Soldados alemães próximos a um tanque americano desativado na Batalha das Ardenas - Getty Images
Segunda Guerra Mundial

A Batalha das Ardenas: Conheça a última ofensiva de Hitler na guerra

Travada no fim de 1944, a Batalha das Ardenas foi a última grande contraofensiva alemã e marcou um momento decisivo da Segunda Guerra Mundial

Ricardo Lobato Publicado em 12/01/2025, às 12h00

Em dezembro de 1944, mesmo pressionado pelos soviéticos no leste e pelos Aliados ocidentais no oeste, Adolf Hitler ainda acreditava ser possível retomar a iniciativa e garantir a vitória na Segunda Guerra Mundial. Com isso — e com a ideia de repetir o sucesso da estratégia Blitzkrieg (“guerra-relâmpago”, em alemão), que varrera a Europa entre 1939 e 1941, o ditador lançou um último e derradeiro ataque, que selaria de vez o fatídico destino da Alemanha no conflito mundial: a ofensiva das Ardenas, ocorrida numa floresta congelante no leste da Bélgica.

“Eu era de Buffalo (do norte dos Estados Unidos), pensava que conhecia o frio, mas, na verdade, não sabia o que era até a Batalha das Ardenas”, afirmou o jogador de baseball Warren Spahn, que deixou a vida civil de lado para lutar na guerra, sobre um dos mais mortíferos embates de todo o conflito — e gelado também. Naquele inverno, a Europa chegou a uma temperatura de quase −30 °C, tornando as condições no campo de batalha ainda piores. Neste clima subártico e diante da derrota iminente, o que fez o Führer nazista arquitetar a grande ofensiva há 80 anos? Entenda!

Comboio de tanques durante a Batalha das Ardenas, em janeiro de 1945 / Crédito: Getty Images

 

Guerra total x rendição

Desde 1943, após a vitória soviética em Stalingrado e em Kursk, e com a derrota na campanha norte-africana e consequente invasão da Itália pelos Aliados ocidentais, o alto-comando militar alemão (OKW, na sigla original) sabia já não ser mais possível ganhar a guerra. A grande dúvida dos líderes nazistas, que não pretendiam simplesmente baixar as armas para os Aliados, era “quando” chegaria a derrota definitiva. A maior prova de que tinham pleno conhecimento de que o fim estava próximo é o discurso do ministro da Propaganda do Reich, Joseph Goebbels, no Sportpalast (Palácio de Esportes) de Berlim, ocorrido em 18 de fevereiro de 1943, poucos dias após a derrota de Stalingrado. Nele, o nazista pergunta ao povo alemão se queriam a “guerra total”. Os presentes — uma audiência fanática selecionada a dedo pelo próprio Goebbels — respondem um entusiástico “sim!”, prova de que estavam preparados para tudo.

No fim daquele ano, “os três grandes”, Winston Churchill, Franklin Roosevelt e Josef Stalin, respectivamente líderes do Reino Unido, EUA e União Soviética, se reuniram presencialmente pela primeira vez, em Teerã, no Irã, para decidir o futuro do conflito e, levando em conta o caminho escolhido pelos nazistas, ratificaram que não aceitariam nada mais que “a rendição incondicional” das potências do Eixo, especialmente da Alemanha e do Japão.

Josef Stalin, Franklin Roosevelt e Winston Churchill, respectivamente / Crédito: Getty Images

 

A decisão veio justamente para mostrar que, mesmo com princípios e sistemas diferentes, estavam todos unidos por uma causa comum: derrotar a ideologia fascista e militarista que levara ao conflito. E assim foi.

Churchill e Roosevelt prometeram a Stalin a abertura de uma nova frente de combate na França, o que aliviaria o peso do Exército Vermelho no leste e, em contrapartida, o líder soviético concordou em se juntar à guerra contra o Japão. Logo, os três incumbiram seus generais de esboçar os planos de batalha. Da mesa em Teerã, o resultado mais imediato foi o Dia D, que resultou na conquista de parte da Normandia, no norte da França, em 6 de junho de 1944. A guerra voltava de vez à Europa, com o objetivo de tomar a Alemanha, percorrendo um longo caminho pelos portos até Berlim, especialmente os de águas profundas.

De Cherbourg a Antuérpia

A Segunda Guerra foi um embate de escala, essencialmente de números, muitos números. Se uma viagem familiar demanda planejamento e recursos, imagine as cifras envolvidas em um conflito global. Para abastecer exércitos de milhões de homens, a logística era parte primordial da campanha. Por isso, quando os Aliados dominaram as praias do Dia D, logo se encarregaram de avançar para tomar o porto de Cherbourg, o maior ancoradouro artificial do mundo e extremamente útil para trazer os recursos que permitiriam às tropas seguirem avançando pelo interior francês até a fronteira alemã.

