Ilustrações antigas com povos nativos americanos e um colonizador espanhol, respectivamente - Domínio Público via Wikimedia Commons / Foto por Metropolitan Museum of Art pelo Wikimedia Commons
História

Contatos de povos amazônicos com o espanhol alterou concepção de cores, aponta estudo

Novo estudo sugere que indígenas Tsimane começaram a interpretar cores de maneira diferente após contato com o idioma espanhol; entenda!

Redação Publicado em 07/11/2023, às 08h24

A história de toda a América possui, como ponto central para a formação do que existe hoje, início de um brutal processo de exploração e colonização, que levou à morte inúmeros nativos pelas mãos dos europeus. E a partir do contato entre os europeus — espanhóis, na maior parte da América do Sul — e os povos amazônicos, por exemplo, o idioma local passou por mudanças que, segundo um novo estudo, pode ter alterado a percepção de cores de seus falantes.

Conduzido por pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, o estudo sugere que aprender uma segunda língua pode até mesmo influenciar nosso idioma materno, segundo a Revista Galileu. Com a incorporação de palavras e vocabulários diferentes, as descrições que atribuímos a, por exemplo, cores, podem ser cada vez mais aprimoradas e precisas.

A sociedade indígena Tsimane, analisada no estudo, que vive na região da Amazônia boliviana, possui o espanhol como seu segundo idioma oficial. Por conta disso, segundo novo estudo publicado no dia 31 de outubro na revista Psychological Science, esses indivíduos começaram a classificar cores, por exemplo, usando mais palavras que o usual, distinguindo cores não utilizadas em conversas dos membros que falam somente uma língua na comunidade.

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Aprender uma segunda língua permite entender esses conceitos que você não tinha em sua primeira língua", explica em comunicado o professor do MIT de ciências cerebrais e cognitivas e autor sênior do estudo, Edward Gibson.

O especialista pontua no estudo que os Tsimanes bilíngues começaram a usar seus próprios termos para nomear diferentes cores do idioma espanhol. Por exemplo, em vez de referir-se a "azul" e "verde" em espanhol, chamaram as cores por "yushñus" e "shandyes", respectivamente.

Além do mais, o estudo também descreve uma maior precisão na descrição de cores como o amarelo e o vermelho. Enquanto falantes monolíngues podem descrever as cores englobando-as em vários tons, falantes de espanhol ou inglês utilizariam somente descrições mais simples e abrangentes.

"É um ótimo exemplo de um dos principais benefícios de aprender uma segunda língua, que é abrir uma visão de mundo e conceitos diferentes que você pode então importar para sua língua nativa", afirma Saima Malik-Moraleda, principal autora do estudo.

Testes

Durante o desenvolvimento do estudo, os pesquisadores solicitaram aos indígenas Tsimane que realizassem duas tarefas: primeiro, mostraram 84 fichas com diferentes cores, e perguntaram que palavra utilizariam para descrever cada uma delas; depois, os voluntários agruparam as fichas por palavras de cores.

Os indivíduos que falavam tanto o idioma Tsimane quanto espanhol, no caso, precisaram realizar ambas as tarefas duas vezes, em cada uma das diferentes línguas. Então, os pesquisadores descobriram que, durante a tentativa no idioma de origem europeia, as fichas foram classificadas nas palavras respectivas de cores tradicionais do espanhol; porém, quando a tarefa foi realizada em Tsimane, eles foram mais precisos que os monolíngues: mesmo que a língua não distinguisse, diferenciaram o azul e o verde.

Apesar de o uso ser ainda mais restrito aos Tsimanes bilíngues, os pesquisadores acreditam que a distinção possivelmente pode se espalhar pela população monolíngue local. Ou então, outra possibilidade, é que cada vez mais indivíduos se tornem bilíngues com o tempo, graças à maior proximidade com aldeias de língua espanhola.

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