Coliseu de Roma foi palco de sangrentas batalhas, inclusive entre gladiadores e animais selvagens, mas como essas feras eram levadas até lá?
Fabio Previdelli Publicado em 16/11/2024, às 12h00 - Atualizado às 13h54
Na última quinta-feira, 14, Gladiador 2 chegou aos cinemas brasileiros. O filme épico de Ridley Scott se passa cerca de duas décadas depois do longa clássico estrelado por Russel Crowe no ano 2000 — quando deu vida ao general romano Maximus.
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Agora, a história gira em torno de seu filho, Lucius, interpretado por Paul Mescal; que enfrenta desafios políticos e pessoais, se tornando figura importante nas lutas em torno do poder pelo império romano.
Além de sua narrativa que prende a atenção do público, Gladiador 2 se destaca pelas sangrentas batalhas que acontecem no Coliseu de Roma — onde gladiadores participam de lutas de vida ou morte contra outros combatentes, ou até mesmo contra animais selvagens.
Na Roma antiga a presença dessas bestas eram comuns durante os jogos romanos. Uma forma de demonstrar poder e símbolo de como Roma tinha a capacidade de dominar até mesmo as criaturas mais temidas. Mas como essas feras eram levadas até o Coliseu?
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Para alimentar o Coliseu de Roma com combates épicos, animais exóticos eram capturados da África e da Ásia. A responsabilidade ficava por conta de unidades do exército e caçadores civis, que praticamente se tornaram desconhecidos pela história — apesar de serem tão ousados e corajosos quanto os próprios gladiadores.
Assim, grupos de homens eram enviados para selvas ou para desertos nos limites do Império Romano. Usando técnicas especiais, eles eram responsáveis por capturar leões, tigres, elefantes e rinocerontes.
Segundo o Roger Wilson, professor de arqueologia do Império Romano na Universidade da Colúmbia Britânica, esses homens eram a ponta de uma rede de empreendedores, carregadores e tratadores que transportavam animais para anfiteatros na Itália e no norte da Europa.
Isso exigiu uma enorme infraestrutura de suporte e conhecimento organizacional em uma escala de império sobre o qual surpreendentemente pouco se sabe", disse o estudioso ao The Guardian.
Estudando trilhas de ossos, mosaicos e fragmentos de registros escritos da época, Wilson chegou a conclusão de que muitos dos tigres enviados para o Coliseu, ao contrário do que se pensava, não foram capturados na Índia, mas sim na Armênia — onde foram enviados através do Egeu.
Já a África forneceu elefantes, girafas, avestruzes, leopardos e hipopótamos, enquanto do norte da Europa foram retirados ursos e javalis.
O professor aponta que a captura de feras foi uma atividade que o exército imperial via como extremamente útil para manter suas tropas ocupadas. Desta forma, muitas unidades se tornaram especialistas na prática.
Uma inscrição que remete ao século 3, um membro da 30ª legião estacionada no Reno, chamado Cessonius Ammausius, descreve a si como um "ursarius" — o que o professor traduziu como "caçador de ursos".
"Tal era a ferocidade dessas feras que sua captura exigiu habilidades especiais e a criação de um posto especial. Uma inscrição em Colônia fala da captura de 50 ursos em um período de seis meses", aponta o pesquisador.
Importante ressaltar que a captura dos animais acontecia sem dardos tranquilizantes ou o uso de lanças, visto que a intenção era capturá-los sem o risco de ferimento ou até mesmo de morte.
Um relato do século 2, de um observador grego chamado Oppian, descreve como era feito a captura de leões. Um dos métodos era cercar um fosso como uma parede camuflada e inserir uma estaca no meio com um cordeiro em cima. Quando o leão saltava para o centro do fosso, os caçadores desciam uma gaiola.
Outra artimanha era dos caçadores se vestirem com peles de carneiros e cansarem os leões, desviando sua atenção de um caçador para outro, até que os animais caíssem de exaustão.
Ó homens muito ousados. Que façanha eles alcançam, que feito eles fazem - eles carregam aquele grande monstro como uma ovelha domesticada", Oppian se impressiona.
Já leopardos eram perseguidos com tochas acesas e elefantes eram atraídos para fossos. Um artista chamado Pasiteles foi registrado sendo comido por um leopardo fugitivo enquanto desenhava um leão enjaulado em um cais.
Enviados para dentro das arenas, os animais eram colocados em combate contra outras feras, contra lutadores humanos (conhecidos como venatores), ou usados para executar criminosos amarrados a carroças.
Segundo relata o The Guardian, estima-se que mais de 5.000 animais teriam sido abatidos durante os jogos inaugurais do Coliseu em 80 d.C. O professor Roger Wilson disse que é um mistério duradouro o que aconteceu com seus restos mortais.
Escavações ao lado de um anfiteatro, em Trier, sugerem que, em alguns casos, suas carcaças eram jogadas em fossos com os corpos de humanos mortos no Coliseu.
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