Apesar dos pesados embates da campanha, que se arrastaria ainda por quase três meses, os Aliados conseguiram invadir a Bélgica e tomar quase toda a França. Isso foi essencial para a conquista de outro grande porto, o de Antuérpia, perto o suficiente da Alemanha, permitindo uma linha direta de suprimentos no momento em que fossem realizar o assalto no coração do III Reich. Porém, como Antuérpia é um estuário banhado pelo Rio Escalda, controlado em boa parte pelos alemães, as forças das Nações Unidas só conseguiram estabelecer um acesso direto desde o Mar do Norte no final de novembro, quando derrotaram as últimas defesas germânicas. Além disso, depois do insucesso da Operação Market Garden, que falhou em garantir o acesso às pontes holandesas que ligavam o país à Alemanha, os Aliados precisavam reunir mais suprimentos antes de uma nova grande ofensiva.

Fotografia de combatentes americanos durante a Batalha das Ardenas / Crédito: Getty Images

 

Com as tropas esgotadas após seis meses de intensos combates, e com a previsão do tempo indicando o gélido inverno que vinha pela frente, o general Dwight D. Eisenhower, o Comandante Supremo dos Aliados na Europa, decidiu que os próximos avanços deveriam ser feitos apenas em março de 1945, tão logo o tempo melhorasse. Enquanto reuniam os recursos necessários para retomar o ataque, aproveitariam para descansar e consolidar a posição. Para Ike, o apelido que Eisenhower ganhou dos soldados, aquele poderia ser um Natal calmo, mas os alemães tinham outros planos.

Desespero, loucura e surpresa

Se os Aliados estavam preocupados com suas linhas de suprimentos, o que dizer da Alemanha? Praticamente isolada, e vendo seus “colaboradores” europeus caírem um a um, mais que o impacto moral, foi o impacto na quantidade de recursos que recebia. Quando a Romênia mudou de lado (entre agosto e setembro de 1944), os alemães perderam sua preciosa (e vital) fonte de petróleo. Há relatos de que quando Hitler soube da deserção romena, expressou, pela primeira vez, o receio de que a guerra estivesse perdida.

Em meio ao desespero, e já completamente fora de si, o nazista, que sempre foi controlador, decidiu que era hora de “tomar as rédeas” da situação e atacar. Além de se ver pressionado pelos Aliados — tanto os ocidentais quanto os soviéticos —, a situação em casa também não era favorável ao ditador. Cerca de dois meses antes, o Führer havia sobrevivido a uma tentativa de assassinato orquestrada por oficiais do próprio Exército alemão. Como o OKW estava ciente da impossibilidade de vitória, um grupo de “dissidentes” buscou remover Hitler do poder para então negociar a paz com os Aliados. O fato de ter saído praticamente ileso de um atentado a bomba alimentou não apenas seu “complexo de Messias”, de que era “o escolhido para liderar o povo alemão”, mas também sua paranoia. E como se não bastasse, naquela altura da guerra o tirano vivia à base de “suplementos diários” — basicamente cocaína e Eukodal (hoje conhecido como Oxicodona, uma droga “prima” da heroína) — aplicados por seu médico pessoal, Theodor Morell.

Neste cenário perturbador, Hitler concebeu o plano para “virar os ventos da guerra em favor da Germânia”. Batizado como Operação Vigília sobre o Reno, o Grupo de Exércitos B, do marechal Walter Model, deveria usar a maior parte das Divisões Panzer (blindadas) que ainda restava à Alemanha e atacar as linhas norte-americanas na Floresta das Ardenas. A escolha do lugar não foi em vão. A região da mata era defendida por tropas secundárias e com pouca experiência de combate. Os alemães buscavam subjugar esses soldados de forma rápida e aproveitar que a região é um cruzamento de estradas e ferrovias para ter uma rota direta ao norte e recuperar o porto de Antuérpia.

Além disso, Führer queria repetir a surpresa que reprimiu os Aliados em 1940. Em sua marcha para tomar Paris, a Wehrmacht (Forças Armadas da Alemanha) atravessou a densa vegetação das Ardenas e emboscou os ingleses e franceses. A diferença é que agora não apenas passariam pela floresta, mas lutariam nela.

