estado estável e você para de cheirar mal”, afirmou o professor, em entrevista à BBC. E completou: “Você não cheira a água de rosas [...] mas tem um cheiro neutro”.
Pandemia
Com a pandemia da Covid-19, as pessoas têm lavado mais a mão e o corpo, a fim de evitar a disseminação do vírus e também a própria contaminação. Em relação a isso, Hamblin defendeu que somente as mãos precisam ser lavadas várias vezes ao dia.
“Os micróbios são tão importantes para a aparência e a saúde da pele quanto a microbiota intestinal [flora intestinal] é para o sistema digestivo”, definiu Hamblin.
Todo esse tempo sem tomar banho resultou na publicação da obra ‘Clean: The New Science of Skin and the Beauty of Doing Less’, em tradução para o português, ‘Limpo: a nova ciência da pele e a beleza de fazer menos’. Lançado em 2020, foi eleito o melhor livro do ano pela Vanity Fair e pela National Public Radio (NPR).
Processo
James Hamblin revelou também que conhece outras pessoas que não tomam banho — por opção própria. O estudioso não interrompeu o hábito do nada, mas sim num processo gradativo.
Primeiro, passou a usar menores quantidades de sabonete. Depois, parou de usar de shampoo e desodorante, até chegar à suspensão completa. “Houve momentos em que eu queria tomar banho, porque sentia falta, cheirava mal e parecia que minha pele estava muito oleosa. Mas isso começou a acontecer cada vez menos”, disse o professor.
Contudo, a medida não é 100% radical: “No livro, eu falo que parei de tomar banho no sentido tradicional. Eu tomo quando preciso ou quando quero, apenas com água, rapidamente”, confessou o especialista em medicina preventiva.
Para dar conta do sebo produzido naturalmente pelo corpo, ou da sujeira, ele apenas esfrega as mãos no corpo e no cabelo. Assim, ele garante que “as populações de micróbios não produzem o fedor clássico de sempre”.
“Na maior parte de nossa história, tínhamos cheiros que faziam parte de como nos comunicamos com outras pessoas. E, no último século, isso foi amplamente eliminado de nossa biologia social”, avaliou.
“Esperamos que as pessoas não tenham cheiro ou que cheirem a perfume, colônia, sabonete líquido. Caso contrário, elas cheiram mal. Se houver algum odor humano detectável, ele é sempre negativo”, completou o estudioso.
Consciência ambiental
Hamblin defende que não está pedindo às pessoas que parem de tomar banho, mas que pensem em alternativas, como reduzir o uso de shampoo, ou usar um desodorante menos agressivo.
“Você pode começar com banhos mais curtos, menos frequentes, mais frios, com menos sabão. Não precisa ser nada dramático”, ressaltou.
Além disso, o professor é centrado em outras reflexões — ambiental e econômica. “Passamos dois anos inteiros de nossas vidas tomando banho. Quanto desse tempo, dinheiro e água é desperdício?”, concluiu.
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