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Matérias / Brasil

Sepé Tiaraju, o chefe indígena que enfrentou portugueses e espanhóis

O cacique, que foi torturado pelos colonizadores, se tornou um mártir na luta pela terra em que nasceu

Ingredi Brunato, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 04/12/2021, às 09h00

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Ilustração representando o bravo indígena - Divulgação/ Sandro Andrade/ Fundação Callis
Ilustração representando o bravo indígena - Divulgação/ Sandro Andrade/ Fundação Callis

No ano de 2018, a Congregação da Causa dos Santos, um órgão do Vaticano, aceitou o pedido feito pela Diocese de Begé, localizada no Rio Grande do Sul, concedendo ao chefe guarani Sepé Tiajaru o título de "Servo de Deus", que é o primeiro passo da canonização, isto é, o processo pelo qual uma figura precisa passar para ser reconhecida oficialmente como "santa" pela Igreja Católica. 

O acontecimento, que carrega uma grande importância simbólica, serve para formalizar a imagem espiritual que já é acoplada ao cacique, que já é visto como santo na cultura popular gaúcha. 

Isso pois Sepé, que era um indígena cristão, tendo sido catequizado pelas missões jesuíticas, é considerado um herói da Guerra Guaranítica, em que os nativos do sul do Brasil lutaram contra as tropas de soldados portugueses e espanhóis que tentavam estabelecer seu domínio sob aquelas terras. 

A figura histórica brasileira, embora heroica, infelizmente possui um destino trágico, tendo sido tornado mártir pelo inimigo, que o submeteu a um fim doloroso.

O embate citado teve início por conta da assinatura do Tratado de Madrid, que estabelecia a fronteira entre as colônias de Portugal e as da Espanha. 

Ilustração representando Sepé / Crédito: Divulgação/ Memorial da Epopeia Riograndense

Guerra Guaranítica

O conflito que tirou a vida de Tiajaru ocorreu em 1756, ou seja, nada menos que 265 anos atrás. As forças inimigas, além de serem superiores em número, somando 4 mil combatentes, também possuíam maior poder bélico. Consciente disso, Sepé preferia lutar contra os europeus de forma indireta, através de emboscadas. 

Durante uma dessas ocasiões, no entanto, seu cavalo teria tido um fatídico tropeço que permitiu aos ibéricos alcançarem o indígena. Um soldado o atravessou com uma lança, outro decidiu torturá-lo através de queimaduras feitas com o auxílio de pólvora. O martírio apenas terminou quando eles decidiram decepar o cacique. 

Mais brutal que a morte violenta do líder indígena, contudo, foi o fato que depois dela ocorreu o maior massacre já visto pelo Rio Grande do Sul, em que um total de 1,5 mil guaranis foram assassinados pelos soldados europeus.

Episódio foi resultado de uma batalha em campo aberto, o que colocou os guerreiros guaranis em abrupta desvantagem. O equívoco, que foi cometido pelo líder guarani Nicolau Neerguiru, acabou fazendo com que o cacique comandasse seus homens até seus túmulos. 

Legado de Sepé

Estátua de Sepé Tiarajú / Crédito: Divulgação/ Los Libres/ Arquivo Pessoal

Tiajarú, além de experiente em batalha, também era um indígena letrado, de forma que seu conhecimento em múltiplas áreas agregava um grande valor para a causa guarani. 

"Ele trabalhou muito para achar uma saída de paz. Entrou em conflito com as tropas portuguesas e espanholas, tentando defender os índios para que não fossem removidos dos locais. Quiseram expulsar ele e ele acabou morto”, explicou o padre Alex, da Diocese de Bagé, em entrevista ao g1 no ano de 2018. 

No período, o homem religioso descreveu ao veículo a relevância do reconhecimento pelo Vaticano do papel cumprido por Sepé, a fim de que o cacique possa se tornar um santo 'oficial', e não apenas um 'santo popular'. 

“É muito importante este processo para toda a história do RS e também dos povos da América Latina pois é reconhecer a grande contribuição dos povos indígenas, não só do guarani. E reconhecer também a religiosidade, a fé do povo”, concluiu ele.