Soldados americanos e o corpo de um soldado alemão durante a Batalha das Ardenas, em dezembro de 1944 / Crédito: Getty Images

 

As três tropas do Grupo de Exércitos B deveriam atacar simultaneamente, com o 6º Exército Panzer (das infames divisões blindadas da SS) realizando o ataque principal; enquanto o 5º Exército Panzer atacaria pelo sul. Ao mesmo tempo, completando a ofensiva e protegendo o flanco do 5º, viria o 7º Exército lançando cargas de infantaria. Hitler imaginava que, com a violência do ataque, e pegos de surpresa, os Aliados recuariam e a Antuérpia cairia em até três dias. Vale ressaltar que Model e seus comandantes, incluindo o chefe das tropas alemãs no oeste, marechal Gerd von Rundstedt, foram informados do plano apenas no final de outubro, tendo pouca ou nenhuma participação na elaboração. Hitler os queria apenas na execução. Mesmo relutantes e sabendo do risco que corriam — em uma das abas se lia que “o mau tempo é essencial para o sucesso da operação” —, os generais obedeceram ao líder.

Depois do atentado fracassado de julho, o OKW passou por um expurgo e os militares que restaram não desejavam desagradar ao Führer. Tudo que Model e von Rundstedt conseguiram foi adiar o início da ofensiva, inicialmente prevista para novembro, de modo a reunirem mais homens e suprimentos. Em 16 de dezembro de 1944, os alemães lançaram, pela última vez na Segunda Guerra, uma barragem de artilharia. Quando as baterias de canhões cessaram, os panzers avançaram de todas as direções, sendo seguidos pela infantaria. Era o início da batalha.

Front em forma de bulge

Na literatura militar norte-americana, a Batalha das Ardenas é mais conhecida como Batalha do Bulge. Em uma tradução literal, “bulge” é um “bolsão”, uma “protuberância”. O conflito passou a ser chamado assim pelos soldados e, depois, pela imprensa Aliada porque o formato da linha de frente alemã parecia uma “grande protuberância se alargando”, como disse um jornal da época.

Fotografias de soldados americanos durante a Batalha das Ardenas / Crédito: Getty Images

 

Totalmente surpreendidas pelos fogos da artilharia nazista, com duração de uns 90 minutos, e seguidas por colunas e mais colunas de panzers do 6º Exército, as tropas dos EUA se viram tomadas pelo pânico e pela confusão — contribuindo ainda mais para o avanço do inimigo. Defendida pelo 1º Exército, composto por veteranos cansados dos recentes combates na Floresta de Hürtgen, um pouco mais ao norte, e por “substitutos” (as tropas mais jovens e sem experiência de combate), a linha de frente estava ali justamente por ser considerada um setor “calmo” pelos norte-americanos. “Havia indícios de que um ataque poderia acontecer, mas a inteligência Aliada os descartou, acreditando que, após o desgaste dos seis meses anteriores, os alemães não eram mais capazes de uma ofensiva”, afirmou o historiador militar Richard Holmes no livro World War II: The Definitive Visual Guide (“Segunda Guerra Mundial: O Guia Visual Definitivo”, em tradução livre).

Com os rápidos avanços iniciais, até os generais começaram a se empolgar. A favor deles, aliás, estava o clima. Diante daquele mau tempo, ingleses e norte-americanos não puderam contar com sua superioridade aérea para contra-atacar. Em qualquer conflito, o domínio do céu é essencial para permitir o avanço terrestre. Os alemães não mais detinham poder aéreo relevante, mas, com o céu encoberto por pelo menos dez dias, as condições estavam, por ora, igualadas. Já do lado Aliado, a confusão era tão grande que, entre as 5h30 da manhã, quando começou a ofensiva, até o momento em que o alto-comando norte-americano soube da situação, dez horas já haviam se passado.

Além de terem de lidar com levas e mais levas de tropas que “saíram sabe-se lá de onde”, como descreveu um soldado estadunidense, o general Omar Bradley, comandante do 12º Grupo de Exército dos EUA — ao qual o 1º Exército na linha de frente estava subordinado — não se encontrava em seu Quartel-General (QG). Bradley aproveitava a aparente calmaria para ir a Versalhes, nas cercanias de Paris, sede do Supremo Comando Aliado (SHAEF, na sigla original), para visitar Ike, recém-promovido à 5ª estrela (marechal). Sua ausência no front foi uma desvantagem aos Aliados, mas pode-se dizer que ela também provocou uma vantagem, pois foi graças à presença de Ike ao seu lado que os soldados conseguiram melhor se posicionar. De início, Bradley imaginou que se tratava de um ataque localizado. Ike pensou o contrário. Para ele, naquela altura da guerra, pressionados por todos os lados e sem poder desperdiçar os já escassos recursos, a Wehrmacht não iria lançar uma pequena ofensiva: algo maior estava por trás. Não fosse a perspicácia de Ike Eisenhower, o plano de Hitler — apesar das falhas — poderia ter dado certo. O rápido avanço alemão fazia parecer que a máquina de guerra que varrera a Europa nos anos anteriores havia se reerguido.

Soldados alemães durante a Batalha das Ardenas / Crédito: Getty Images

 

Velocidade, crueldade e sabotagem

Nos primeiros dias, a sorte aparentava estar do lado germânico. A fúria com que os alemães combatiam e progrediam espantava até os veteranos norte-americanos mais experientes. No entanto, essa velocidade não era fruto de um planejamento metódico, e sim da necessidade. As ordens de batalha dos alemães não deixavam dúvidas da incapacidade estratégica do Führer. Exemplo disso era a determinação de que seus homens tivessem de capturar os depósitos de combustível dos Aliados para seguirem avançando até a Antuérpia. A todo custo.

Mesmo progredindo, a pressão em uma tropa com pouco ou nenhum respeito pelo inimigo resultou em episódios de horror, como o Massacre de Malmedy. Nesta pacata vila belga, soldados do coronel da SS Joachim Peiper, um nazista fanático e ex-ajudante de ordens do todo-poderoso Heinrich Himmler, fuzilaram 125 norte-americanos (para eles, fazer prisioneiros retardaria o avanço). E por deixaram um rastro de destruição que se estendia das estepes russas até os Apeninos italianos e, principalmente, pela prática de queimar vilarejos com seus habitantes trancados em casas e igrejas, os homens de Peiper foram apelidados de “batalhão maçarico”. Quando os reforços dos EUA chegaram, encontraram 84 cadáveres, alguns congelados com as mãos levantadas, indicando que estavam rendidos.

A notícia de que os alemães não estavam fazendo prisioneiros se espalhou pelas linhas Aliadas e acabou servindo para impulsionar o moral dos soldados até então abatidos. Atrás das linhas Aliadas, aliás, outro episódio nazista envolveu a SS nesta batalha: sob as ordens de Otto Skorzeny, “o comando favorito de Hitler”, forças especiais se infiltraram, causando pânico e desordem.

Soldados americanos durante a Batalha das Ardenas e oficiais alemães envolvidos no conflito / Crédito: Getty Images

 

Lendas de Bastogne

Em 20 de dezembro, os alemães cercaram o município de Bastogne, na fronteira entre Bélgica e Luxemburgo, um entroncamento ferroviário essencial para o pretensioso avanço ao norte. Defendida pela 101ª Divisão Aerotransportada dos EUA, a cidade era notória pelos seus feitos na Campanha da Normandia e na Operação Market Garden, e suas tropas, mesmo superadas pelo inimigo, com pouca munição, sem roupas de frio e sem apoio aéreo, estavam determinadas a não se render e a manter a posição. Assim, duas histórias sobre paraquedistas das Forças Armadas (ou lendas de guerra) surgiram no lugar.

A primeira, retratada na minissérie Irmãos de Guerra, disponível na HBO Max, entre outros streamings, é a resposta do então capitão da 101ª, Richard “Dick” Winters, a um tenente que trazia aos paraquedistas não só os poucos suprimentos que o QG norte-americano mais próximo possuía, mas também a notícia de que os alemães os cercariam em breve. Em tom educado e sorriso no rosto, o capitão deu a réplica: “somos paraquedistas, tenente. Estamos acostumados a estar cercados”. Ambos riram e, na sequência, Winters se juntou aos homens que entravam na floresta.

A segunda lenda ocorreu dois dias depois, quando os paraquedistas já estavam cercados. O general alemão Heinrich Freiherr von Lüttwitz apresentou ao comandante da 101ª, general Anthony McAuliffe, uma proposta de rendição. Indignado, ele teria respondido: “NUTS!” (“loucos!”, em tradução livre), despertando a ira dos alemães. Animados com a resposta simples, direta e enérgica, os homens do general passaram a chamá-lo de Anthony “Nuts” McAuliffe. Para corroborar a lenda do dia 22 de dezembro, um acontecimento, descrito pela historiografia militar norte-americana como “fruto da providência divina”, ocorreu no cair da noite: o mau tempo se dissipou. E sem a neblina pesada, essencial aos nazistas por impedir a cobertura aérea dos Aliados, os aviões decolaram e bombardearam as fileiras de tanques e suprimentos do inimigo. Era o ponto de virada da batalha.

Fotografia tirada em meio à Batalha das Ardenas / Crédito: Getty Images

 

O fim do sonho alemão

Com a supremacia aérea reestabelecida, as tropas sitiadas começaram a receber suprimentos de paraquedas, elevando o moral e, finalmente, atacando as linhas alemãs dia após dia. Em 24 de dezembro, na véspera de Natal, os nazistas chegaram ao município Celles, o ponto mais distante da ofensiva e a menos de 100 km de Antuérpia, mas foram detidos por reforços norte-americanos que vinham de todos os lados. No dia 26, o 3º Exército do general George Patton avançou pelo sul e rompeu o cerco, liberando os paraquedistas de Bastogne — que, felizes, mas mantendo a fama de durões, nunca admitiram que foram salvos, mas protegidos. Seja como for, o contra-ataque norte-americano era uma realidade e os números era a prova de uma Alemanha derrotada.

A última grande ofensiva do Reich havia acabado de forma melancólica. Além das pilhas de equipamentos militares que deixaram pelo caminho pela falta de insumos e reparos, os nazistas também tiveram enormes quantidades de materiais destruídos — desses que não podiam se dar ao luxo de perder. Talvez, a imagem mais marcante do fracasso da operação seja a de soldados alemães, agora sem combustível, sendo forçados a abandonar e destruir os próprios panzers, marchando a pé de volta para casa. Por ironia do destino ou não, os mesmos que dez dias antes avançavam com seus blindados pela densa vegetação da floresta, deveriam se preparar para defender a “grande pátria”.

Em 1º de janeiro de 1945, numa tentativa desesperada de mostrar força, a Luftwaffe (Força Aérea Alemã) atacou 127 aeródromos ingleses, canadenses e norte-americanos. Conseguiram destruir 156 aeronaves, mas perderam mais de 300. A diferença é que os Aliados possuíam muitas mais e os alemães, não. E aqui já não há mais mistérios: o azar de uns é a sorte de outros.

Se entre 26 de dezembro e 2 de janeiro os norte-americanos estavam preocupados em salvar seus homens e retomar o controle de toda a linha de frente, passaram a ver o caos e a desordem se instalando nas linhas alemãs enquanto recuavam. Os planos mudaram: de 3 de janeiro a 7 de fevereiro, os Aliados foram do contra-ataque para a ofensiva em massa.

Aproveitando-se da grande concentração de tropas que tinham na linha de frente, fecharam as pinças, com o 1º Exército atacando pelo norte e o 3º Exército pelo sul, empurrando os alemães até o Rio Reno, a primeira barreira natural dentro de seu território. Hitler, além de ter de admitir que seu plano fracassara, ordenando que suas tropas recuassem para não serem completamente cercadas, ainda se viu pressionado pelos soviéticos no leste. Como os alemães estavam focados na frente ocidental, os russos lançaram em 12 de janeiro a ofensiva do Vístula-Oder. Avançando pela Polônia e adentrando a Prússia Oriental, os soviéticos haviam, finalmente, penetrado as fronteiras do Reich.

Soldados da SS envolvidos na Batalha das Ardenas após serem capturados / Crédito: Getty Images

 

A Alemanha estava acabada e em menos de cinco meses depois da derrota na floresta, Berlim capitularia ante o avanço soviético. Ainda assim, o custo para os Aliados foi imenso. Até hoje, a Batalha das Ardenas é o episódio mais mortífero da história militar norte-americana. No total, os EUA tiveram em torno de 105 mil baixas com 19.246 mortos em combate, conforme lista o departamento do Exército Norte-Americano. Já o OKW estimou em 81.834 seu número de baixas com pouco menos de 13 mil mortos. Contudo, na medida em que os Aliados avançavam Alemanha adentro e se apossavam dos documentos do país, os números foram aumentando. Há relatórios que indicam que as baixas somam 125 mil com cerca de 24 mil mortos.

Na gélida floresta que dá nome à campanha, os alemães tentaram uma última — e desesperada — ofensiva contra os Aliados ocidentais. E oitenta anos depois de seu fim, é preciso refletir sobre as vítimas e as consequências desastrosas de decisões tomadas por líderes que não respeitam nenhum povo, condenando a própria nação, no caso, às sequelas do nazifascismo.

Leia também: Mais mortífero combate da História: Há 80 anos, a URSS vencia a Batalha de Stalingrado

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